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05/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 05/08/2023 às 08h00min

Onze Lições sobre a Virtude – Parte III

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Retomando a explicação de São Tomás de Aquino, sobre o Livro da Ética, de Aristóteles, há uma diferenciação que o santo faz, acerca das virtudes da magnanimidade e da liberalidade, que acredito ser uma parte importante, inclusive da nossa Fé, mas que reflete um pouco o porquê da grande relativização que temos acerca das situações de nossas vidas hoje. A liberalidade, segundo os filósofos, são o “justo meio entre a doação e a recepção do dinheiro e, nos seus extremos, encontramos a prodigalidade e a avareza, vícios que só compreendemos por meio dos opostos”; ao passo magnanimidade se refere àqueles que buscam grandes somas de dinheiro.

São Tomás difere ainda as duas virtudes, dizendo que a liberalidade tem como objeto as riquezas menores, e que a honra que os direcionados por ela buscam, é bem inferior à da magnificência. Aristóteles entende haver a necessidade de uma virtude mediana entre as duas, que deságua no raciocínio de que quem estiver abaixo desta mediana faltam honrarias, mas o que estiver acima delas as possui em excesso. Quem busca o excesso de honrarias chama-se “amante de honras”, ao passo que o “indiferente às honras” não possui qualquer desejo delas.

Segundo o filósofo, as virtudes e os vícios que dispõe o excesso e a falta da busca pelas honras, também são inomidados, mas possuem um ponto interessante: não há nome para o justo meio dessa virtude, o que faz com que haja confusão sobre seu início e fim. 

“Entretanto, podemos criar nomes para as disposições, ou seja, a ambição é a disposição presente no ambicioso, enquanto que a indiferença, no indiferente. Todavia, como o justo meio não é denominado, os extremos confundem-se como região intermediária, pois ambos afirmam estar no justo meio. Assim ocorre, por exemplo, com duas cidades vizinhas disputando a linha fronteiriça entre si. Cada uma atribui a si o direito de propriedade, justamente porque não estão bem definidos e prefixados seus exatos limites. Ambas afirmam que o território médio lhes pertence.

Contudo, esse problema é comum em todos os vícios, porque um dos extremos sempre defende ser o virtuoso, estando no justo meio, enquanto seu oposto crê ser vicioso: o covarde chama o forte de audaz, e este chama o forte de covarde. Por consequência, tomados por este problema, não somente os homens viciosos atribuem a si mesmos o nome de virtuosos, mas também estes, porque o justo meio da virtude não é nomeado; servem-se do nome do vício, como se fosse o de virtude.

Mesmo quando analisamos racionalmente, às vezes chamamos quem fica no justo meio de ambicioso, e outras vezes de indiferente, louvando-os por isso. Louvamos o ambicioso quando notamos que alguém que é curado por sua própria honra, ou seja, que busca atos honrosos continuamente. Outras vezes, o louvado é o indiferente, porque ele não busca honrarias humanas, mas as deixa de lado, preocupando-se com a verdade.”

Primoroso também, é como o filósofo grego já ensinava sobre as dificuldades de se conseguir atingir esse “ideal”, tido como justo meio, “porque nos é notório que a escolha do justo meio é dura, enquanto o desvio – o regozijo nos vícios e prazeres – é bem fácil.” Traduz bastante a nossa sociedade atual, absorta em bens materiais, afundada num hedonismo medonho e triste, que cada vez mais afasta as pessoas do autoconhecimento, da consciência de si mesmos, que em suma, produz o verdadeiro crescimento e evolução. A bem da verdade, a natureza humana não mudou e sempre foi envolvida em armadilhas para a perdição; o que mudou da antiguidade para os dias atuais, são apenas os meios tecnológicos, que ampliaram e potencializaram as formas de domínio sobre as pessoas. 

Aristóteles cita um exemplo que facilita o entendimento: “salvo para um sábio na arte da geometria, estabelecer o centro de um círculo não é tarefa fácil. No entanto, pontuar uma parte desta forma geométrica, sem rigor científico algum, dizendo que o ponto escolhido é o seu centro, é tarefa muito fácil, rápida e simples, possível de ser executada por qualquer pessoa.” 

Ora, isso lembra muitos “intelectuais”, principalmente os “ungidos” de Thomas Sowell, que asseguram não existir certo ou errado; ou que a verdade é sempre relativa; ou, e esse se trata de um dos piores, que não importa a religião, mas sim fazer o bem. No filme recentemente lançado, Nefarious, cuja história gira em torno de um sentenciado ao corredor da morte, que está possuído por um demônio, quando o psiquiatra ateu diz que “o bem e o mal são uma construção da sociedade, que isso é relativo”, o possuído dá uma grande gargalhada e diz algo como: “isso é música para meus ouvidos”. Todo o ensinamento que os grandes filósofos e doutores da Igreja escreveram caminha no sentido de que não basta apenas não fazer o que é errado, mas sim fazer o que é certo; e mais, pelos motivos certos.

Essa é uma das ideias por trás desse livro, o de demonstrar que há um caminho, uma linha correta a seguir e que, a partir de então, outros benefícios surgirão, principalmente em relação à ordem em nossas vidas.

“O homem virtuoso – perscrutador do justo meio – corresponde ao que verdadeiramente o persegue, procurando sempre evitar os excessos e extremos: os vícios que se opõem à virtude”.

Onze Lições sobre a Virtude, São Tomás de Aquino.



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