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15/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 15/07/2023 às 08h00min

Onze Lições sobre a Virtude

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Divulgação
Algumas vezes vi, esparramados pelas redes sociais, certas pessoas falando acerca de princípios e virtudes, e como a importância e essencialidade de adquiri-las impulsionam nossa vida para um caminho de crescimento, não apenas – e principalmente – de caráter, mas também de outras qualidades e atributos que subsidiariamente compõem nossa personalidade. Realmente ocupa um espaço elementar em nossas vidas o “tentarmos ser bom/melhor”, e deveria, ao menos em tese, ser algo almejado por todos. Contudo, como fazê-lo é parte inerente a esse processo de desenvolvimento.

Já critiquei, ou pelo menos insinuei, como a internet e as redes sociais, hoje, são uma verdadeira “faca de dois gumes”, pois ao mesmo tempo em que proporciona um acesso ampliadíssimo ao conhecimento, permite também o afogamento em um mar sem fim de informações inúteis. É preciso grande esforço para sair do efeito manada, e contrariar a “moda”, que caminha cada vez mais para a imbecilidade. Todos os dias surgem fatos e informações que nos distraem, e que grande parte das pessoas

O acesso facilitado ao conhecimento produziu o “homem-massa”, de Gasset, que despende uma energia cada vez maior para atrair quem está à sua volta para a centrifugação de suas ideias rasas e uma vida de opinião: ou seja, uma vida de quem acha que sabe sobre tudo, mas que, na verdade, aquilo que acha que sabe não passam de superficialidades sobre o que opina. 

O Professor Olavo fala insistentemente sobre a necessidade de se buscar o conhecimento sobre a vida, ou, indo um pouco mais além, construir uma vida de estudos desde já, e não apenas quando nos “aposentarmos”. Nesse caso, diz o Professor em suas aulas no Seminário de Filosofia, que “se o sujeito começa a estudar apenas no fim da vida, tudo o que ele vai conseguir, é ver e entender as decisões erradas que tomou durante toda a sua vida, justamente porque não aprendeu sobre aquilo antes de se deparar com determinadas situações”. Ou seja, vai ter um fim melancólico sabendo que poderia ter evitado diversos problemas, e conduzido sua vida de forma “menos pior”.

Pois bem, assim, de forma bem “grosseira”, tem-se essa necessidade de se buscar o conhecimento reafirmada mais uma vez, só que por outro ângulo. Volto-me, então, ao início do texto: alguns falam que devemos estabelecer princípios e aprimorar nossas virtudes. Ótimo, mas como?

Há uma indissolubilidade patente entre fé e razão; isso quem diz é Santo Agostinho. Da mesma maneira, há uma profundidade espiritual indistinta nos hábitos e virtudes daquilo em que devemos acreditar: Deus. “Antes da virtude propriamente dita, a operação (ação) se concretiza no mundo de um modo, e, após a virtude, de outro”, diz São Tomás de Aquino. O que consigo visualizar, em certa medida, a despeito dessa propagação benéfica de que é preciso ter uma vida ordenada, é que há um esvaziamento do sentido principal que infla as virtudes: o sentido espiritual. 

Esses ensinamentos inócuos acabam por afastar as pessoas da principal finalidade das virtudes, que é justamente tornar o homem “bom”, aproximando-o da Bondade. São Tomás diz, assim, que cada coisa deve ser utilizada para sua finalidade específica, e que a nossa, dos seres humanos, é exatamente a inteligência: “Devemos supor como princípio comum a relação entre a qualidade das operações que causam a virtude e a sua conformidade com a reta razão. Isso ocorre porque o bem de qualquer coisa deve existir no sentido de que a sua operação existe convenientemente com sua forma. Em outras palavras, a sua operação está em conformidade com a sua forma. Ora, a forma própria do homem é ser um animal racional. Por isso é preciso, para a sua operação ser boa, que ele aja segundo a reta razão a qual corresponde a sua forma racional, pois a perversidade da razão é repugnante à natureza desta mesma razão.”

A ideia não é apenas praticar atos bons – porque mesmo as pessoas mais ruins, ora ou outra, praticam boas ações – mas principal, e essencialmente, saber quais as motivações que nos guiam. Não fazer o que é errado não é suficiente; é preciso fazer o que é certo, pelos motivos certos, pois somente assim conseguiremos ser constantes em nossos empreendimentos e ações, sejam elas individuais ou sociais.

Onze Lições sobre a Virtude, São Tomás de Aquino.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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