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25/11/2023 às 08h00min - Atualizada em 25/11/2023 às 08h00min

Cristianismo: A Religião do Homem – Parte I

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Nosso país perdeu a mão da educação em algum momento, relativamente recente, do nosso passado. A bem da verdade, o mundo tem caminhado cada vez mais em direção ao “despertencimento” – como disse Ortega y Gasset, o “homem massa” se julga superior às gerações anteriores, assim, não precisa delas – ao desprendimento das tradições que nos foram legadas por nossos antepassados. Essa falta de ligação, esse “desenraizamento”, tem como consequência, em grande parte, pelo afastamento do cristianismo, e, notadamente se intensificando com as ideias de Nietzsche, sobre a negação de Deus, a supressão da ordem, o niilismo se arraigou pela sociedade, produzindo, como disse C.S. Lewis, “homens sem peito”, vazios de sentimentos.

Acredito que poucas coisas são mais danosas para a sobrevivência da espécie humana do que a insensibilidade, a falta de tato, a deficiência na percepção da realidade, que culmina nessa própria negação do homem. A resposta para essas “debilidades” reside justamente naquilo que o mundo mais ataca: a religião, o Cristianismo. Esse “pequeno” detalhe – para aqueles que o sabem, se trata do mais essencial – são princípios que, a despeito de se traduzirem em pequenos atos no nosso dia a dia, podem mudar significativamente nossas vidas. 

Temos mania de grandeza, como se apenas as coisas grandes fossem dignas de serem observadas; perde-se assim a percepção da beleza do ordinário, e deixamos de notar as pequenas coisas que realmente importam, pois de fato são o que constituem a maior parte de nossa vida: não é aquela viagem para uma praia, mas sim o tomar café da manhã todos os dias com quem se convive, o respeitar seus colegas de trabalho que estão todos os dias contigo, e principalmente na atenção que dá à quem ama. Como diz Ortega y gasset, “para quem o pequeno não é nada, o grande não é grande”. Um desvio de um centímetro hoje muda o destino em dez quilômetros em dez anos. Então, sim, pequenos detalhes fundamentam e importam em nossas vidas. 

No livro de Jó, há uma descrição de dois monstros, que são Behemoth e Leviatã, ambos representando uma guerra entre a Humanidade e a Natureza. Simbolicamente, como ensina o Professor José Monir, é como se o mundo quisesse extirpar-nos daqui; porém, como criação divina superior, Deus nos criou para dominar a natureza. Evidente que não é uma luta fácil, mas o Homem, representado por Behemoth, como um “monstro” terrestre – uma espécie que se assemelha à um hipopótamo –, que tem seus pés fincados na lama, ao passo que o Leviatã representando a natureza, como uma espécie de dragão aquático, que fica submerso, e é sempre dominado pelo outro, o que reflete a “vitória” do Homem nobre a Natureza, e um perfeito equilíbrio, na famosa imagem de Willian Blake.

Por que contei essa simbologia? Porque realmente acredito que seja uma excelente representação daquilo que vivenciamos aqui, essa luta da carne contra o espírito, a batalha do mundo contra nossa santidade. Se levarmos em conta, tanto os dez mandamentos, quanto os sete pecados capitais, podemos ter um vislumbre daquilo que seria a melhor forma de se viver em sociedade, por mais que os ditos “modernos” se neguem a reconhecê-lo. Assim, desse modo, ambos descrevem condutas e princípios norteadores daquilo que “devemos ou não” fazer, irradiando a partir dali inúmeras outras “leis” que guiam nossa vida. Contudo, o Cristianismo é muito mais que isso. Não se trata apenas de um conjunto de regras, e é justamente isso que o Filósofo Mário Ferreira dos Santos explica nessa obra.

Importante, entretanto, é que não apenas saibamos o que fazer, mas de forma essencial, saber a motivação de nossos atos. O escritor diz: “§22 Mas que fazemos quando entendemos alguma coisa? Sabemos que ela é isto ou aquilo. (...) Então sabemos o que as coisas são, quando sabemos qual é o seu conceito. §23 Mas esse saber não é o único que alcançamos. Nós sabemos mais quando sabemos porque uma coisa é o que ela é. Podemos conjeturar que atirando uma semente à terra dela nascerá um arbusto, depois uma árvore que dará frutos. Mas se não sabemos de que é essa semente, não saberemos ainda quais frutos poderão vir. Quando sabemos do que dependem as coisas realmente para serem, sabemos muito mais.”

Já disse em algum momento como tive a sorte de ter em mãos alguns escritores fantásticos; mas até para ter essa “sorte”, é preciso estar com os “ouvidos abertos”, como diz Gustavo Corção. Já havia lido em algum lugar sobre o Mário Ferreira dos Santos, sobre a magnitude e importância de sua obra, mas muitas vezes, atordoados pelos afazeres diários e pelas ocupações, deixamos de lado esses livros filosóficos, por achar que estarão muito fora da nossa realidade. Muitas vezes também, temos uma visão deturpada sobre o que de fato é a filosofia, como se fosse uma matéria reservada apenas aos eruditos, sábios e estudiosos. O Professor Olavo conceitua filosofia como sendo a “unidade do conhecimento na consciência, e vice-versa”, ou seja, é basicamente aquilo que aprendemos e incorporamos em nossas vidas. 

Ainda, cada vez mais me convenço de que se trata também, apenas de uma questão de familiaridade, como escreveu Sêneca, “Tal como, para quem olha de longe, a maioria dos lugares costuma parecer inacessível e de aspecto homogêneo, dado que a distância engana os olhos, depois, chegando mais perto, aquelas mesmas áreas que a ilusão dos olhos compactara em uma única coisa se abrem pouco a pouco, e então se torna suave o declive daquelas elevações que à distância aparentavam ser precipícios”. Assim, quanto mais nos aproximamos, mais ganhamos bagagem para poder entender e interpretar o que vemos.

Continuarei a falar sobre os ensinamentos desse grande Filósofo nos próximos textos.

Cristianismo: A religião do Homem, Mário Ferreira dos Santos.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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