Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
06/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 06/07/2023 às 08h00min

Justiça e transparência

IVONE ASSIS
Temos vivido tempos delicados, onde instituições se tornaram “Academias de egos”, sustentando um cabedal de interesses políticos, em que, muitas vezes, bolsas e indicações são moedas de troca, ignorando o conhecimento. Toda regra tem exceções. Esse intróito é apenas para dizer que nem tudo que se vê é o que é. Muitos detentores de saberes extraordinários se esbarram no limiar da conveniência, e são reprovados. Esses ficam fora das publicações, das bolsas, dos convites... e seus orientandos sofrem o reflexo da política experimentada, isso vai se formando uma lista de má-sucessão. O mesmo ocorre com os acadêmicos que, por alguma razão, experimentaram formação EJA, ou cursos compactos, pois carregam em si o fardo discriminatório e injusto, como se soubessem menos, embora isso não exista.

Quantos gênios não estão espalhados por aí, ocupando cargos do alto escalão, sem jamais ter frequentado uma academia, ou nem mesmo a formação EJA? Há os que gostam de estudar, há os que podem estudar, há os que não gostam de estudar... O fato é que conhecimento não está vinculado a títulos, e sabedoria e oportunidades não se confundem. Todo sujeito é um potencial bem-sucedido, a depender da determinação e do foco.

Por outro lado, ir contra um sistema é a alavanca para o fracasso. Lembremos da guilhotina francesa durante a Revolução em 1793, quando o rei Luís XVI e sua rainha Maria Antonieta, ambos educados para reinarem, ambos traídos, ambos decapitados. Eles tiveram sonhos, dificuldades, superações e conquistas, mas o mundo não estava pronto para suas inovações. Eles se casaram no início da adolescência (14/15 anos), ele foi coroado aos 19 anos, ela 18. Seus ideais iluministas incluíam o fim da servidão e a tolerância religiosa aos protestantes, isso feriu gravemente a pretensão da “velhacaria” que formava o conselho e a nobreza francesa, gerando descontentamento e hostilidade da oposição.

O repúdio da corte francesa sobre a rainha Maria Antonieta faz sentido quando se observa que ela era estrangeira ali, e ainda uma garotinha de 14 anos, cheia de energia para gastar, de espontaneidade para se comunicar, e todos queriam fazer dela uma marionete, mas ninguém conseguiu. A inveja e a raiva daqueles que esperavam se beneficiar e não conseguiam foi se alastrando como fogo.

Vítima de varíola, carecendo de um método “EJA” particular de ensino, tornou-se harpista, mas no jogo de xadrez arquitetado pela mãe Maria Antonieta foi o peão que se tornou rainha e, apesar de ter sido um casamento político, ela foi apoiadora do marido, ajudando-o a superar a depressão, mal que ela também foi vítima. Apesar das interferências e dos erros, o casal se ajustou como família e como soberanos, e agiu em prol de um bem maior ao povo, mas o único reconhecimento que tiveram foi a acusação dos adversários e a pena de morte. Em carta, a rainha pediu à cunhada que cuidasse de seus filhos, que passariam a órfãos.

A história se encarregou de agregar desqualificações pessoais a ambos, para que os registros fossem convenientes ao sistema.

Lendo o poema “Ecos”, da tibetana Kalsang Yangzom, traduzido por Virna Teixeira, “Tudo parecia tão familiar / [...] as longas sombras das montanhas sobre mim / os ventos cortantes que pareciam velhos amigos. / Algo puxou no fundo da minha mente / tufos de algo há muito tempo atrás / Um anseio encheu meu coração / para ver tudo o que tinha perdido. / Estas montanhas são minha casa agora / mas a memória de outra montanha me mantém desperta / Minhas terras ancestrais perderam-se para mim / o caminho para aqueles lugares bloqueados por homens. / A risada ecoa pelas montanhas / viajando de um lugar distante / Eu voltarei um dia / Quando as barreiras feitas pelo homem deixem de existir”, é possível observar que sentimento de traição e o acúmulo da dor têm revelado muitos casos de depressão, e isso é o que fica quando falta justiça e transparência.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90