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08/06/2024 às 08h00min - Atualizada em 08/06/2024 às 08h00min

Hábitos da Mente

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Tenho notado, não por mim mesmo, evidente, que há não apenas – ou melhor, não necessariamente – um modo correto de se fazer as coisas (aqui falo no sentido escrita, mas que no final das contas acaba por se estender por todas as áreas de nossas vidas). O Cristianismo – como já comentei diversas vezes –, como pano de fundo para tudo aquilo que nos envolve, é nítido para aqueles que tem um mínimo de percepção sobre a realidade. Porém, o que quero apontar hoje tem uma vertente um pouco mais restrita sobre a forma como enxergamos o mundo.

Ora, todos os grandes escritores – e mesmo os que assim não são considerados, mas que possuem o olhar apurado para o real – tem em comum uma certa “admiração” pelo passado, um respeito diluído em algumas doses de um certo sentimento de continuidade que permanece latente em nossas almas. Embebedados pela sensação da descoberta do novo, esquecemos que só há algo novo em relação a algo que já existe, e por isso é “velho”. Não caiamos nessa armadilha mental que nos joga num imenso liquidificador de homogeneização de ideias. 

Há alguns dias ouvi numa aula do Professor José Monir Nasser, que “somente um mestre pode quebrar formas”, ou seja, apenas aquele que domina um determinado campo pode modifica-lo de sua estrutura atual. Para que possamos inovar na escrita, é preciso conhecer grande parte do que já foi feito (saber sobre tudo é absolutamente impossível), de forma que, se assim não fizer, estaremos apenas arrotando uma falsa “revolução” de algo que na verdade sempre existiu: não é porque nunca ouvimos ou não lemos algo, que aquilo não existe.

Se todos esses grandes escritores asseveram e insistem na importância daqueles que nos precederam, por que insistimos em não ouvi-los? Como disse Ortega y Gasset, talvez seja porque “nosso tempo se sinta mais capaz que todos os anteriores”, mas se esquece que só temos todas as possibilidades que há graças aos tempos “menos capazes’. Apenas por se ter mais possibilidades e mais facilidades de acesso ao que já foi feito não garante a absorção do conhecimento; esquece-se, hoje, de fazer a lição de casa que é justamente conhecer o que feito: não adianta termos um imenso acervo de carros potentes se não sabemos o que fazer com eles ou não os usamos.

Neste trabalho de James W. Sire, há uma citação maravilhosa que o autor faz em sua introdução à obra, numa carta de Petrarca a Giovanni Colonna di San Vito, datada de 1342:

“Sim, utilizo uma enorme quantidade de citações, mas são todas célebres e verdadeiras. E, se não estou enganado, elas transmitem autoridade de forma bastante agradável. As pessoas dizem que eu podia usá-las com mais parcimônia. É claro que eu poderia, ou poderia até omiti-las por completo. Não negarei que talvez até devesse me manter totalmente em silêncio, o que provavelmente seria a atitude mais sábia. 

Porém, diante das desgraças e dos escândalos deste mundo, é difícil ficar em silêncio (...). Se alguém perguntar o porquê de eu exagerar nas citações e parecer me estender tanto ao explica-las com tanto afinco, posso simplesmente responder que acredito que o gosto do meu leitor é semelhante ao meu. Nada me comove tanto quanto os aforismos que cito dos grandes homens. Gosto de ascender acima de mim mesmo, testar minha mente para ver se ela contém algo de substancial ou sublime, ou robusto ou inabalável contra o infortúnio, ou descobrir se minha mente tem mentido para mim acerca de si mesma. E não há maneira melhor de fazer isso – salvo pela experiência direta, a melhor de todas as professoras – do que comparar a própria mente àquelas que ela provavelmente devia se assemelhar. Por isso, assim como sou grato pelos autores que me dão a oportunidade de testar minha mente em relação a aforismos frequentemente citados, espero que meus leitores também sejam gratos a mim.”

O papel do escritor, como acredito, é o de nos fazer enxergar aquilo que está bem diante de nós, mas, que pelas inúmeras distrações a que somos expostos o tempo todo, não conseguimos ver. Essa obra é justamente um auxílio para aqueles que pretendem aprender a fazê-lo, a apontar o que está escondido: há uma linha de pensamento, como uma espécie de fundação – ou até mesmo um ‘segredo’, – que proporciona um auxílio nessa empreitada solitária. Falaremos mais sobre isso.

Hábitos da Mente, James W. Sire.

 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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