Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
20/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 20/07/2023 às 08h00min

Aproveite o dia

IVONE ASSIS
A tecnologia vem desafiando o homem em sua criatividade, por meio da Inteligência Artificial. E pensando de maneira rude e rápida, causa medo, mas se analisarmos com calma, é fácil notar que são apenas mudanças e o homem continua comandando a máquina. Se a tecnologia tem o artifício, o ser humano tem a criatividade. Muitos dirão, ‘oh, mas a AI também é criativa’. Sim, porque o seu limiar criativo é a qualidade da comunicação do ser humano. A máquina executa o que o homem determina, já a mente humana é livre para pensar, criar, viver todas as emoções.

Na obra “Tecnologia versus humanidade: o confronto futuro entre a máquina e o homem” (2016), Gerd Leonhard abre sua escrita comentando sobre o marco das mudanças “[...] desde a madeira, a pedra, o bronze e o ferro, ao comboio, à electricidade, à automatização industrial e à internet”, e conclui: “[...] confrontamo-nos com uma série de megamudanças potenciadas pela ciência e tecnologia que irão redesenhar não só o comércio, a cultura e a sociedade, mas também a nossa biologia e a nossa ética”.

Fernando Pessoa, na voz de Ricardo Reis, em um de seus poemas, apresenta o medo que consome o sujeito. “Uns, com os olhos postos no passado, / Veem o que não veem; outros, fitos / Os mesmos olhos no futuro, veem / O que não pode ver-se. // Porque tão longe ir pôr o que está perto — / A segurança nossa? Este é o dia, / Esta é a hora, este o momento, isto / É quem somos, e é tudo [...]”.

A sociedade perdulária tem se esquecido da ode de Horácio (65 aC. — 8 aC.): “Aproveite o dia, confie o mínimo possível no amanhã” (“carpe diem, quam minimum credula postero”). Afinal, que sabemos nós do que está por vir?

Milhões de jovens sonham em se tornar médicos, diariamente, e milhões de pessoas esperam, em intermináveis filas, serem atendidas na Saúde. Lembro-me do Dr. Antonio Celso Nunes Nassif, por ocasião de uma matéria sua na ABM (Associação Bahiana de Medicina), aos 22/08/2012, quando narra um desagradável episódio entre uma jornalista e um governador de estado, em que, ao ser indagado sobre a possível demissão coletiva dos médicos, o tal Governador baiano (1989-1991) respondeu: “Para mim, médico é como sal: branco, barato e eu encontro em todo o lugar”. A atitude da jornalista, na hora, foi de emudecimento perante tanta bestialidade, mas o tempo se encarregou de dar a tréplica. Anos depois, foi a vez do Dr. Nassif estarrecer-se frente à triste realidade, em que, hoje, a formação médica já beira quatrocentas (389) faculdades na área, e a todo instante são autorizados novos cursos. Segundo Nassif, o MEC chegou a aprovar 27 novas faculdades em um só dia. O que não deixa dúvidas sobre o interesse político que perdura sobre a preocupação com a Saúde, fazendo com que o desejo do Planalto, à época, que era de criar 4.500 novas vagas em medicina, a qualquer preço, fosse atendido.

De lá para cá, o quadro de Saúde, os relatórios, os noticiários, as causas processuais e as filas em hospitais vêm apresentando o resultado do descuido de ontem e hoje, que será o legado de amanhã.

O autor da matéria escreve: “a Comissão de Ensino Médico do MEC [...] presidida [...] de forma honorífica, [...] sequer foi consultada”, embora o “ex-consultor da República, prof. Dr. Saulo Ramos” tenha dito em seu Parecer nº SR-78, item 33: “A educação, direito de todos e dever do Estado, não pode ser transformada, sobretudo nos cursos superiores, em simulacro diplomado [...]”. E no item 34, Ramos continua, enquanto denuncia “a instalação de cursos de medicina sem os mínimos recursos, sem hospital na região, sem corpo docente, sem bisturi”, portanto, “O dever do Estado é [...] assegurar o conhecimento científico que irá, efetivamente, beneficiar a comunidade. O simples diploma não cumpre essa finalidade, antes, seria um estelionato contra a sociedade e uma grave lesão à teologia constitucional”.

Como anunciou Charles Chaplin: “Não sois máquinas; homens é o que sois”. Afinal, o que está por vir? Carpe diem | Aproveite o dia.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90