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25/01/2024 às 08h00min - Atualizada em 25/01/2024 às 08h00min

Preservação da existência

IVONE ASSIS
O francês René Descartes, filósofo, matemático e físico do século XVII, traz um conceito sobre emoção que diz mais ou menos assim: “Emoções têm função de incitar a alma a permitir a conservação do corpo. Tristeza e alegria são fundamentais: a tristeza dá sinais sobre a destruição do corpo e a alegria, sobre a preservação. A razão, portanto, deve frear emoções que possam destruir a vida”.

O mercado editorial chove literaturas, nas mais diversas áreas, abordando as emoções; o setor cinematográfico lança títulos e mais títulos na mesma temática... os mais diversos setores desbravam as emoções, e mesmo assim, diariamente, deparamo-nos com a razão perdendo para a desrazão. O mais grave é saber que as emoções negativas, quase sempre, são explodidas dentro de casa.

Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII, ensina que “Emoção tem função biológica. Alegria e tristeza ligadas ao prazer e à dor servem para alertar sobre situações que preservam ou que ameaçam a existência”.

A filosofia tem toda razão. O ser humano é pautado nos sinais, só conhecemos a alegria porque passamos pela tristeza, só detectamos a dor porque experimentamos o bem-estar... As emoções são remédios e venenos, como qualquer remédio farmacológico, o resultado dependerá da dosagem e a adequação. Chorar com os que choram, sorrir com os que riem. Levar conhecimento onde há ignorância; “levar amor onde há ódio”.

Se a solidão nos assola, vai nos oprimindo até nos destruir, por completo. Ela, quase sempre, chega devagar, vem montada em uma tristeza momentânea; depois, repousa em pensamentos ruins; incita as palavras para que fiquem duras; rouba o prazer das vivências simples... e quando menos se espera, lá está a solidão enraizada e já querendo dar frutos. Seus frutos são amargos e venenosos, geralmente chamados de depressão e, quando ingeridos, é preciso tratar de imediato, para evitar o efeito colateral, de ação prolongada, que leva a doenças terríveis e até mesmo à morte.

A vida pede atenção contínua, por isso, todos os dias devemos nos submeter a consultas internas, entre o Eu e o Meu. “EU posso fazer ou falar isso? Qual é o MEU propósito?”, “EU quero que seja assim, mas é o MEU querer deve prevalecer?” Se a resposta for edificadora, então a empreitada será promissora; mas se a resposta for destruidora, o melhor é que se aborte a operação. O vazio e o querer moram dentro de cada um, portanto, para onde quer que se vá, eles irão juntos. Cabe a cada um administrar a sua dor, ministrando doses de sensatez.

Em situações de dor, perda e sofrimento, é natural que a pessoa se sinta desprovido de um "Eu" (self), que seja seu eixo norteador, nessa hora, um profissional será muito bem-vindo à questão, mas é importante que esse profissional seja desprovido de pontos cegos, do contrário poderá agravar ainda mais a situação. Mentira e transparência não comungam da mesma fé, por isso, por mais difícil que seja, a transparência e a ética devem prevalecer, para que as emoções positivas encontrem abrigo e passem a agir, nutrindo o diálogo. Sem diálogo não há sucesso. Cada dor precisa ser diagnosticada, compreendida e tratada, para que seja curada e, assim, quando o sujeito afetado por aquela dor se frutificar, dará frutos saudáveis e conscientes.

A palavra é um dos elementos mais presentes na vida, e por meio dela tomamos decisões que poderão mudar tudo, para sempre. Pedro Bloch, em seu livro “Divulgando problemas de voz e fala”, anuncia: “A palavra é o produto que mais se consome”, assim sendo, é crucial que saibamos usá-la com moderação, conhecimento, desenvoltura, adequação e respeito. Portanto, se a palavra estiver propensa à destruição, melhor que não se fale; porém, se estiver para a cautela, não deve se calar, é da palavra adequada e transparente que vem a cura e a preservação da existência.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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