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18/04/2024 às 08h00min - Atualizada em 18/04/2024 às 08h00min

Para ser feliz

IVONE ASSIS
Nem tudo é brutalidade, na Índia, apesar de seu histórico de país mais violento do mundo, sobretudo contra as mulheres. Pensando na obra “O mal-estar na civilização” (2012, p. 91), de Sigmund Freud, onde ele escreve: “O mandamento ‘Ama teu próximo como a ti mesmo’ é a mais forte defesa contra a agressividade humana”, quero lembrar aqui o caso Sahil, no ato heroico de Mayur Shelke, ocorrido em 17 de abril de 2021.

Ontem completaram três anos em que o apontador da Indian Railways, Mayur Shelke, da pequena cidade de Vangani, na Índia, fez uma das maiores demonstrações de amor ao próximo que possa existir. Mayur Shelke, é graduado em Artes e trabalha como agente de estação (apontador), cujo ofício é agitar uma bandeira vermelha, caso algum perigo seja sinalizado, na Ferrovia Central, estava a observar os trens, quando Sahil, uma criança de seis anos, pisou em falso e, desprendendo-se da mão da mãe, caiu sobre os trilhos da linha férrea. Aquela mãe se abaixou na plataforma, esticou os braços e começou a chamar, desesperadamente, pelo filho, para que ele se agarrasse outra vez à sua mão, porque, embora cega, ela sabe do perigo que é ali. Abaixada, sua chance de ouvir o filho era maior, para que, assim ela se guiasse até ele, mas o trem estava chegando e o barulho não a permitia ouvir.

O ferroviário Mayur Shelke, não teve tempo para bandeiras, nem verde, nem vermelha, simplesmente, optou por salvar a criança. Em entrevista, ele confessou sentir medo, mas seu amor ao próximo foi maior. Imaginou que poderia ser seu próprio filho ali, indefeso. Mayur Shelke pôs-se a correr, velozmente, em direção à criança. Do lado oposto, chegava um trem expresso Udyan Express. Foram 15 segundos entre queda, os mais de 30 metros percorrido sobre os trilhos, e o salvamento da criança e de si. O maquinista acionou os freios de emergência, e isso retardou 2 segundos em sua passagem. Esses 2 segundos foram cruciais para aquele salvamento.

Com todos em segurança, sobre a plataforma, o trem passou rasgando. O piloto da locomotiva se emocionou com o ato heroico do colega de estação. Mais tarde, Mayur Shelk, além de todas as felicitações e honrarias, recebeu um prêmio expressivo, em dinheiro, do Ministério das Ferrovias da União e, sem hesitar, ele doou 50% do valor àquela mãe e a Sahil, para garantir sua Educação.

Mayur Shelke, temendo apavorar sua família, não comentou nada em casa, naquele fatídico dia. A família só soube do ocorrido quando o vídeo viralizou nas mídias locais e mundiais. O rapaz, de 30 anos, concluiu dizendo que, é de sua natureza ser prestativo, e isso o ajudou a salvar aquela criança.

Nem Vangani, nem o estado de Maharashtra, nem a Índia, nem ninguém, pode se esquecer do ocorrido. Que o exemplo de Shelke seja exibido e relembrado, a fim de inspirar os governantes a investir mais em proteção à vida.

Lendo o filósofo contemporâneo Dax Moraes, em sua obra “História Filosófica do Amor” (2019), que traz um “ensaio para uma nova compreensão da essência do amor humano”, no Capítulo 2 “Amor e beleza”, à página 168, Moraes escreve “Movida pelo bem perfeito e eterno, a alma tem nesse amor a única chance de conquistar o que mais intimamente deseja e somente mediante a segurança dessa felicidade indestrutível, plena de amor de si em Deus, torna-se possível a autêntica caridade. Como esse amor é universal, ama o próximo e o distante, o conhecido e o desconhecido, o amigo e o não amigo, pois um e outro somente o são do ponto de vista particular que só vê a exterioridade do corpóreo. O verdadeiro amor ao próximo é o amor da imagem de Deus. Munido desse amor divino, que é entrega ao invés de cobiça, que é dádiva de vida ao invés de precipitação na morte, e por ele estimulado, vive-se, como imortal, a vida do espírito”.

Centenas, talvez milhares de Mayur Shelke estão espalhados entre as nações, trazendo algum alento à humanidade, para que não se perca a fé no ser humano, na capacidade de amar que Deus nos concedeu. Viver o amor é essencial para ser feliz!


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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