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01/02/2024 às 08h00min - Atualizada em 01/02/2024 às 08h00min

O Eu de cada um

IVONE ASSIS
Todos os dias leio os jornais em busca de notícias que priorizem a saúde, a eliminação da fome, e a cultura, mas o que encontro é uma priorização sobre operações, não de pessoas doentes e necessitadas, e sim, políticas e de caçadas políticas, em que o alvo dos caçadores não são os problemas vigentes, e sim, os inimigos políticos, em um verdadeiro ataque de loucura. A nação paga altíssimos salários para assistir ao “reality show” político de um vergonhoso mi-mi-mi e perseguição transvestida de civilidade, enquanto milhões de pessoas morrem de fome e/ou por falta de atendimento em filas de hospitais públicos, morrem vítimas da violência nas ruas e do silêncio.

Em 1969, Hannah Arendt, em sua obra “On Violence” (Da Violência), à página 5, escreve: “O xadrez apocalíptico que se desenrola entre as superpotências, isto é, entre aquelas que se movimentam nos níveis mais altos de nossa civilização, está sendo jogado de acordo com a regra “se qualquer um dos dois ‘vencer’, é o fim de ambos” (Tradução: Maria Claudia Drummond). De lá para cá, nada melhorou, pelo contrário, o poder está ainda mais inflamado. A violência deixou de pertencer somente às potências e aplacou-se em pequenos grupos de interesses comuns.

Estamos vivendo a Era do Medo e da Perseguição. O medo da violência nas ruas, o medo do descaso e fome, a perseguição política dispensa comentários, porque esta é a bola da vez, mas, seguindo o exemplo que não sai das telas das TV’s abertas e dos canais de Internet, há a perseguição de pessoas contra pessoas: maridos, colegas de trabalho, familiares... pessoas más. Hasteou-se a bandeira do ódio e ninguém entende que nesse jogo a sociedade não é rei e nem rainha, são meros peões.

Nós, simples eleitores, que não entendemos nada do jogo político, exceto a obrigatoriedade de votar (e nem sabemos por que isso é obrigatório), queremos ver resultados e não propagandas. A propaganda mostra aquilo que o divulgador quer mostrar; o resultado mostra aquilo que os olhos veem nas filas de hospitais, nas ruas, em todos os lugares. A Cracolândia cresce a cada instante, a violência e o número de vítimas do vício crescem a cada segundo, em todos os lugares do país. E nenhuma política pública é aplicada com resultado de salvação a essa sociedade invisível. A propaganda apresenta lindos filmes, mas as famílias mutiladas mostram o cotidiano.

As clínicas psiquiátricas não têm sua realidade apresentada ao público, porque seria desolador demais. A grande maioria desconhece essa realidade de infortúnios. Se os loucos soltos, que têm o poder da tinta da caneta e o poder do PIX, apeassem de seus títulos e fizessem uma semana de tratamento nesses lugares, embora não se curassem com esse curto tempo de espaço, quem sabe entendessem a necessidade de olhar para esse setor e investir na saúde pública.

Percebendo que o mundo intelectual e o mundo político têm se fechado em seus interesses, muitos colunistas e criadores de opinião passaram a pautar nessa temática, no intuito de acordar a sociedade que parece dormente diante do descompasso artístico, intelectual e político, cujos espaços públicos vem se desvinculando do valor da produção, para se atrelar ao estrelato da circulação, sob confetes. A propaganda bebeu a arte e a política tem se servido dela em seus banquetes. O glamour vem servindo de cobertura ao bolo cultural recheado de propaganda e publicidade, nesse visível mundo dos likes. A influência vale mais que conhecimento. São tempos sombrios, de medo e insegurança, na rasura das narrativas.

Se fosse citar as literaturas que abordam a temática Loucura, nos mais diversos setores, teríamos uma quilométrica bibliografia, a questão é como essa bibliografia tem sido estudada e aplicada, e quem são as pessoas que a conhece. Quem sabe, se entendêssemos melhor os mitos de Dionísio e de Midas, pudéssemos agir com maior sanidade dentro de nossas ações e expectativas. O mundo está carregado de dionísios e midas, em que, o amor e a avareza revelam o Eu de cada um.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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