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11/05/2024 às 08h00min - Atualizada em 11/05/2024 às 08h00min

Estudos sobre o amor

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Já comentei em outras oportunidades sobre alguns textos ou obras do filósofo espanhol José Ortega y Gasset. Há alguns homens que possuem uma capacidade de “prever” certos movimentos da humanidade, não porque são melhores que os outros – no sentido de “merecer mais” que os demais – mas sim por possuírem uma percepção mais acurada da realidade; ou seja, não são pessoas perfeitas ou melhores, mas evidentemente, por um dom que lhe foram doados, “enxergam” melhor que a maioria. 

Ortega y Gasset já discorria, no seu A Rebelião das Massas, em como o excesso de oportunidades e possibilidades prejudicou o desenvolvimento das sociedades, porque fez com que as facilidades geradas inoculassem a percepção e o desejo de ser melhor das pessoas: “se tenho tudo à mão, por que vou me esforçar para conseguir algo? ”. 

Há também, ainda, o fenômeno das massas que identificou muitíssimo bem, com a percepção de uma espécie de movimento nivelador, no qual a “média” da sociedade quer sempre puxar para baixo aqueles que se sobressaem, e também como o aumento dessa mesma massa, ou seja, o aumento exponencial da população – muito devido também à Revolução Industrial – produziu essa “superlotação de vida”.

Em outros trabalhos, o filósofo discorre ainda sobre a importância da arte e o seu papel fundamental na vida das pessoas, demonstrando o impacto que a deterioração da beleza causa no “desenrolar” do mundo. 

Mesmo sendo estes temas de grande importância também na atualidade, gostaria de começar a falar sobre um outro assunto que acho tão mais essencial quanto, e que o espanhol domina maravilhosamente: o Amor. Evidente que também faz parte da natureza humana e, talvez por isso, o filósofo o escreva tão bem. Aqui, quero dar apenas uma amostra de como o filósofo acredita que o Amor é também uma espécie de percepção dos detalhes, um notar algo que a maioria não percebe.

Acredito que o enamoramento, ou o encantamento pelo outro, faz com que estejamos abertos a receber e enxergar coisas que não enxergaríamos em situações normais. Entretanto, esse “ver” não é possível a qualquer um e, por isso, ele enaltece esse talento perceptivo, dizendo em sua obra “Estudos sobre o Amor”, que a percepção é um dom.

“Mas nota-se que, por sua vez, tal curiosidade supõe muitas coisas. Ela é um luxo vital que só podem possuir organismos com alto nível de vitalidade. O fraco é incapaz dessa atenção desinteressada e prévia ao que possa sobrevir fora dele. (...) A aptidão para interessar-se em uma coisa pelo que ela seja em si mesma e não em proveito do que nos traz é o magnífico dom da generosidade que floresce somente no ápice duma maior altitude vital. (...) A curiosidade prepara o órgão visual, mas este deve ser perspicaz. E tal perspicácia já é o primeiro talento e dote extraordinário que atua, como ingrediente, no amor. Trata-se de uma intuição especial que nos permite rapidamente descobrir a intimidade dos outros homens, a imagem de sua alma em união com o sentido expressado por seu corpo. Por conta disso, podemos ‘distinguir’ as pessoas, apreciar suas qualidades, suas banalidades ou suas excelências, enfim, sua gama de perfeição vital.”

A Beleza está nas pequenas coisas e quando estamos nesse estado de enamoramento, conseguimos ver as minúcias nos detalhes, como se nossos olhos transcendessem e enxergassem além dos pormenores. O Amor é assim, entre tantos outros sentimentos, a percepção real do amado. Mas não acaba dessa maneira, de repente; sempre haverá espaço para mais impressões sobre ele.

Estudos Sobre o Amor, José Ortega y Gasset.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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