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23/05/2024 às 08h00min - Atualizada em 23/05/2024 às 08h00min

Tomada de decisão

IVONE ASSIS
A contação de histórias sempre exerceu enorme persuasão sobre as crianças, mas não resta dúvidas de que contação de histórias influencia, e muito, toda a trajetória humana, independentemente de idades. A diferença está na reação daquele que recebe a história contada. A criança fica fisgada na conversa, a fim de absorver toda a narrativa, com os jeitos e trejeitos do contador, para que nenhuma emoção passe despercebida. Já o adulto, enquanto ouve a história, vai se planejando, observando aqui e ali, a fim de obter o melhor aproveitamento das possibilidades que a narração aponta.

Depois, a criança vai brincar e, muitas vezes, recria a história a seu jeito, transformando-a em mais brincadeira ainda. A criança gosta de ouvir a mesma história repetidas vezes, sem pressa, porque vai memorizando aquilo que ouve e, com isso, vai tomando conhecimento e segurança, para contar, recontar, encenar, brincar... do jeito que a imaginação mandar.

Já o adulto, mal ouve a primeira versão, de tanta ansiedade que carrega em si. Mas, após a primeira escuta, geralmente, já extrai as releituras e as intertextualidades possíveis, com o objetivo de converter as histórias ouvidas em probabilidades, especialmente financeiras. Sim, todo profissional faz uso das histórias para vender seus produtos. Isso também é bom, mas antes é importante compreender que a história pode ser bebida em várias taças, poetizada em várias estações... E para se obter sucesso em seu uso é necessário que haja mais interação e mais conhecimento, sem presa. Afinal, o melhor causo é aquele que nos transborda de emoção.

Mas, quando chega a velhice, são as histórias vividas que permitem o mergulho nas memórias. E são essas mesmas memórias que formam o presente do indivíduo, promovendo as lembranças do pertencimento.

Logo, quanto mais se ingere histórias, quanto maior for a imersão... mais se obtém conhecimento; e quanto mais conhecimento se têm, maior é a perspectiva de acerto, portanto, melhor será o sucesso alcançado, seja com o objetivo lúdico, seja com a intensão memorialística, seja na proposta intertextual, para os negócios.

“Contar estórias é uma arte. Deve dar prazer a quem conta e ao ouvinte” (CASASANTA, 2008, p. 62). Histórias como as de Casasanta levam a criança a outro, lindo e inesquecível, universo lúdico. Já o adulto, em vez de vivenciar a ludicidade, foca o seu ouvir no contexto reflexão, apenas. Com isso, vai buscando respostas para seus questionamentos.

Podemos entender que, as histórias são como remédios que curam, e se usadas com regularidade, poderão prevenir de muitos males. Se não fosse assim, não existiriam os “Doutores da Alegria”, nem, tampouco, as seções de tratamento das emoções seriam tão eficazes.

Bruno Bettelheim assegura que a criança carece de metáforas mágicas, para que possa resolver suas inquietações e, desse modo, conseguir superar as dificuldades (sempre presentes). Ouvir histórias é tão importante para a emoção quanto para a pedagogia.

Mas, também, Bettelheim (1980, p. 20) afirma: “O prazer que experimentamos, quando nos permitimos ser suscetíveis a um conto de fadas, o encantamento que sentimos não vem do significado psicológico do conto (embora isto contribua para tal), mas das suas qualidades literárias – o próprio conto como uma obra de arte. O conto de fadas não poderia ter seu impacto psicológico sobre a criança se não fosse primeiro, e antes de tudo, uma obra de arte”.

A história pode ser contada de vários formatos, sob várias perspectivas, o importante é o quanto ela impactará o ouvinte. Propagandas, palestras, livros, TV, cinema, aulas, tribunais... ou outros, todos são ferramentas de transmissão da narrativa, mas somente o coração é o órgão receptor. É a partir de suas percepções que o nosso cérebro dará a ordem de tomada de decisão.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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