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16/03/2024 às 08h00min - Atualizada em 16/03/2024 às 08h00min

Lições de Abismo – Parte III

EDMAR PAZ JUNIOR
Reprodução/Internet
Como havia dito nos últimos textos, me propus a elaborar uma espécie de “lições”, que acredito que o próprio autor deixou por conta de cada leitor que se deparasse com sua obra, realizar: há uma genialidade latente por trás de cada palavra escrita por homens do nível de Chesterton, Ortega y Gasset e Gustavo Corção, de modo que não é nada absurdo que essa fosse realmente sua intenção. 

Terminei a segunda parte desses textos falando sobre uma primeira lição que entendo ser de suma importância em nossas vidas: as Pérolas. Ora, o primeiro passo para podermos ter uma vida “um pouco menos complicada”, passa pela consciência de nossas ações, de modo que ao refletirmos sobre como aquilo que fazemos impacta, não apenas em nossas vidas, mas também nos demais que estão à nossa volta. Criaremos, assim, uma espécie de “cuidado” com nossos atos, pois cada passo nosso entra para a eternidade no instante seguinte ao que foi feito e a pergunta a ser feita é: queremos deixar coisas boas ou ruins “eternizadas”?

Seguindo essa linha, há uma segunda lição que gosto de refletir e que acaba estando ligada ao primeiro ponto, que é justamente a percepção dos pormenores, ou seja, enxergar os detalhes que o mundo insiste em nos esconder. Já falei aqui nessa coluna algumas vezes, uma frase que acho magnífica de José Ortega y Gasset: “para quem o pequeno não é nada, o grande não é grande”.

Essa “segunda” lição, assim, permite a observação da primeira por dois motivos: de início, porque nem sempre conseguimos prestar atenção em nossas ações, muitas vezes porque acreditamos ser mais do que realmente somos, ou melhor, queremos sempre “salvar o mundo”, ao invés de salvarmos a nós primeiro, a nos ordenar; depois, quando realmente nos atentamos aos detalhes, permitimos construir um legado real, ações que efetivamente transformam a nossa vida, porque teremos a “presença” naquilo que fazemos. 

São Josemaria Escrivá diz: “faz o que deves e está no que fazes”, de modo que a nossa atenção aos pequenos detalhes, aos pormenores, produz uma presença real, sem as distrações fúteis que nos levam a realização de ações mecânicas e automáticas. Somos seres humanos, dotados de razão e paixão, e cada qual deve ser vivido em seu tempo e sua capacidade. Esse também é um dos papéis do cristianismo, de ensinar o homem a vivenciar aquilo que nos é posto, aquilo que nos acontece e estar presente em cada sentimento, seja de alegria, medo, tristeza ou dor, cada qual na sua medida.

Dessa forma, o ser Cristão, é também descobrir que não há soluções fáceis, que a dor é necessária, e que a Esperança, a Fé e a Caridade são as verdadeiras forças propulsoras de nossas vidas. E essas ideias, essas bases, o mundo não consegue fornecer. O máximo que há é uma encenação, um imenso teatro, que assim como as palavras belas que os “filósofos” da moda pronunciam, mas vazias, o mundo nos oferece algo encantador, mas sem sentido e sem conteúdo, uma bela rosa de plástico, linda, mas sem perfume, sem vida.

Assim, a ideia por trás do terceiro ponto que trago é de que a nossa vida pode ser comparada com essa Rosa: existe um processo, um desenrolar de vida, em que há o plantio da semente, o cultivo, o broto, o crescimento, o afloramento, a Beleza esplêndida, o perfume exalado; e o fim, o murchamento, a morte. Inevitavelmente esse é nosso destino enquanto em vida. Não podemos simplesmente fingir ou pleitear uma vida imaginária, ou um “sobreviver” como a rosa de plástico. As nossas possibilidades são muito maiores que um “fingir vida”. 

Essa separação de percepções é exatamente a não aceitação da transformação da nossa vida nessa rosa de plástico, mesmo sabendo que a verdadeira Rosa é finita. Buscamos, assim, a realidade, a essência verdadeira, a seiva que alimenta e faz crescer, independentemente de sermos mortais. Eis minha terceira lição: busque e viva a Beleza Real, fuja das artificialidades que o mundo oferece e entenda que o único lugar em que podemos encontrar o caminho para esse aprofundamento e essa experiência real está justamente onde o mundo mais ataca: no oásis em meio ao deserto, a fonte de água limpa, que a Esposa guarda como a maior preciosidade que existe.

Com essas ideias em mente, vou caminhar no próximo texto para o encerramento sobre os pontos, estas duas últimas lições que refleti sobre a obra de Corção, o “desprendimento” dessa vida e o “encontro consigo”. Até lá.

 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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