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03/08/2023 às 08h00min - Atualizada em 03/08/2023 às 08h00min

Escrita é emoção

IVONE ASSIS
Desde sempre o homem vem batalhando por melhores formas e ferramentas de trabalho, capazes de facilitar o cotidiano. Quem assistiu ao filme ficcional “10.000 a.C.” vai se deparar com um mundo cuja tecnologia para a caça dos mamutes era a azagaia, feita manualmente. De lá para cá, as lanças se mantêm e muitas outras armas surgiram, inclusive a laser.

Com a escrita, a história não é diferente. Iniciou-se, possivelmente, com os pictogramas, símbolos que se mantiveram como inspiração para os manuais de trânsito e placas de sinalização, conforme conhecemos hoje. Em seguida, surgiram os ideogramas, passando pelos hieróglifos, que serviram de inspiração para o atual símbolo gráfico chinês, japonês, coreano..., chegando à escrita fonética e depois ao nosso alfabeto. Enfim, das escritas cuneiforme e hieroglífica (pode ser uma destas a tecnologia utilizada por Moisés, que escrevia nas pedras, embora estudos digam que ele escolheu a escrita fonética para o Pentateuco, sobretudo por ser uma escrita mais recente), até chegarmos ao lápis e, hoje, à escrita digital, muitas palavras foram soltas ao vento. O fato é que dos blocos de barro, dos ossos, das pedras, dos tijolos, do couro, dos metais, das tábuas, do gesso, dos papiros, dos pergaminhos, do papel e outros até o digital, foram muitos formatos e tecnologias. E o 2023 vêm abrindo novos campos com a ainda desconhecida, porém incrível, tecnologia ChatGPT (Generative Pre-trained Transformer | Transformador Pré-treinado Generativo), um chatbot online, de inteligência artificial, da OpenAI, um novo modelo de linguagem, alimentado por inteligência artificial, que vem revolucionando, desde 2022, o mundo da escrita, sobretudo a literária.

Como os escritores têm lidado com esta tecnologia e quais serão os seus impactos, ainda é cedo para comentar, mas é fato que se trata de uma ferramenta que transformará o processo criativo e os métodos de produção literária, acentuando-se como um marco na história. Os desafios e debates éticos autorais serão temáticas que ficarão a cargo do setor jurídico e da crítica literária do amanhã. Já vivemos isso no design gráfico, nos revisores de textos e agora é a vez da produção editorial.

Sempre há espaço para todos, e a concorrência convida à melhoria. Nessa simbiose criativa, do tinteiro nanquim ao “tinteiro digital”, muda-se a tecnologia, mantém-se a soberania da essência humana. Logo, a preocupação maior se pautará não na escrita, mas, sim, na qualidade do leitor. Sobre a escrita literária ser ou não genuinamente de um autor, desde a pedra lascada isso é temática questionável, assim como o são muitas invenções, e ideias, e tecnologias, e ciências e agregados. Não se reinventa a roda, aplicam-se novas roupagens.

A inteligência artificial, sem dúvida, passa a ser coautora na maioria das produções de escrita (literárias, científicas e outras), assim como já é nas artes plásticas, na engenharia, na arquitetura, na medicina e demais. 

Se há autenticidade de conteúdos e/ou pirataria intelectual em qualquer setor, a inteligência artificial que abra um processo contra seu criador e, a partir daí, que vença o imperante. Por melhor que seja, tecnologia sem o toque humano (da originalidade e do discernimento) é arte sem vida, é corpo sem alma. Afinal, não são as ferramentas que fazem o produto, são as ideias, e por mais que a IA pareça ser pensante, é apenas um software dominado pelas ideias que programadores incríveis.

A IA é, sem dúvida, uma fonte inestimável de inspiração, uma professora para as séries iniciais do aprendizado da arte da criação, e o ChatGPT é, hoje, o núcleo da IA para o universo da escrita, nos quesitos de obtenção de ideias. Funciona como um estimulador da criatividade, mas aqueles que caírem no deslumbramento da zona de conforto tecnológico, logo não passarão de ridículas marionetes (como ocorre com as fajutas revisões de textos confiadas, exclusivamente, aos softwares), haja vista a inovação pedir inovação, sobretudo em narrativas. Escrita é emoção.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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