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24/10/2017 às 14h37min - Atualizada em 24/10/2017 às 14h37min

'Que horas ela volta?'

KELSON VENANCIO | COLUNISTA
Foto: Divulgação

 

Não foi à toa que “Que horas ela volta?” foi bastante comentado no mundo da sétima arte. A produção é realmente muito boa. Tanto que o filme foi o escolhido pelo Ministério da Cultura entre oito longas brasileiros, para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro da edição de 2016. Uma pena não ter sido indicado ao prêmio. Mesmo assim, ele foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros do ano pela organização norte-americana, National Board of Review e também eleito o melhor filme do ano pela Associação Brasileira dos Críticos de Cinema, a Abraccine.

Tudo isso foi pouco, pois o longa merecia muito mais. Conta a história da pernambucana Val (Regina Casé) que se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir a São Paulo, para fazer a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica.

Com um roteiro simples e muito comum, mas ao mesmo tempo eficaz, o filme nos mostra uma realidade que existe na casa de milhares de brasileiros: o dia-a-dia das empregadas domésticas. E talvez você esteja perguntando "mas isso é motivo pra virar o tema central de um filme?" Sim, acredite! Algo tão corriqueiro se transformou nas mãos da diretora e roteirista Anna Muylaert, que realizou um belíssimo trabalho. E talvez por se tratar de um tema comum, o filme se torna ainda mais agradável já que a maioria do público se identifica com o que vê na tela.

E quando se tem uma boa narrativa e uma ótima direção, até mesmo o trabalho de alguns atores, antes desconhecidos pelo grande público, acaba se tornando memorável. E isso acontece nitidamente com o elenco do filme. Karine Teles faz de Jéssica uma patroa que é ao mesmo tempo grata à empregada pelos serviços prestados por muitos anos, mas desconfiada e imponente. Lourenço Mutarelli nos mostra um marido carente e iludido. Helena Albergaria faz uma pequena ponta como a diarista Edna, mas se mostra eficaz no pouco que aparece. Camila Márdila tem uma ótima atuação como Jéssica, tanto que em alguns momentos a gente acredita que ela realmente é a filha da personagem principal.

Mas o grande destaque é a excelente interpretação de Regina Casé. A apresentadora do "Esquenta" faz um trabalho simplesmente perfeito. Ela se transformou e encarnou a personagem Val de uma forma brilhante e memorável, digna de ficar na história. A atriz teve um papel importante na produção já que ela conhece muito bem a realidade de diversas mulheres nordestinas que foram para São Paulo em busca de um emprego. E sem dúvida, por causa disso, se aprofundar na personagem foi algo satisfatório para ela.

Além de tudo isso, o filme nos traz várias mensagens boas e que servem de reflexão. Uma delas é que o Brasil mudou e hoje até mesmo quem antes não tinha tanto espaço no mercado, como as empregadas domésticas, podem sim sonhar e realizar estes sonhos. E outra não menos importante é que como diria a própria diretora Muylaert cuidar de crianças de outras pessoas é "trabalho sagrado que é muito subestimado".

Nota 9

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