Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
15/06/2023 às 08h00min - Atualizada em 15/06/2023 às 08h00min

Decifra-me ou te devoro

IVONE ASSIS
“Decifra-me ou te devoro” esse conhecido enigma, extraído do mito da esfinge de Tebas, consistia em acertar as adivinhas propostas pela esfinge, do contrário, haveria punição. A esfinge era um animal com rosto de homem.

Édipo, por exemplo, foi desafiado pela esfinge com a charada: O que é, o que é: tem quatro patas pela manhã; duas pela tarde; e três à noite? Este, aceitando o desafio, acertou a resposta e foi designado rei.

Trata-se de um enigma voltado para o autoconhecimento (ou a falta dele). A esfinge desafia o homem ao saber de si, a fim de que por onde passar vá abrindo as portas, e não o contrário. Esse foi o caso do rei Édipo. Afinal, aquele que não se conhece, além de desperdiçar as oportunidades, será sempre um fraco, fadado ao fracasso. O enfrentamento das adversidades é que nos torna fortes.

O autoconhecimento auxilia na compreensão e solução das angústias, trazendo maior alívio psíquico àquele que sofre. A humanidade sempre sofreu com as prisões da mente, mas nos últimos tempos, parece que as doenças comportamentais foram lançadas em terra fértil, alastrando-se feito erva-daninha.

Desse modo, a mitologia funciona como um estabilizador do fluxo psíquico, assim como os estabilizadores de humor, a fim de promover certo alívio psíquico, permitindo que o sujeito se reestruture. Conhecer-se não é fácil, mas é libertador. E nesse aspecto, creio eu que o livro, o escrever literário, é uma ferramenta importante.

Embora o ser humano tenha o péssimo hábito de esperar “o leite derramar” para poder agir, a prevenção, por meio do autoconhecimento, continua sendo o tratamento mais eficiente, rápido e seguro. Quanto menos resistência, maiores são as chances de cura.

Isso me fez lembrar do livro “As aventuras do peixinho Coró”, de Literatura Infantil de Hildebrando Carvalho, um morador de Camocim (Ceará), graduado em Educação Física. Em seu livro, o autor optou por homenagear o peixe Coró, comum em sua cidade. O conto apresenta um diálogo entre um faminto peixinho Coró, morador do rio Coreaú, e dona Minhoca, a qual, espetada a um anzol, luta pela vida.

Em meio à conversa, o esfomeado peixinho é orientado, pela minhoca, a não morder a isca. Ainda, a minhoca lhe promete contar um segredo, caso ele não a engula. Este, por sua vez, curioso, concorda e pergunta do que se trata, mas esclarece dizendo que se não for algo interessante, ele a devorará de qualquer modo. “Responda ou eu te devoro”.

Após contar do que se tratava, Coró e Minhoca se tornam grandes amigos e se divertem com as trapalhadas do pescador. Mas isso só foi possível graças a sabedoria de dona Minhoca e à humildade do senhor peixinho Coró que, ao ouvir o conselho da amiga, passou a pensar antes de agir.

De volta ao enigma da esfinge, mencionado no início, manhã é infância; tarde é vida adulta; e noite é velhice. Portanto, quatro patas: o bebê engatinha, mãos e pernas; duas patas: o ser humano, caminha com seus dois pés; e três patas refere-se à velhice, cujo caminhar se faz por intermédio de dois pés e uma bengala. A cada fase, o ser humano vai se adequando às condições que estão ao seu alcance, para um bem-viver. Assim sendo, que não se torne o homem uma vítima da esfinge: “Decifra-me ou te devoro”.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90