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19/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 19/08/2023 às 08h00min

Conservadorismo

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
O que aprendi – ainda muito pouco diante da infinidade de ensinamentos disponíveis, diga-se de passagem – com o Conservadorismo? Há uma erudição exagerada nos conservadores atuais. Estamos cometendo assim, o mesmo erro que a esquerda comete, ao perder o contato com a realidade e, consequentemente, perdendo-se a ligação com as pessoas que integram a maior parte do tecido social: o brasileiro médio, principalmente os mais humildes – que são mais conservadores do que muitos que ficam em suas salas fumando charutos e alisando seus belos bigodes.

Acredito que o conservadorismo seja bem mais que uma ideologia, porque também há boas ideias – mesmo sendo extremamente raras – naqueles que se posicionam ideologicamente à esquerda, e que os conservadores acabam por reconhecer como boas; ou seja, trata-se bem mais sobre um modo de vida do que propriamente espectro político, porque além de conservar o que foi e é bom para a sociedade, aceitamos mudanças que ocorrem para agregar benesses na vida das pessoas, incorporando os ensinamentos mais saudáveis. O que muda nos casos de como a esquerda e o conservadorismo enxergam essas situações, passa pelos meios que ambos propõem para atingir um estado desejável de coisas: o “bem social”.

O problema, na verdade, é que há várias pautas que a esquerda arroga para si, como se a versão deles fosse a única correta, e quando nos posicionamos, dizendo que acreditamos existirem outros meios mais eficazes, somos taxados exatamente daquilo que estamos combatendo. O lado humano, a questão de desejar o bem ao próximo, é um exemplo delas.

Num exemplo que pode tornar visível essa avocação de unanimidade na defesa da humanidade, é em relação ao racismo. Ora, apenas uma absoluta minoria no Brasil realmente pensa que há distinção de qualidades por conta da cor da pele, de modo que de bate pronto, podemos quebrar a ideia de racismo estrutural: basta olhar para nossas próprias famílias e ver quantos de nós que não temos pais, irmãos, parentes e até mesmo amigos das mais variadas cores de pele? Como então o racismo é estrutural – algo que se refere a ser intrínseco a todos – se nós mesmos não somos racistas? Dizer que negros são inferiores apenas por conta de sua cor de pele é, não apenas menosprezar algo que nada tem a ver com sua condição, mas também jogar por terra o esforço daqueles que lutam todos os dias para serem melhores. Na questão das cotas raciais, se não concordo com a forma como são feitas, automaticamente sou colocado pela esquerda como racista, mesmo sendo negro.

Mas existe um outro argumento, visto que esse da cor em si não se sustenta, que é o da “reparação histórica”. Numa breve análise lógica, também, podemos facilmente desmontar esse sofisma barato que apenas se justifica para influenciar massas a bel prazer dos que desejam se manter no poder: dizem que se aplicam programas de ações afirmativas para reparar os erros do passado, mas quem de nós estava no passado para ser “ressarcido” de um possível dano sofrido? Como identificar quem realmente precisa ser beneficiado por tal ação? Como ensina Thomas Sowell, se não temos clareza de quem realmente tem de ser “contemplado” com tais programas, melhor é olhar para aqueles que realmente necessitam nos dias atuais, e não olhar para o passado dos que hoje possuem situações melhores. 

Gosto de utilizar um exemplo simples: suponhamos que eu seja afrodescendente por ter um bisavô nascido em angola, nesse caso, justificaria minha ascendência africana; mas, como Angola foi colonizada por Portugal em meados dos anos 1500, imagine que o avô do meu bisavô fosse português; nesse caso eu seria o que, descendente de europeu ou descendente de africanos? Sou brasileiro, ponto. Não há reparação por algo que não sofremos, não passando de mera argumentação barata – que arrebata apenas os despreparados, que servem como massa de manobra para quem detém o poder. 

Há, ainda, uma outra questão que versa sobre a história da escravidão: muitos outros povos, não somente os negros, foram escravizados durante algum período da história da humanidade. Os hebreus, pelos egípcios; os egípcios, pelos egípcios; os negros, pelos negros; japoneses, chineses, russos, judeus, armênios, ucranianos, poloneses, e vários outros, que infelizmente marcaram a passagem de determinados povos, passaram por essas atrocidades. Como reparar, então, todos os povos que sofreram, se na verdade toda a humanidade sofreu? Precisamos aprender a lidar com o passado, de forma que não podemos perder de vista o que mais importa: não repetir os mesmos erros.

Quando insistimos na questão dos estudos, sobre a importância de conhecer a si mesmo e a história, e não somente as informações e “últimas” notícias do dia, é justamente para que saibamos escapar dessas armadilhas mentais, travestidas de bom caratismo e bom mocismo, mas que na verdade funcionam apenas como manipulações das massas “deseducadas” propositalmente. Enquanto a esquerda acredita que esse “bem social” deve ser imposto por alguma ordem superior – em uma verdadeira política de ressentimentos e que, por si só, retoma a questão da escravidão, mesmo que seja apenas psicológica –no caso, implantado pelo Estado, os conservadores defendem que cada um deve ser livre para conseguir difundir o bem da melhor forma que entender. No final das contas, estudar é a melhor solução não somente para a pessoa em si, mas principalmente para a sociedade como um todo: só há evolução social, quando o indivíduo evolui primeiro.
  
Conservadorismo, Roger Scruton.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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