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31/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 31/08/2023 às 08h00min

O aniversário

IVONE ASSIS
Muitas coisas são mais que especiais nesta vida. Para mim, o nascimento é uma dessas, por isso gosto de lembrar e celebrar a vida neste dia. Seja no primeiro chorinho, seja no bater palmas dos anos seguintes. E gosto desse evento não apenas para as pessoas, mas para acontecimentos e cidades também. Em conformidade a isso, hoje, 31 de agosto de 2023, é uma dessas datas especiais.

Ana Lins, a nossa Cora Coralina, em seu poema “Assim eu vejo a vida”, diz: “A vida tem duas faces: / Positiva e negativa / O passado foi duro / mas deixou o seu legado / Saber viver é a grande sabedoria [...]”. Em cinco versos a poetisa goiana conseguiu abrir uma galáxia de reflexões. É nesse positivo e negativo que moram as escolhas, e é na sabedoria de saber viver que reside o sucesso.

Hoje se completam 34 anos que eu escolhi Uberlândia para morar. A face negativa foi o passado duro. A multidão de rostos, ruas e lugares desconhecidos com a qual eu e minha mala nos deparamos. Aquela pessoa assustada e maravilhada, tudo ao mesmo tempo, era apenas uma menina a contemplar um de seus (re)nascimentos. Tomava conta de mim, a gratidão ao Criador.

Mas nada é por acaso, naquele dia, descobri que a cidade de Uberlândia também comemorava seu (re)nascimento. Saíra da condição de São Pedro de Uberabinha para a condição de Cidade Menina, mas hoje se tornou esta “Mulher” decidida, acolhedora, cheia de oportunidades... um polo comercial, uma cidade referência. De lá para cá, nós duas viemos celebrando juntas nossas conquistas.

Anos depois, fui convidada a compor o quadro de colaboradores da Rádio FM 107,5, no programa Trocando em Miúdos, do sábio e admirável Márcio Alvarenga, onde faço o “Ponto de Leitura” todas as segundas-feiras. Não demorou muito, descobri, aquele programa também nascera no dia 31 de agosto, portanto, comemora hoje 36 anos.

Já a imponente Uberlândia chega, hoje, no auge de seus 135 anos. Uma cidade centenária tem tanto a ensinar e a oferecer aos seus moradores que chega a ser emocionante. Ah, mas não se engane, nem tudo são flores. Há dias de febre alta, dias de fome, dias de choro e outras mazelas tantas. Contudo, os dias de conquistas, de saciedade, de riso alto e outras emoções superam aos demais, e isso basta para que sejamos gratos.

Entre sonhos, decepções, conquistas... encontrei-me de volta à escrita de Cora Coralina: “Que eu possa dignificar / Minha condição de mulher, / Aceitar suas limitações / E me fazer pedra de segurança / dos valores que vão desmoronando”. Foi pensando assim que eu me descobri forte e vencedora e, seguindo o pensamento, publicado em “Crepúsculo dos ídolos (ou como filosofar com o martelo), de Nietzsche: “O que não me mata me fortalece”, posso dizer que, na “escola de guerra da vida”, nasci poesia, fui rascunho, mas me tornei um livro clássico.

Agora, de volta à poetisa Cora Coralina: “Nasci em tempos rudes / Aceitei contradições / lutas e pedras / como lições de vida / e delas me sirvo / Aprendi a viver”. Em minha filosofia de vida, ora sou um “eu lírico”, ora sou “documentário”, “crônica”, “conto”, “vinheta”... não importa, em todas as ocasiões, sou “Ensaio” de mim, cuja completude não se completa, porque somos seres em construção, assim como as cidades, que estão sempre inacabadas, e a cada dia se tornam melhor naquilo que oferecem. Como aprendemos com Heráclito, o pai da Dialética, a diversidade nos ensina, afinal, nesta vida trilhamos o “caminho entre as ideias”, por isso, o importante é que no balanço existencial tenhamos um saldo positivo para repassar como legado.

Para concluir, retomo meu amor ao (re)nascimento, pois, embora nasçamos maravilhosamente bem, nascemos com o propósito de evolução e, às vezes, tropeçamos na “pedra no meio do caminho”. Então, é renascendo que temos a oportunidade de superar a pedra, de nos tornarmos seres melhores, assim como a cidade que se remoça todos os dias, por meio da reconstrução. Daí o meu motivo para brindar o renascer, o aniversário.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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