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30/05/2024 às 08h00min - Atualizada em 30/05/2024 às 08h00min

Ler é viver

IVONE ASSIS
Como disse Ziraldo, “a tônica da escola deveria ser a leitura”. Ziraldo mencionou isso na revista “Nova escola” (nr. 25, out. 1988, p. 27), cujo título, acertadamente, foi “A escola não está preparada para a mágica da leitura”. E não está mesmo. Como o próprio Ziraldo concluiu, é papel da escola aplicar um “trabalho que fizesse do hábito de ler uma coisa tão importante quanto respirar”.

Afinal, hábitos sem valores não passam de fados. A valoração é que aplica a importância ao fato e/ou produto.

Desde pequenos somos induzidos a aprender a ler para isso ou aquilo, seja prova, seja nota, seja para não tomar broncas... mas não é comum alguém dizer: Leia, como se a leitura fosse o seu alimento. Ou, leia para dar liberdade ao seu conhecimento. Ainda, leia para que o sucesso e o bem-viver queiram fazer morada em sua vida.

É a leitura que amplia o nosso léxico e alarga o nosso conhecimento. E, com sensatez, Einstein disse: “A mente que se abre ao conhecimento, jamais retoma ao tamanho original”.

Moacir Gadotti, em sua obra “O que é ler? Leitura: teoria e prática” (1988, p. 17), ensina: “O ato de ler é incompleto sem o ato de escrever”. Essa relevante lição deve ser levada a cabo nas duas vias. Leitor que não escreve não evolui em seu próprio saber, fica sempre à mercê da escrita de alguém. No entanto, escritores/autores que não leem também não evoluem em qualidade. Parece estranho, mas é a coisa mais comum que existe, escritores não leitores e vice-versa.

“Um não pode existir sem o outro. Ler e escrever não apenas palavras, mas ler e escrever a vida, a história” (GADOTTI, 1988, p. 17). O ato de escrever está implicitamente conectado ao ato de observar e de interpretar. O bom profissional, em qualquer área, só alcança o sucesso se for perspicaz, ou seja, se for um bom observador e se tiver capacidade de interpretar.

O trabalhador que lê e interpreta tem mais espaço no mundo dos negócios. Agora, com o avanço da Inteligência Artificial, leitura e escrita, mais do que nunca se fazem essenciais. Estamos na era copy, no período prompt, no sistema estrangeirismo... sem leitura e sem escrita é o mesmo que passarinho sem asas.

Outro dia, vi uma reportagem sobre um episódio de crime de perseguição ao outro em que a repórter, ao final, fechou a matéria dizendo: “Essa perseguição tem um nome: stalking”. Fiquei pasma, afinal, stalking é a tradução de perseguição para o inglês. O nome desse tipo de crime, de acordo com o Código Penal é perseguição reiterada. Precisamos fazer mais uso na nossa língua portuguesa, do contrário, logo perderemos nossa identidade.

O universo da propaganda e da publicidade começou com marketing e agora já não tem identidade mais. Pede-se storytelling em vez de narrativa, a maioria nem sabe o que é uma narrativa, e já se esbarram no storytelling. E assim se segue na perdição das palavras estrangeiras. 

O que precisamos é aprender os idiomas português e inglês, para nos comunicarmos com desenvoltura e conhecimento, e não substituir a língua materna por recortes de estrangeirismos linguísticos de modo a não conhecer nem um e nem outro idioma. Mas essa evolução só vem por meio da leitura, da interpretação, do conhecimento.

A leitura é essencial para o crescimento intelectual de qualquer sujeito, a qualquer idade. Não é “chic” falar difícil, o chique é ser sábio. A personalidade de uma nação está na sua cultura, no seu idioma, no seu saber...

Como escreveu o clássico de Luís de Camões (1524/25-1580), “Está no pensamento como ideia; / o vivo e puro amor de que sou feito, / Como matéria simples busca a forma”, podemos entender a linguagem como sendo esse amor puro, essa matéria simples, em busca de forma.

Acordando em tempo, para o saber, evitaremos o sofrimento de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), “Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida”.

E saberes vêm da leitura, essa poderosa e eficaz ferramenta de desenvoltura da linguagem, que forma a nossa personalidade. Somos aquilo que falamos e vivemos. 

Ler é viver.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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