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21/12/2023 às 08h00min - Atualizada em 21/12/2023 às 08h00min

Afeto incondicional

IVONE ASSIS
Toc. Toc.

O Natal bate à porta, não a chamar às compras, e sim, para nos lembrar do quão especial é esta data. É um tempo para refletirmos e aproveitarmos para aparar arestas, amar mais, dialogar mais. Se quiser dar presentes, ah, isso é maravilhoso também, mas não é o principal.

Bráulio Bessa, em seu poema “Natal”, escreve: “Que você, neste Natal, / entenda o real sentido / da data em que veio ao mundo / um homem bom, destemido / e que o dono da festa / não possa ser esquecido. // Vindo lá do Polo Norte / num trenó cheio de luz / Papai Noel é lembrado / muito mais do que Jesus. // Ô balança incoerente / onde um saco de presente / pesa mais que uma cruz. // Sei que dar presente é bom / mas bom mesmo é ser presente / ser amigo, ser parceiro / ser o abraço mais quente / permitir que nossos olhos / não enxerguem só a gente. [...]”.

Ora, como muito bem poetizou Manuel Bandeira, “Por nós ele aceita / O humano destino: / Louvemos a glória / De Jesus menino”. 

São muitas as versões para a convenção de 25 de dezembro, mas essa gênese não tem muita importância, o que vale é o propósito. Pensemos, quantas vezes comemoramos feitos extraordinários para nós em datas aproximadas pelo fato de ser mais adequado? O desígnio é o mesmo, o que vale é a alegria, a realização, o alcance do feito.

Assim sendo, em vez de criarmos questionamentos que não agregarão valor, aproveitemos a brevidade do tempo para agradecer ao Criador pela vida, vamos encher nosso coração com amor, colocar guirlandas de esperança na entrada de nossos pensamentos, encher nossas expectativas de papeizinhos coloridos com os mais diversos pedidos de bem-viver, de saúde, de harmonia... para nós e para o outro. Vamos temperar a vida com fé. Vamos colocar uma brilhante estrela no alto de nossos objetivos. Vamos passar um Natal despidos de angústia, e revestidos de paz.

Sigmund Freud, em sua obra “O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos” (2010, p. 29-30), indaga “O que revela a própria conduta dos homens acerca da finalidade e intenção de sua vida, o que pedem eles da vida e desejam nela alcançar?”, e o próprio Freud responde, dizendo: “É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes”.

Sabemos que não existe um constante estado de felicidade, mas quando temos a paz de espírito dentro de nós, somos capazes de atravessar os vales com sensatez e, assim que possível, retomamos a felicidade. Nesse processo, só reconhecemos o prazer porque um dia experimentamos o desprazer, e isso é normal; o anormal é achar que a vida é só prazer ou o contrário.

Sabendo disso, o Natal é um momento propício para dar férias aos celulares e às redes sociais e manter o foco em reuniões familiares e/ou com os amigos, usufruindo de orações de ação de graça, rodas de conversas, causos, diálogos, gargalhadas, brincadeiras, abraços... e por que não, muita comida gostosa. E, para quem puder presentear, presenteie sem restrições, mas faça-o sem pensar na recompensa, porque, pode ser que o presentado esteja vivendo momentos de absoluta restrição financeira e tem guardado esse segredo para si.

Quando crianças, não nos preocupamos com decorações e eventos suntuosos, o que nos basta é que nossos pais nos dê um colinho, conte-nos uma boa história, e sirva-nos um “bilisquete” qualquer que fuja do trivial, e que o tal bilisquete seja nomeado de Ceia de Natal, pode ser só um bolo e uma calda para acompanhar... tanto faz, o que verdadeiramente conta é a reunião familiar. Isso acompanha o indivíduo por toda a vida. Na vida adulta, esses simples acontecimentos são convertidos em memórias, crônicas, livros, filmes... enfim, exemplos de vida. Chamamos isso de Felicidade.

O melhor presente que há é o afeto incondicional.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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