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23/09/2023 às 08h00min - Atualizada em 23/09/2023 às 08h00min

A Nova Era e a Revolução Cultural – Parte II

EDMAR PAZ JÚNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Continuando com os estudos sobre essa obra, em sua primeira parte, o Professor Olavo explica que a teoria de Fritjof Capra, a Nova Era – que a bem da verdade, Olavo a utiliza apenas como exemplo pela manipulação de suas divisões internas do marxismo, e não necessariamente por sua importância – tratava-se apenas de uma espécie de caminho distinto, mas com a mesma direção e mesmo objetivo: a supressão da inteligência e da visão objetiva sobre a realidade. “O decisivo em ambos os casos não é a argumentação racional, mas uma adesão prévia, volitiva e sentimental: o sujeito ‘sente-se’ de repente, como um todo, identificado com a Nova Era ou com a causa do proletariado, e em seguida passa a ver os detalhes de acordo com o novo quadro de referência”.

Essa “denúncia” que Olavo apresenta em seu livro – que em certa medida se mostra gravíssima, uma vez que analisando detidamente, é absolutamente perceptível o rebaixamento cultural em nosso país, e como bem dizia o Professor José Monir Nasser, a única saída para esse lamaçal moral que nosso país se encontra, é a retomada da alta cultura, a ideia de se falar sobre valores morais e virtudes –, é recheada de exemplos e fatos que comprovam, não somente a tese que defende, mas que de fato já estava sendo implantada (naquela época, início dos anos 1990), e hoje, de forma ainda mais avançada, essa agenda de domínio intelectual sobre as massas: retira-se dos indivíduos a capacidade de raciocinar sobre as circunstâncias reais que permeiam nossa vida.

“Dissolve-se também a autoconsciência reflexiva e crítica, pela qual o indivíduo humano é capaz de sobrepor-se às ilusões coletivas e julgar seu tempo. Fechado na redoma do momento histórico, é vedado ao indivíduo enxergar para além dele, exercer os privilégios de uma inteligência autônoma, ter razão contra a opinião majoritária – seja ela a opinião conservadora do establishment ou o anseio coletivo dos ambiciosos insatisfeitos”.

É interessante notar por esse ponto, como o Professor deixava claro que sua intenção não era a de contrapor uma ideologia com outra, mas sim fazer com que as pessoas tivessem acesso a todos os conhecimentos, podendo a partir daquilo que assimila, decidir se concorda com uma, com outra ou nenhuma. 

O que Olavo não aceita, e também nós assim o devemos refletir, é que tenhamos apenas uma corrente ideológica ventilando suas mazelas e propagando ideias absurdas aos quatro cantos, e asseverando “não existir” outro pensamento que não o dela. É exatamente essa a “briga” do Professor contra a esquerda, que arroga para si uma falsa hegemonia intelectual, forjada principalmente pela supressão de outras correntes de pensamentos, seja pelo ataque aos emissores, seja pelas dificuldades impostas no processo de divulgação, mas nunca pelo embate direto, pelo confronto das ideias.

Esse domínio, essa agenda, é ainda de tal modo nefasta, que depois de “iniciada”, reverbera seus efeitos por bem mais tempo, quase como a pecinha do dominó, em que derrubada a primeira, todas as outras caem na sequência; esse também é um dos pontos levantados por Bezemenov, no seu livro “Subversão”. Olavo: “E não pensem que, para pôr em ação esses anticorpos verbais, tenha sido necessário emitir uma palavra de ordem, distribuir avisos de algum comitê central, mover alguma complexa cadeia de comando. Nada disso. A reação já se produz sozinha, por automatismo, quase inconscientemente. Todos mentem uníssono – e ninguém tem culpa porque ninguém mandou ninguém fazer nada”. 

A organicidade aleatória esconde a real intenção de quem a pensa: tudo parece desproposital e sem cunho ideológico, mas no fim, a mera abstenção de defesa daquilo que é indubitável, já torna a própria coisa dúbia. 

“Esse efeito de conjunto deve tender à mudança do senso comum desejada pelo Partido (esquerda), pouco importando que cada obra, tomada isoladamente, nada tenha de marxista ou seja mesmo destituída de qualquer valor propagandístico. (...) No gramscismo, qualquer obra literária pode contribuir para a propaganda marxista, dependendo apenas do contexto em que é divulgada – tal como num jornal o teor das notícias tomadas individualmente interessa menos do que sua localização na página (talvez um dos maiores exemplos nesse sentido seja o que tivemos durante o mandato do ex-presidente Bolsonaro, em que todas as notícias ruins que faziam parte da pauta do dia dos editoriais eram coladas nele, pouco importando se houvesse ligação ou não com seu governo), ao lado de outras notícias cujo efeito de conjunto imprime um novo sentido a cada uma delas.” Uma simples “isenção” diante de ambos os lados já favorece uma narrativa, e como diz o Professor, “moderação na defesa da verdade é serviço prestado à mentira”.

Essa “intenção desinteressada” provoca um efeito ainda pior: a desresponsabilização dos líderes desses movimentos. É sempre o “coletivo”, um grupo, uma comissão quem governa, e nesse sentido, quando uma “massa” governa, não há como individualizar as responsabilidades: se todos são responsáveis, ninguém é responsável. É a mesma ideia por trás de que o criminoso é “vítima da sociedade”, ou seja, ao colocar a culpa na sociedade pelos delitos individuais, se delega a culpa, que passa a ser de... ora, de ninguém! Essa sensação de impunidade, de irresponsabilidade, acaba por se irradiar por toda a sociedade, culminando também nessa mistura de decadência moral, arrogância de direitos e desídia de deveres.

O que o Professor Olavo expressa como máxima urgência é exatamente a retomada da consciência individual, a abstração pessoal de um coletivo que não pensa, mas apenas obedece. “É um conjunto de atitudes mentais, que pode estar presente em quem jamais ouviu falar de Antonio Gramsci, e que coloca o indivíduo numa posição tal perante o mundo que ele passa a colaborar com a estratégia gramsciana mesmo sem ter disto a menos consciência”. A principal necessidade de se conhecer a origem dessas ideias é justamente essa: não se tornar marionete nas mãos daqueles que detêm o poder.

A Nova Era e a Revolução Cultural, Olavo de Carvalho.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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