Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
08/06/2023 às 08h00min - Atualizada em 08/06/2023 às 08h00min

O buraco mais profundo da terra

IVONE ASSIS
Como admiradora da tecnologia, fiquei a investigar sobre o enigmático deserto de Taklamakan (Taklimakan) e suas tentativas de plantios, quando me deparei com as múmias de 4.000 anos, ou mais, que ali foram encontradas, e agora a incrível rodovia destinada aos trens. Essa pista atravessa 2.712 km desse mundo de areia movediça (segundo maior do mundo), o qual cobre a imensa e cobiçada reserva de petróleo do país.

Taklamakan (337.000 km²), cujo nome significa “Entre e você nunca mais voltará”, e popularmente chamado de “mar da morte”, é um deserto frio, chegando a dois graus negativos, e que fica na bacia do rio Tarim, na região autônoma Uigur de Xinjiang, no noroeste da República Popular da China. É conhecido pelas Tumbas de Xiaohe, que compõem um dos mais interessantes sítios de arqueologia daquele país. Agora, vem se destacando pela mega construção de 2712 km de linha férrea.

De repente, aquele deserto que só existia em minhas leituras das Aventuras de Marco Polo passa a ser uma curiosidade mesclada de encantamento, em pensar como a tecnologia pode contribuir para a melhoria de vida humana, e no quanto os governos tentam dominar o mundo por meio dela.

Ao me deparar com a construção do mais profundo poço artificial da China, e um dos maiores do mundo, um buraco de 11,1 km de profundidade, cuja perfuração também se encontra em Taklamakan. Com esse feito, os chineses pretendem avançar em descobertas de milhões de anos passados. Além de compreender a reestruturação da terra, o país terá a probabilidade de explorar os minérios, e petróleos, e demais possibilidades, inclusive de dominação das etnias.

Lembrando que o noroeste da Rússia, país vizinho, tem o buraco Kola Superdeep Borehole, que mede 12,2 mil metros, e igualmente não podemos nos esquecer do Buraco Negro, no espaço, cujo tamanho estima-se ser de quase 7 bilhões de km de raio, mas isso, para mim (leiga ao extremo), ainda é especulação e ponto de vista.

O fato é que, entre um buraco e outro, deparamo-nos com o “buraco” da mente humana, cujo vazio, às vezes, é tão infinito e imperceptível que chega a ser incompreensível. Afinal, o mundo é regido pela batalha permanente entre Igreja e política, sendo que, a primeira objetiva libertar o povo e a segunda, aprisionar o mesmo povo. O domínio do mundo sempre foi uma ambição do homem. Agora, para aprofundar o abismo temos uma massa política, que sem pensar em ninguém (sobretudo nos mais carentes), tenta descriminalizar as drogas como manobra para amortizar a população carcerária, em vez de simplesmente investir em Saúde Pública e Educação; e outra parcela, no mesmo grau de sabedoria, se esforça em proibir o estudo da bíblia sagrada nas escolas, em vez de, tão somente, investir em melhor interpretação textual (mais conhecimento) e humanidade, no sentido de acabar com o preconceito.

Cito o poema “Lamento”, de Anthero de Quental, que diz: “Um dilúvio de luz cai da montanha: / Eis o dia! eis o sol! o esposo amado! / Onde há por toda a terra um só cuidado / Que não dissipe a luz que o mundo banha? // Flor a custo medrada em erma penha, / Revolto mar ou golfo congelado, / Aonde há ser de Deus tão olvidado / Para quem paz e alívio o céu não tenha? // Deus é Pai! Pai de toda a criatura: / E a todo o ser o seu amor assiste […]”.

Eu queria dizer muito mais sobre as coisas e gentes, mas como escreveu o próprio Quental, em “Cartas” (1921, p. 41-42), “Não é isso o que as ofende. Mas as ideias que estão por de trás dos homens; o mal profundo que as cousas apenas miseráveis representam; uma grande doença moral acusada por uma pequenez intelectual”.

Amar nunca é demais, se sufocar, é porque não é amor. A vida é como um ensaio, pede interpretação aprofundada. As emoções são como gêneros literários, diversos e passíveis de compreensão. No meu parco refletir, desprovido de ciência, deparo-me com meus iguais, e lá está, dentro de um minúsculo crânio, o buraco mais profundo da terra.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90