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09/12/2023 às 08h00min - Atualizada em 09/12/2023 às 08h00min

Cristianismo: A Religião do Homem – Parte III

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
A construção que venho tentando fazer nesses últimos textos, visa justamente demonstrar através da obra do Professor Mário Ferreira, que existe, quem sabe, um possível futuro bom para a humanidade, desde que o Homem entenda qual o seu papel no mundo e mais, entenda qual a sua finalidade. Nesse sentido, o Professor correlaciona a “melhor forma de se viver” com o Cristianismo, mas não de forma aleatória, com alguma espécie de fanatismo religioso ou proselitismo barato: há uma lógica, uma real inclinação para que o Homem se eleve, busque sempre superar suas “perfeições” a cada ato. Tem-se, assim, as virtudes como guias, balizas, princípios norteadores, que fundamentam e possibilitam, não o fim dos conflitos ou a igualdade absoluta das pessoas, mas sim o encontro de um ponto de convergência entre todos e uma consequente harmonia social.

Essas virtudes, nomeadas de Virtudes Cardeais pela Igreja Católica, consistem no eixo central de todas as ações boas. São elas a Prudência, a Justiça, a Temperança e a Fortaleza. O Filósofo discorre sobre como cada virtude se desenvolve, mostrando que quando praticamos nossos atos com esses fins, estaremos diante de ações que produzem o Bem Supremo, que é aquele que bem conforme nossa natureza – nossa inteligência.  

Podemos observar que existem muitas pessoas que não desejam isso, principalmente aquelas que se “acomodaram” em seu tempo, que acreditam não precisar de nada a mais do que aquilo que lhe satisfaça momentaneamente – como exemplo, só desejam os bens materiais para lhes servirem, seja a alimentação, com prazeres imediatos e danos futuros (um fast food hoje produz uma veia entupida no futuro), e nesse sentido nos assemelhamos aos animais, que buscam apenas saciar seus desejos – não porque são contra essa melhora, mas simplesmente porque sequer sabem ou pensam sobre essas questões.

Esses que dizem buscar a “praticidade”, que julgam serem capazes de lidar com toda a complexidade da nossa existência apenas com aquilo que possui dentro de si, são sempre os primeiros a provocar desastres, não apenas em suas vidas, mas também nas vidas alheias. Dizem que Filosofia é abstrata demais, que é impraticável na vida cotidiana e que o mundo se modernizou, deixando esses conceitos retrógrados para trás e que os “superamos”.

Jordan Peterson diz a seguinte frase: “se você acha que um homem mau é ruim, espera até ver do que um homem fraco é capaz”. Ora, basta fazer um raciocínio lógico para entender que só entendemos que 2+2=4 porque sabemos utilizar a operação de soma. Nossa vida deve ter o mesmo sentido: saberemos reagir diante de determinadas situações quando tivermos disponível em nosso “acervo” ferramentas para fazê-lo. Mário Ferreira diz: “Por isso a liberdade exige entendimento, e este em sua plenitude. E como pode o entendimento dar assistência à vontade se ele não for capaz de advertir o que está em exame, se não puder estudar com cuidado o que convém o não convém; se não estiver o homem livre de coações que o cerceiam; se não estiver desobrigado das paixões que o avassalam? Por isso a liberdade da vontade implica a cooperação eficiente e decisiva do entendimento.”

Todos nós sentimos esse chamado à perfeição, essa inclinação a sermos melhores. O Filósofo continua: “E como a natureza humana tem de anelar (desejar com ansiedade) o que lhe é conveniente (o Bem), anela, portanto, a Verdade, porque ela também é conveniente à sua natureza. Assim, a Verdade é ainda Bem, o Bem é ainda Verdade. De onde se vê que há uma mesma natureza em ambos, mas dois papéis diferentes, pois a vontade é a mesma oréxis (desejo, ímpeto) que tende intelectualmente para o Bem, e o entendimento, a oréxis que quer a Verdade, também um Bem. (...)Assim, o Entendimento é o Amor da Verdade, e a Vontade é o Amor do Bem. (...) Há, assim, no Homem uma trindade: Vontade, Entendimento e Amor.”

A princípio, pode parecer um pouco complicado de entender, mas na realidade basta pensarmos como uma complexa operação em que os três – Vontade, Entendimento e Amor – estão mutuamente ligados e se retroalimentam quanto mais os absorvemos. Essa fundamentação do Professor começa a elucidar uma espécie de dínamo, um gerador que quanto mais o usamos, mais possuímos.

“O amor pode ser só amor em sua função, como também o entendimento só entendimento, e a vontade só vontade. Contudo, só há vontade humana onde há amor, e entendimento, onde há amor e vontade; só há amor onde há entendimento e vontade, porque o amor tem de nitidamente conhecer o que ama e intensamente querê-lo. 

Portanto, podem eles atuar de certo modo separadamente, mas a sua natureza exige, necessariamente, os outros. Deste modo são três papéis de uma mesma natureza. Assim é o Homem. E nisto ele se distingue profundamente dos animais. É um ser anelante (que deseja com ânsia) de Verdade, anelante de Bem e anelante de Amor. A Vontade, por aspirar ao Bem, gera e desenvolve, no Homem, o Entendimento para escolher com Verdade, e o Amor os une, porque é o princípio e raiz deles.

Assim, o Amor é a oréxis que quer a Verdade do Bem eleito (escolhido); a Vontade, a oréxis que aspira com Amor à Verdade do bem escolhido; o entendimento, a oréxis que aspira com Amor ao bem da Verdade. Assim, o Amor é a vontade intelectual da Verdade do Bem; a Vontade, o amor intelectual do verdadeiro bem; o entendimento, o amor intelectual do bem da verdade.

Assim é o Homem, quer queiram quer não, os que não compreenderam bem. E é fundamentado nessa realidade do homem, que o homem é em sua concreção, que o Cristianismo se cimentou. Não é uma religião imposta ao homem, mas uma religião que brota do homem e marcha para o Ser Supremo. Por isso Cristo foi também um homem.”

Encerro essa série no próximo texto. Até lá. 

Cristianismo: A Religião do Homem, Mário Ferreira dos Santos.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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