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26/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 26/08/2023 às 08h00min

A Nova Era e a Revolução Cultural – Parte I

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Há algumas mentes que possuem a tremenda capacidade de organizar ideias. Essa maneira de raciocinar, adentrando no pensamento dos autores, mas sem, contudo, se deixar contaminar com aquilo que determinado autor diz, olhando objetivamente para o que se pretende com a obra, e mais, fazendo uma verdadeira análise crítica, têm como pressuposto um vasto conhecimento anterior de outros inúmeros pensadores: para que saibamos explicar o significado de uma palavra, precisamos saber pelo menos outras cem. O que essas mentes brilhantes fazem, a despeito de estarem gritantemente acima da média comum, é possível para nós também, ao começar a trilhar esse mesmo caminho com a busca de conhecimento.

Somado à ideia de amplo conhecimento, há ainda uma outra questão que acredito ser de suma importância, de forma que pode até faltar a primeira, mas não essa: a percepção da realidade objetiva. Mesmo que não tenhamos determinado conhecimento em algumas áreas, a capacidade de enxergar o “real” é elementar no cotidiano, pois evita uma série de situações desagradáveis que podem vir a ocorrer. Não precisamos saber exatamente como se monta um motor de um carro, mas é preciso estar atentos aos sons fora do comum que ele produz, para evitar “ficar pela estrada” em algum momento. Mesmo assim, “saber” alguma coisa sobre o motor pode evitar também alguma “cilada” que algum mecânico possa te colocar, inventando problema onde não existe. Ou seja, não precisa saber sobre o motor para perceber que há algo errado, mas é bom saber para não cair em armadilhas.

Assim também funcionam as circunstâncias em que convivemos com outras pessoas; mesmo que não saibamos todas as teorias, ideologias e pensamentos, conseguimos ter um mínimo de noção de que há algum erro quando percebemos a realidade, mas só poderemos ter meios de nos defender, ou se precaver, quando buscamos conhecer as causas e os princípios que nos guiam, não apenas em sociedade, mas principalmente no tocante ao desenvolvimento individual.
O professor Olavo é um dos maiores pensadores brasileiros, quiçá, do mundo, não apenas por sua inteligência ímpar, mas bem mais pela capacidade de adequar seus pensamentos à realidade, ou seja, utilizar o conhecimento objetivo da natureza em sua pura forma: a descrição exata de sua aparência visível e a investigação dos princípios invisíveis que a governam.

Já no início da primeira parte da obra, ainda explicando sobre o que seria a “Nova Era”, proposta por Fritjof Capra, Olavo explica que esta se contrapõe à um dos principais métodos de aplicação do marxismo, em sua corrente fundada por Antonio Gramsci. “O gramscismo propõe uma revolução cultural que subverta todos os critérios admitidos do conhecimento, instaurando em seu lugar um ‘historicismo absoluto’, no qual a função da inteligência e da cultura já não seja captar a verdade objetiva, mas apenas ‘expressar’ a crença coletiva, colocada assim fora e acima da distinção entre verdadeiro e falso.” Há, na verdade, uma oposição ao gramscismo, mas dentro do espectro amplo do marxismo; ou seja, cria-se uma falsa dicotomia – mais uma – para que os que acreditem estarem “combatendo” o pensamento de esquerda não percebam o pano de fundo em que se trava a luta. Ambos pretendem operar uma “mutação”, um giro de cento e oitenta graus no pensamento humano, tirando o equilíbrio da relação entre ordem superior, natureza e homem, simplesmente excluindo a ordem superior, como se não precisássemos mais dela.

Há uma “releitura” do passado com as ideias “atuais”, renomeando fatos e subvertendo-os à um ideal sem contraditório: o passado teve suas circunstâncias específicas, e não se pode, hoje, incutir intenções à um determinado período que não há como averiguar – na verdade, mesmo com documentos dizendo o contrário, a esquerda ainda assim o faz. Reescreve-se, desta forma, a história como bem entender. O que acontece na sequência, é que “aproveitando-se da ignorância das novas gerações, que ao despertarem para o mundo da ‘cultura’ já a encontram identificada à propaganda ideológica como se este fosse o seu estado natural e seu destino eterno”, fazendo um verdadeiro aliciamento psicológico das crianças, transformando-as em inúmero militantes sem o saber, e não em estudantes.

Esse primeiro livro da trilogia proposta pelo Professor Olavo, da qual ainda fazem parte os livros “O Jardim das Aflições” e “O Imbecil Coletivo”, apresenta, já no início dos anos 1990, o que se concretiza bem diante dos nossos olhos nos dias atuais: a subversão do real pelo abstrato imposto de cima para baixo. O próprio enquadramento “à força” em um determinado espectro ideológico, é per si, a imposição de uma escravidão psicológica que rebaixa a condição humana. Ou você é “um” ou “outro”, não pode ser mais importante que o pensamento livre.

“(...) as ideologias, quaisquer que fossem, estavam sempre limitadas à dimensão horizontal do tempo e do espaço, opunham o coletivo ao coletivo, o número ao número; perdida a vertical que unia a alma individual à universalidade do espírito divino, o singular ao Singular, perdia-se junto com ela o sentido de escala, o senso das proporções e das prioridades, de modo que as ideologias tendiam a ocupar totalitariamente o cenário inteiro da vida espiritual e a negar ao mesmo tempo a totalidade metafísica e a unidade do indivíduo humano, reinterpretando e achatando tudo no molde de uma cosmovisão unidimensional.”

Muitos podem querer alegar – e a maioria acaba por fazê-lo repetindo argumentos, sem nem ao menos se dar ao trabalho de refletir sobre o que diz; “pensar pra quê?” né – que a questão da existência de uma ordem superior não faz parte mais do mundo atual, que a humanidade superou essa fase de espiritualidade, que os homens estão mais evoluídos e que não precisam mais de nenhuma “divindade” guiando seus passos, que o mundo se tornou “descolado”. Tanto assim o é, que as pessoas têm medo de falar sobre religião, como se fosse algo retrógrado, do passado, um item que não se encaixa mais no mundo atual e que já está fora de “moda”. Esse descolamento, contudo, foi o início do nosso declínio. 

Os que dizem termos superado a fase religiosa não se atentam, porém, que em todos os momentos da história em que confiamos apenas no homem para buscar algum meio de “salvação”, nenhum foi eficaz. Há essa necessidade de uma ordem superior, de algo que nos impulsione a ser mais que meros “usuários” do mundo. 

O que o Professor nos ensina o tempo todo, é que é possível sair dessa armadilha posta por aqueles que desejam o poder apenas pelo poder, e que para isso rebaixam o ser humano à uma espécie de subvida dependente de estímulos materiais, supérfluos e inócuos. Existe sim uma saída, um farol, que pode nos guiar em meio à tempestade caótica atual.

A Nova Era e a Revolução Cultural, Olavo de Carvalho.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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