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15/02/2024 às 08h00min - Atualizada em 15/02/2024 às 08h00min

Campo das possibilidades

IVONE ASSIS
Onde estão as possibilidades de melhoria? Observando a violência que aterroriza o país; analisando o desvio de atenção implantado pelo governo, de modo a criar uma cortina de fumaça; pensando nos muitos ensinamentos dados pelas ciências humanas, incluindo filosofia, história, neurociências, psicologia e afins, bem como pela doutrinação, e por fim assistindo as afrontas por meio da arte que se aplacam, seja nos bailes funks, na dança, na música, em alguns blocos carnavalescos e semelhantes, a única palavra que me vem à mente é: Ignorância.

Apesar dos esforços de uns, ouvir e aprender parece se tornar algo obtuso e pejorativo, enquanto atacar se tornou um espetáculo. Tanto no coletivo como no individualismo, inflou-se o pensamento bárbaro de cada um. Criou-se uma condição social esférica para apologia da agressão.

É triste e preocupante observar que, o espírito festivo que um dia pode ter existido em muitos eventos, cedeu o seu espaço ao ataque. Eventos públicos e até populares assustam com suas afrontas. Estamos diante de uma decadência social, em um palco de desencantos, onde a estrela é o revide. A tradição vai se convertendo em agressão.

Temos cerca de 22 mil anos de história brasileira, intacta, chamados de Pré-Descobrimento, que antecedem a Colônia (1500-1822), o Império (1822-1889) e a atual República, que vem se arrastando desde 1889; temos a Inteligência Artificial que quer mostrar serviço, mas aguarda mentes inteligentes e criativas para lhe dar bom direcionamento; contudo, o que encontramos são recortes de mesma coisa, reformulando e alimentando o sectarismo, a afronta. Parece que o consenso deu seu espaço ao confronto.

O Brasil vem de um caldeirão cultural com alas indígenas, europeias, afros, históricas, sociais..., compostas por pessoas ricas e pobres, influentes e ocultas, religiosas e estoicas, novas e velhas, estudadas e analfabetas... mas dentro de cada ser bate um coração que sonha com o amor e o bem viver. Por que não investir nesse ponto?

Quando notamos a violência que fervilha por todos os lados, o alarmante número de agentes policiais assassinados, criminosos sendo presos duas vezes no mesmo dia, pessoas ceifando vidas por intolerância comportamental e uso de palavras, tutores tirando a vida de crianças porque não enxergam a própria patifaria, torna-se inaceitável atos como “homenagem singela”, “sem intenção”, “recortes do ontem”. É urgente que se olhe para o agora, se quiser que haja amanhã.

Em uma cultura livre, em que podemos ser o que queremos, é inadmissível desperdiçar a chance de ser criativo e de apontar soluções, em vez de se prender à ampliação de problemas.
Aprendi, desde cedo, o significado da palavra doutrina, cuja instrução forma o conjunto de ideias basilares a serem repassadas de geração em geração nos campos diversos: acadêmicos, familiares, religiosos, políticos, filosóficos etc. Logo, o erro doutrinário implica resultados catastróficos.

Se pensarmos a filosofia de Descartes, que a considerava o saber examinador das ciências; e a filosofia de Locke, reflexão crítica da experiência, podemos dizer que a filosofia é uma ferramenta cultural a ser explorada e aplicada, em busca de bom senso.

A sociedade é costurada por narrativas, portanto, é intrínseca a boa formação dos narradores. Aristóteles acordou os narradores para a importância da distinção entre mito e filosofia, a fim de impregnar a razão àquilo que se fala. Afinal, a palavra é a arquitetura da humanidade. Mas a racionalidade não dispensa o amparo nos mitos para sua argumentação, como ilustração interpretativa na doutrinação. Passar pela caverna faz parte dos acontecimentos, o absurdo é querer estabelecer morada dentro dela.

A moda passa, tudo passa, mas a história é o que acontece, e isso fica como referência. Mudamos a história quando mudamos nosso comportamento. Como nos ensina o filósofo, teólogo e existencialista dinamarquês, Soren Kierkegaard, em sua filosofia, a existência é o campo das possibilidades.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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