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12/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 12/08/2023 às 08h00min

A Vida Intelectual – Parte IV

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
É importante olhar para um aspecto muito importante – na verdade, é um requisito essencial – que trata os dois primeiros capítulos da obra de Sertillanges: a ideia do que é ser um intelectual e qual o papel – fundamental – da Fé nessa caminhada daqueles que se propõem a buscar o conhecimento. Mais uma vez, Fé e inteligência caminham juntas; ciência e razão não são inimigas que se gladiam pelo mesmo fim, são, no fundo, companheiras que quando juntas, fortalecem ainda mais aquele que as buscam.

“A verdade aproxima-se dos que a amam, dos que a acolhem, e esse amor não existe sem virtude. (...) O verdadeiro brota no mesmo terreno que o bem; suas raízes comunicam-se. Separados dessa raiz comum, e por isso menos arraigados em seu terreno, ambos sofrem, a alma definha ou o espírito desfalece. Ao contrário, alimentando o verdadeiro esclarecemos a consciência; fomentando o bem, orientamos o saber.”

Muitas vezes somos levados a acreditar que o simples fato de sentar diante de um livro ou uma disciplina escolar e lê-los, nos fará conhecer aquilo que está em nossas mãos. Mas a preparação para que possamos absorver o que quer que queiramos vai bem além de aprender a ler e escrever. O que Sertillanges deixa transparecer nos seus escritos, é que há a necessidade de uma entrega, uma “metanoia” – que significa uma mudança de pensamento, mudança no agir – que fará com que nossa consciência se expanda cada vez mais. 

Essa mudança, que a princípio deve ser intrínseca, e posteriormente, com o passar do tempo e com a repetição se torna um hábito mais bem sedimentado em nossas vidas, faz com que não só nos aproximemos de nossos objetivos, mas consequentemente nos tornemos pessoas melhores. É o que o autor insiste em dizer, pois tanto a verdade que se busca, como o conhecimento que surge como fruto, tem em comum a raiz do bem.

“O bem moral é o desejável medido pela razão e proposto à vontade como fim. Os fins se inter-relacionam. Todos dependem de um fim último, e é este que se une à verdade e identifica-se com ela. Junte essas proposições e verá que o bem moral, se não é idêntico à verdade sob todos os aspectos, dela depende, através dos fins do querer. Há, portanto, entre os dois uma ligação mais ou menos frouxa ou estreita, mas infrangível.”

A Igreja, o Cristianismo, funcionam como pano de fundo de toda essa busca desejada por sabedoria. Cada vez que se analisa racionalmente os fundamentos que baseiam a nossa Fé, mais se entende que há uma união indissolúvel de ambos, razão e ciência, e fazendo uma pequena exortação, que quase se assemelha a um paradoxo, quanto mais entendo com a razão, mais acredito com a Fé. Como diz Gustavo Corção, “se a nossa vida se resumisse ao que está ao alcance dos nossos olhos, nossa vida seria um absurdo.”

“Cada verdade é um reflexo: por trás do reflexo, e dando-lhe valor, está a Luz. Cada ser é uma testemunha; cada fato é um segredo divino; para além está o objeto da revelação, o herói do testemunho. Toda verdade destaca-se sobre o Infinito como sobre o fundo de perspectiva; manifesta-o; pertence-lhe. Uma verdade particular pode ocupar toda a cena; as imensidões estão mais além. Poderíamos dizer: uma verdade particular é simplesmente um símbolo, um símbolo real, um sacramento absoluto; ela expressa, e é, mas não por si mesma; não se basta em si mesma; vive por outro, e morreria se fosse abandonada à sua inconsistência. 

Para a alma totalmente desperta, portanto, toda verdade é um lugar de encontro; o Pensamento soberano convida o nosso: faltaremos a esse sublime encontro?”

Entender a mudança de mentalidade como elemento essencial da busca pela verdade, flui, como dito, para mudanças comportamentais que impactam diretamente na vida daqueles que estão à nossa volta: como ensina Jordan Peterson, “arrume sua cama antes de tentar consertar o mundo”

A inspiração, que obviamente vem de Cima, não é, como imaginam a maioria, um dom aleatório que poucos têm; é, por assim dizer, um algo que pode ser pedido e “adquirido”, desde que estejamos dispostos a sacrificar alguns prazeres; é nesse sentido que o autor diz sobre o “querer” deixar nossa impressão no mundo, algo que as próximas gerações possam saber de nós; o desejo de continuidade, de deixar algo valioso para a posteridade.

“As grandes intuições pessoais vêm, assim como o valor, do aperfeiçoamento moral, do desapego de si mesmo e das banalidades rotineiras, da humildade, da simplicidade, da disciplina dos sentidos e da imaginação, do empenho em alcançar grandes fins. (...) Um amigo do prazer é um inimigo do próprio corpo e logo se torna um inimigo da própria alma. A mortificação dos sentidos é necessária ao pensamento, e somente ela pode nos levar ao estado clarividente de que falava Gratry. Obedeça à carne, e estará se tornando carne, e o que é preciso é tornar-se todo espírito.”

Mude seus pensamentos e volte sua mente para aquilo que é Bom, Belo e Verdadeiro, e veja como as consequências serão benéficas para você e aqueles que ama. Estudar é muito mais do que apenas decorar disciplinas escolares: é ser melhor para nós mesmos e para os outros. 

A Vida Intelectual, A.-D. Sertillanges.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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