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02/12/2023 às 08h00min - Atualizada em 02/12/2023 às 08h00min

Cristianismo: A Religião do Homem – Parte II

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Talvez uma das soluções que, apesar de diminuta, pode pelo menos fornecer uma pequena mudança no sentido atual que caminha nossa sociedade – notadamente para uma espécie de “limbo” intelectual – seja justamente a de “recomeçar do início” os ensinamentos. Ayn Rand faz uma crítica sobre a educação, já na sua época, entre os idos da década de 50 e 60, que subvertia a mente das crianças: “Eles (os alunos) estão sendo ensinados, por implicação, que não existe tal coisa como uma realidade firme e objetiva que a mente do homem deve aprender a perceber corretamente; que a realidade é um fluxo indeterminado e que pode ser qualquer coisa que o rebanho queira que seja; que a verdade ou falsidade é determinada pelo voto da maioria. E mais: que o conhecimento é desnecessário e irrelevante, já que as opiniões do professor não valem mais do que a fala do aluno mais obtuso e ignorante; e, portanto, que razão, o pensamento, a inteligência e a educação não têm nem importância nem valor”.

De forma distinta, porém complementar, Mário Ferreira demonstra justamente por onde pode se dar esse “início”, não apenas explanando sobre a diferença do Homem para os animais, mas verdadeiramente ensinando do que somos capazes com nossa possibilidade de perfeição intelectual: ele não precisa demonstrar com “atos” (por exemplo, não necessita contar uma invenção de algum gênio), mas a simples descrição da potencialidade do Homem nos faz enxergar que não fomos feitos para o “não pensar”, para ser pessoas irracionais, ou ser como uma ameba, que apenas “existe”. Somos muito mais que isso, e “recomeçar do início” requer esse trabalho de base, de reafirmar o que realmente somos chamados a ser.

Santo Tomás de Aquino fala sobre a questão do uso da razão como fim último do Homem, ou seja, fomos criados para utilizar e exponenciar nossa inteligência e é nesse sentido que escreve o Professor Mário Ferreira, quando diz que há semelhanças entro o Homem e os animais, até certo ponto, mas também uma diferença essencial que nos separa de todos os outros seres na Terra: 

“E essa operação de avaliar as coisas o homem faz, julgando seus valores e suas possibilidades. Tudo isso prova que o homem tem uma capacidade de julgar as coisas, de avaliá-las. Também os animais revelam possuir uma capacidade semelhante. 

Mas, no homem, ela procede diferentemente, por ser mais complexa. É que não somente avalia as coisas segundo a conveniência ou não que elas representam para ele, mas as avalia além do que elas revelam aos seus sentidos. Ele as julga pelo que elas são, pelo que elas serão capazes de proporcionar, pelo valor de suas possibilidades quando utilizadas, pelo significado mais profundo que elas possam ter. Ora, de nada disso o animal é capaz.

É que nessas avaliações do homem, já penetra a inteligência, a capacidade de construir conceitos, de formular ideias, de promover raciocínios. De nada disso são capazes os animais. Ora, tudo isso são perfeições de que carece os animais. A perfeição é a manifestação do próprio ser, porque atualiza algo que podia ter, e, quando a tem, o ser torna mais perfeito, mais acabado.
Assim, a criança, que ainda não fala, poderá um dia falar, e nesse dia será mais uma perfeição humana. É como a semente na terra da qual se gera o arbusto, e o arbusto do qual se gera a árvore frutífera, e desta, o fruto precioso. Tudo isso são perfeições, são acabamentos de ser que se torna, assim, mais perfectivo do que antes. A inteligência, no homem, é, assim, a sua grande perfeição, já que é ela que nos distingue dos animais”.

Ainda nesse sentido, o Professor continua mais a frente, dizendo que buscamos bens remotos, diferentemente dos animais, que buscam os bens apenas para saciá-los imediatamente: “o homem não tende apenas para o bem próximo, mas tende para o bem. Bem é tudo quanto é bom. Bom é tudo quanto é apto a satisfazer a exigência de uma natureza. Bem para o homem é tudo quanto é bom para satisfazer as exigências de sua natureza (lembre-se, nossa inteligência). O animal tende para esse bem próximo, mas o homem tende também para um bem remoto. E como é capaz de conceituar perfeição, o homem tende para um bem perfeito, o Supremo Bem.
E assim como o homem tende para o Supremo Bem, tende ainda para o Supremo Verdadeiro, porque não lhe satisfazem as verdades próximas que encontra, pois quer alcançar a verdade final, a verdade perfeitíssima, a Verdade Suprema”.

Ora, é essencial que entendamos esse raciocínio do filósofo, pois fundamenta e nos faz realmente assimilar pensamentos como o de Santo Agostinho, que diz que nada aqui no mundo nos completa, ou mesmo de Gustavo Corção, quando que diz que “se a nossa vida se limitasse ao que está ao alcance dos nossos olhos, nossa vida seria um absurdo”. Ainda, essa argumentação permite também entender o porquê de o filósofo considerar o Cristianismo como a religião do homem, ou seja, algo que se torna inerente à nós, a nosso desenvolvimento.

Continuemos nos próximos textos.

Cristianismo: A Religião do Homem, Mário Ferreira dos Santos



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