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28/03/2024 às 08h00min - Atualizada em 28/03/2024 às 08h00min

Ouvir e contar histórias

IVONE ASSIS
Quantas não são as vezes em que ouvimos uma história e nos emocionamos com ela, mesmo que não tenha nada a ver conosco? Isso acontece quando assistimos a filmes, noticiários e outros. E por que isso acontece? As razões são muitas, mas uma delas é a forma como foi contada. Um bom contador de histórias é capaz de envolver o seu ouvinte e emocioná-lo.

Não é de hoje que o mundo dos negócios acordou para a importância de uma história bem contada, para motivar o seu cliente e vender o seu produto, seja ele tangível ou intangível. Basta olhar o mercado de palestras, coachs e afins... as pessoas estão sedentas de uma história convincente.

Pensando nisso, o mercado investe alto em boas contações, especialmente quando se trata de empresas inteligentes. Porque é por meio da história bem contada que se desperta no funcionário o ânimo para melhoria em sua atuação. Colaboradores motivados produzem muito mais.

No universo infantil, então, nem se fale. Qual criança não gosta de ouvir histórias? Mas não podemos nos esquecer de que contar histórias também exige conhecimento e técnica.

Ao nascer, nosso primeiro contato com a humanidade acontece por meio das muitas histórias contadas aos bebês, e esse processo continua por toda a vida, embora vá diminuindo conforme a idade vai avançando. De repente, o ouvidor de histórias para a ser o contador. E assim o ciclo vai se repetindo.

Durante a infância, é comum ficarmos hipnotizados ao redor do contador de histórias, ouvindo e aprendendo. Lembro-me de um amigo muito querido que, sendo mais velho que eu e meu irmão, sentia-se no direito de nos contar histórias horripilantes. Então, ia lá pra casa, à noite, contava uma, duas, três... histórias. Depois, ficava com medo de ir embora sozinho, visto que morava umas seis casas à frente, na mesma rua escura. Riamos com gosto e ele inventava mais histórias, até que sua mãe surgia: “Zé Carlos, é hora de dormir”. Ele olhava para aquele coração amoroso e dizia, “estava esperando a senhora vir me buscar”. No dia seguinte, novos causos, novos medos. Ele era um contador nato.

Os contadores eram muitos, fosse em casa, na igreja, na escola, entre amigos... Cada um tinha sua própria técnica. Cresci convencida da importância de se contar e ouvir boas histórias. Com o tempo, eu mesma passei a contar histórias, seja para empresas, no mundo dos negócios, seja para crianças, no mundo lúdico. O importante é levar a emoção.

O ouvir e o contar histórias exercem um impacto social e cultural no mundo, sobretudo na sociedade moderna, em que a psicologia tem sido requisitada a todo instante e o cinema tem conquistado o público cada vez mais.

Àqueles que desejam atuar no mundo das contações, estão sempre a desenvolver a palavrinha do momento: storytelling. A arte de contar procura ativar os sonhos de cada um. Quem não sonha, perde muitas oportunidades de ser feliz.

A narrativa quando é boa, é boa de fato, seja escrita, visual... mas, nada se compara à oralidade. Se, conforme disseram os sociólogos Berger e Luckmann, que o homem atual vive numa crise de sentidos, Moacir Gadotti (1988, p. 17) ensina que “[...] o ato de ler é incompleto sem o ato de escrever. Um não pode existir sem o outro. Ler e escrever não apenas palavras, mas ler e escrever a vida, a história”. Então podemos dizer que ler e escrever é contar histórias, e isso é mexer com as emoções, consequentemente, as histórias dão sentido. Se pensarmos assim, é fácil concluir que, o que falta ao homem contemporâneo é ouvir e contar histórias.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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