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05/09/2017 às 15h32min - Atualizada em 05/09/2017 às 15h32min

'O Menino e o Mundo'

KELSON VENÂNCIO | COLUNISTA
Foto: Divulgação

 

O cinema é capaz de nos mostrar coisas que nem imaginávamos há poucos anos. Muitas delas nem existem. São os efeitos especiais que criam um universo extremamente rico em detalhes e nos convencem de que na sétima arte, os sonhos podem se tornar realidade. E esta tecnologia cinematográfica é melhor a cada ano que passa. Um filme que hoje nos enche os olhos por causa destes efeitos, se assistido daqui uns 10 anos, pode se tornar arcaico nesse sentido.

O mesmo acontece com as animações. Os gráficos de filmes como “Toy Story” (1995), por exemplo, nos deixaram perplexos quando o filme estreou naquela época. Hoje estão ultrapassados. As animações de hoje são irretocáveis e em muitas delas os personagens parecem ser totalmente reais.

Mas e quando surge uma produção que vai na contramão dessa tendência hollywoodiana? Será que uma animação pode ser excelente sendo feita apenas com alguns rabiscos coloridos? Pois é exatamente o que acontece com o filme "O Menino e o Mundo". Feito basicamente de desenhos que parecem ter sido coloridos por uma criança de 3 anos, o longa impressiona pela simplicidade e eficácia.

Dirigido e escrito pelo brasileiro Alê Abreu, o filme conta a história do garoto Cuca que vive em um mundo distante, numa pequena aldeia no interior de seu mítico país. Certo dia, ele vê seu pai partir em busca de trabalho, embarcando em um trem rumo à desconhecida capital. As semanas que se seguem são de angústia e lembranças confusas. Até que, numa determinada noite, uma lufada de vento arromba a janela do quarto e carrega o menino para um lugar distante e mágico.

O que vem a seguir é uma narrativa inteligente, empolgante e crítica. O bom roteiro, que apesar de ser a base para a animação, é bem pesado já que mexe com o público, na tentativa de fazer uma boa e profunda reflexão de como o mundo está e onde chegaremos com ele desse jeito.

Temas importantes são tratados na história, desde o êxodo rural ao desemprego provocado pela mecanização e pela tecnologia. A construção de metrópoles que destroem a natureza, fábricas que poluem o ar e os rios, a poluição visual nos grandes centros, os engarrafamentos, gigantescos, a exploração da mão-de-obra barata, a longa jornada de trabalho, o consumismo exacerbado, as desigualdades sociais, a desvalorização da experiência dos mais velhos e uma série de outros assuntos importantes são retratados em apenas 85 minutos de projeção. Talvez por isso, a animação não agrade as crianças e sim os adultos (pelo menos aqueles que entenderem a mensagem do filme).

Soma-se ao roteiro, a ótima direção de arte, a trilha sonora adequada para cada situação vivenciada pelo menino e a bela montagem.

O resultado disso? Uma indicação à categoria de melhor animação no Oscar 2016. Pena que mesmo sendo simples e excelente, o nosso representante brasileiro não teve chances diante de “Divertida Mente”. Mesmo assim só de estar entre os melhores do mundo, já é uma grande vitória e um motivo de muito orgulho para o nosso país. Parabéns pela obra de arte, Alê Abreu!

Nota 8

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