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08/03/2022 às 08h00min - Atualizada em 08/03/2022 às 08h00min

Mulheres e Quadrinhos

CHICO DE ASSIS
Meus primeiros contatos com os Quadrinhos foram no final dos anos setenta, mas, já alfabetizado, me tornei leitor compulsivo um pouco depois. E nesse início dos anos oitenta todos os meus amigos e amigas se divertiam e adoravam ler HQs. Não havia nesse grupo uma diferenciação entre meninos e meninas em relação ao gosto por gibis. Penso que personagens como “Luluzinha” e “Mônica”, por exemplo, eram um atrativo para as leitoras. Pouco tempo depois, na pré-adolescência, ou sei lá como se chama esse momento, vimos as garotas se afastarem do nosso universo. E ele se tornou um lugar excessivamente masculino e eventualmente chato e unidimensional. Havia muitos quadrinhos de super heróis, narrativas muito óbvias, violentas e pouco interessantes para o público feminino. Eu me liguei a quadrinhos de humor como os da Mad, Chiclete com Banana e outros mais experimentais como os da revista Animal. Mas o fato é que as meninas já não estavam lá.

Em um segundo momento quando me interessei pelos Quadrinhos como uma linguagem e tive o desejo de conhecer sua trajetória, o primeiro livro sobre o assunto que consegui foi: “O Que é Histórias em Quadrinhos” da coleção Primeiros Passos de autoria da pesquisadora Sonia M.Bibe Luyten. Essa questão sobre o distanciamento das mulheres e os quadrinhos sempre ficou planando. Porque elas se desinteressaram dos quadrinhos? Ou foi o contrário? Porque os quadrinhos se desinteressaram do público feminino? Continuei procurando textos sobre o assunto até me deparar com um número da “Quadreca”, também coordenado pela Sonia, exclusivamente sobre essa questão das mulheres nos quadrinhos. Então tive vontade de pesquisar o assunto mais minuciosamente. Ao procurar uma professora e explicar minha ideia, ela me aconselhou pesquisar as fotonovelas românticas dos anos setenta. Até acho que conceitualmente uma fotonovela é de fato uma HQ, mas não consegui progredir com o diálogo. Erro meu. 

Não sei responder exatamente o porquê do afastamento do público feminino em relação aos quadrinhos naquele momento. Mas parece que pelo menos o mercado, o mainstream de super-herói americano apostou exclusivamente no leitor masculino. Azar o dele. O quadrinho Japonês talvez tenha sido bem mais habilidoso em atrair o publico feminino. E, sem juízo de valor, os Mangás oferecem narrativas muito mais interessantes para as meninas. Enquanto as Hqs de super heróis apostaram em uma representatividade feminina extremamente comercial o quadrinho japonês traz produtos que são realmente voltados para o público feminino e que soam imensamente mais adequados. Posso estar enganado, mas o que percebo disso é que o Quadrinho Japonês foi um dos responsáveis por trazer leitoras adolescentes brasileiras de volta para essa linguagem. Ponto pra eles.

E os quadrinhos brasileiros de hoje e de ontem? Onde estão as quadrinistas brasileiras nessa história? Onde estão as leitoras? Onde estão as pesquisas sobre esse assunto? Pergunte a Dani Marino e a Laluña Machado, elas podem certamente te responder. Você tem de fato curiosidade sobre essa questão? Elas têm uma publicação de 500 páginas de reflexão sobre isso, com trabalhos artísticos, com perguntas, provocações e respostas. Um livro que é de fato um grande documento.  E que não põe uma pedra sobre o assunto, mas ao contrário o desnuda.

Se você é um “misógino nerd” adorador de quadrinhos e acha esse um tema desnecessário. Se afogue em sua coleção nostálgica e burra, ou procure um terapeuta. Porque as mulheres estão aí, sempre estiveram e sempre estarão. E o mundo dos quadrinhos é bem melhor assim.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.



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