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01/07/2023 às 08h00min - Atualizada em 01/07/2023 às 08h00min

Roberto Campos – Parte I

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Já comentei algumas vezes aqui, e reitero, quase que semanalmente, sobre a importância da continuidade dos ensinamentos, a valorização e a propagação das heranças que recebemos em forma de ideias, filosofias e modos de se viver. Entender que grandes homens viveram antes de nós, que colaboraram diretamente para o desenvolvimento humano, produzindo tanto bens materiais, quanto ideias sobre convivência, é parte de um processo contínuo de crescimento, não apenas pessoal, mas principalmente, social. Conservar e manter os costumes que, quando provados pelo passar dos anos, se mostraram eficazes na preservação e continuação dos Homens, é premissa de uma sociedade saudável e harmoniosa.

Tenho a impressão, às vezes, de que a não valorização do nosso passado, principalmente aqui no Brasil, não é algo “ao acaso”. Mesmo com o aumento da tecnologia, e principalmente com avanço das redes sociais, que permitem esse contato rápido, direto e amplo, o que, em tese, deveria ser uma ferramenta de crescimento, acabou por se tornar um enorme meio de distração. Praticamente ninguém consegue tirar os olhos das telas e observar o que se passa em volta. Somos uma geração absorta em entretenimento banal, precário e completamente frágil de conteúdo. São poucos os que conhecem as histórias e os conteúdos que formaram tantos grandes homens, principalmente através da leitura dos livros clássicos.

Falar sobre bons livros no Brasil ou sobre assuntos que nos permitem crescer como pessoas e nos ajudam a formar nosso caráter, é uma luta, um verdadeiro nadar contra a maré, porque a imensa maioria da sociedade está preocupada com a política do dia, com a escalação do seu time ou até mesmo com a fome....na África. Gustavo Corção já falava sobre isso na década de 1940, sobre essa pretensa “caridade” com quem está longe, dizendo que era bem mais fácil se preocupar com a fome e sofrimento das próximas gerações que viriam, mas extremamente difícil entrar num quarto “cheirando a suor e remédios”. Ou seja, quase ninguém se preocupa com o que de fato acontece à sua volta, pois é sempre mais “fácil” resolver os problemas dos outros.

Voltando à ideia de que somos deliberadamente instigados a esquecer nosso passado, muitas vezes padecemos de um velho sentimento de “síndrome de vira-lata”, a qual grande parte dos brasileiros se submete, ao acreditar que somente aquilo que vem “de fora” é bom. Essa síndrome diminutiva tupiniquim acaba sendo retroalimentada por esse desconhecimento induzido; ou seja, ao desconhecer, não valorizamos; ao não valorizar, nosso passado se “desintegra” pouco a pouco. Como disse Edmund Burke, “um povo que não conhece seu passado, está condenado a repeti-lo”. Isso reforça o que foi dito acima: a importância de se conhecer e manter as boas tradições do nosso passado.

Roberto Campos, outrora professor, diplomata, Ministro de Estado, político e escritor, é uma dessas mentes ricas que se originaram em nosso solo, produto e resultado de desenvolvimento intelectual ímpar de um homem que enxergou além de seu tempo, e mais, também se preocupou – de forma sincera – com as próximas gerações que lhe sucederiam: suas ideias sempre tiveram como escopo o desenvolvimento econômico do país – solução que, acreditara ele, diminuiria consideravelmente a pobreza e desigualdade quem assombrava e ainda persiste nos dias atuais no Brasil.

Não é o objetivo aqui, na coluna, de realçar sua biografia – que outros autores já o fizeram tão bem, inclusive ele próprio, em seu autobiográfico, “A Lanterna na Popa” – mas apenas apontar alguns aspectos de seus pensamentos. Na obra “O homem que pensou o Brasil – Trajetória Intelectual de Roberto Campos”, organizado por Paulo Roberto de Almeida, há uma coletânea de artigos que expõem e explicam algumas de suas ideias, e como ele se desenvolveu ao longo dos anos para aprimorá-las. 

Desde o seu ingresso no Ministério das Relações Exteriores, Campos teve como vislumbre de um país desenvolvido, a organização e a diminuição do poder do Estado na vida das pessoas. Se hoje ainda sofremos com a questão da inflação e, principalmente, com a quantidade altíssima de impostos e do complexo – e quase ineficiente – sistema tributário, Campos já alertava sobre esse grave problema há anos, desde o período do regime militar, e inclusive após o seu término. “Os militares concluíram seu longo reinado com dois erros: o primeiro foi não terem feito a abertura econômica antes da abertura política; o segundo, foi a política de reserva de mercado de informática, que atrasou em pelo menos 15 anos nossa modernização tecnológica. A partir de 1985, paradoxalmente, a civilização do regime pela redemocratização, ao mesmo tempo que ampliava as liberdades políticas, comprimia as liberdades econômicas”.

Com essa maneira de pensar, mostrando sua independência intelectual, ou seja, a desnecessidade de “pagar pedágio” para qualquer tipo de ideologia, Campos buscava o que realmente era vantajoso para o país, mesmo que para isso tivesse de falar sozinho contra uma turba de burocratas, que preocupavam unicamente com seus cargos e suas regalias. Suas críticas e ideias não buscavam a promoção pessoal, mas tão somente a melhora de vida dos mais pobres. Roberto Campos é um brasileiro que os brasileiros deveriam conhecer e pretendo continuar expondo alguns de seus pensamentos nos próximos textos.

O Homem que pensou o Brasil – Trajetória intelectual de Roberto Campos.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.




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