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02/11/2023 às 08h00min - Atualizada em 02/11/2023 às 08h00min

Condição Humana

IVONE ASSIS
É comum alunos se desesperarem em véspera de provas, ou de vestibulares, o mesmo acontece com os concurseiros. A maioria deles, não se “contentando” apenas com a ansiedade, sentem enjoos, diarreia, tico-tico nervoso, além de passar a noite “estudando”, não tomar as devidas refeições e nem mesmo conversar com quem quer que seja, até que se termine a dita prova. Esse isolamento, essa privação alimentar e esse estudar “descabeladamente” é na ilusão de super esforço e no desejo de ser aprovado, o grande problema é que depois do “Seja o que Deus quiser”, grande parte (senão a maioria) desses esforçados estudiosos são reprovados. Será que Deus não quis? Nada disso! O erro reside na estratégia, na execução do plano de estudos. Afinal, como escreveu Charles Chaplin, “Não sois máquina, homens é que sois”, e na condição de humanos é preciso respeitar o organismo, dormir o suficiente, estudar de modo correto e se alimentar bem. Mente descansada acerta mais.

Nesta semana, enquanto lia “Aprendendo Inteligência” (2008), do professor Pierluigi Piazzi, uma obra de neuropedagogia que propõe instruções para o cérebro, deparei-me com as instigantes perguntas: Por que estudar? Quando estudar? Quanto estudar? Como estudar? Não por acaso, estes questionamentos estão no capítulo “A ‘programação’ do seu cérebro”. Parecem situações óbvias, mas não são. E cada resposta desvendará o mistério dos resultados das provas. Ler e compreender é saber.

Estudos de último fôlego só servem para ampliar o nervosismo, isso não é novidade para ninguém, mas sobre esse assunto, Piazzi escreve: “Como conseguir tirar uma boa nota sem aprender? A resposta é simples: ESTUDANDO EM CIMA DA HORA! Todo mundo estuda o mais em cima da hora possível”. Ele não está contradizendo minha tese do nervosismo, mas, sim, ratificando-a. Pois, o estudo de último instante, aquele em que se se tomar um tropeção esquece tudo, é o que chamamos de “Decorar”, e isso não é aprendizagem. Logo, decora-se agora, faz a prova, e já sai de lá sem saber nem pergunta, nem resposta. Serviu tão só para alcançar a nota! E olhe lá.

Em outro tópico Piazzi anota: “A humanidade está sendo imbecilizada cada vez mais. [Publicam-se] ‘pesquisas’ querendo mostrar que as crianças e os jovens de hoje são mais inteligentes que os do passado”, mas isso é mera demonstração de “que é nos meios de comunicação que o processo de degradação intelectual está avançando mais rapidamente”. Afinal, todos nascem no Ponto Zero, e o aprendizado é uma constante. Assim sendo, o que se passa é uma falsa aprendizagem; é um saber na rasura. Mais e mais as pessoas se entregam ao automatismo. Outro dia, em uma grande varejista, fiz uma pequena aquisição e paguei em dinheiro. Ao receber o troco, para o meu espanto geral, vi que a pessoa do caixa não conhecia os cálculos básicos da matemática, e pouco sabia sobre dinheiro, porque está acostumada ao PIX e ao Cartão. Foram longos 10 minutos para me devolver vinte e poucos reais. Uma verdadeira odisseia. É lamentável que os jovens não se deem conta do quanto estão perdendo.

E como afirma Piazzi, “Estudo não é questão de quantidade, mas de qualidade. Você não deve estudar mais, deve estudar melhor”. Ah, que frase mais acertada esta. Em sua obra o autor explica que não se trata de quantidade, mas de qualidade e constância. Um pouco, todos os dias. E mais, “as aulas do dia devem ser estudadas no mesmo dia, antes que se passe uma noite de sono!”, porque existe uma “ciência” entre o aprender, dormir, sonhar e acordar.

Todos os dias vemos pessoas fracassarem e pessoas alcançarem sucesso absoluto. “Qual a diferença?” Segundo Piazzi “Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, os que têm sucesso não são, necessariamente, os mais inteligentes. Aliás, é bom adiantar que essa história de que existem pessoas com maior ou menor grau de inteligência é besteira! O que há [...] são pessoas que aprendem a usar o cérebro e outras que o utilizam mal”. E esse bom uso se inicia por respeitar a própria condição humana.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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