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03/06/2023 às 08h00min - Atualizada em 03/06/2023 às 08h00min

A Vida Intelectual – Parte I

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Muitas pessoas ficam receosas quando ouvem falar em vida intelectual, remetendo quase sempre à ideia de uma pessoa que é muito estudiosa, que está sempre com um livro na mão, ou que são os popularmente conhecidos como “nerds”. A impressão que temos, ne verdade, é que existe uma espécie de “repulsa” a esse conceito de inteligência, quase como se fosse uma coisa ilegal quando as pessoas buscam ser “mais inteligentes”. 

Observamos isso no dia a dia, principalmente na maneira como olham quando  falamos sobre livros ou algumas ideias, que, a despeito de serem inerentes à vida de qualquer pessoa – como por exemplo quando se fala em dom, chamado e propósitos -algumas pessoas olham com certo ar de desprezo, como se isso fosse um sonho ou uma teoria irreal, coisa de “gente à toa”, sendo que na verdade, deveria ser um assunto que desde a infância fosse incentivado a ser discutido e falado.

Ocorre que podemos inferir dois fenômenos nessa ideia: o primeiro, quanto à questão de como as pessoas menosprezam a inteligência e enaltecem a ignorância no Brasil; e o segundo, versa no sentido de que vida intelectual não tem praticamente nada a ver com aquela ideia hollywoodiana de monges estudiosos, enclausurados em suas masmorras, quase sufocados em suas bibliotecas e livros.

Essa forma que o brasileiro tem de enxergar a vida intelectual como algo fora da realidade, influência sobremaneira na percepção dos outros, principalmente porque vivemos em um estado constante de desejo de pertencimento a grupos, em que praticamente todos anseiam por estarem inseridos em círculos de pessoas e fazem de tudo para não serem excluídos – mesmo que para isso tenha que se “mutilar” intelectualmente. Aqui é possível observar o “homem-massa” de Gasset, pois são aqueles que se contentam em ter uma “opinião sobre tudo”, mas que não se aprofundam em nada e que, além disso, tentam impor o que acreditam. 

“Hoje, ao contrário, o homem médio tem as ideias mais taxativas sobre tudo o que acontece e deve acontecer no universo. Por isso perdeu a audição. Para que ouvir, se já tem tudo dentro de si? Já não é tempo de escutar, mas, ao contrário, de julgar, de sentenciar, de decidir. Não há questão de vida pública na qual não intervenha, cego e surdo como é, impondo suas “opiniões”. Bem familiar esse trecho escrito por Ortega, não?! Mesmo assim, não são palavras de hoje, mas sim da década de 1920, do seu livro A Rebelião das Massas, que explica muito bem essa “imposição” de mediocridades.

Em relação a visão que a maioria das pessoas tem acerca do que é uma vida intelectual, decorre, também, dessa imposição de julgamentos limitantes do homem-massa, mas que tem grande parte de sua crença calcada no “medo” de se conhecer. Explico. A vida intelectual não é unicamente uma vida rodeada de livros de romance e ficção; vai muito além. Tem bem mais a ver com a descoberta de nossas fragilidades, de nossos conhecimentos que desconhecemos – ou fingimos não saber que deveríamos sabe-los – e passa a ser uma vida de constante busca do crescimento de nossa personalidade e nosso caráter. 

O que reitero quase sempre aqui, tem a ver com a forma de como e onde buscamos esses conhecimentos. A sabedoria dos antigos nos mostra, pois foram provadas pelo tempo que evidentemente funcionam, muitas maneiras de se elevar acima das coisas “comuns” que nos acontece. A praticidade do dia a dia e as sensações humanas, são basicamente as mesmas que sempre existiram na humanidade – não há nada de novo debaixo dos céus – de forma que aquilo que transcende, principalmente os bens materiais, podem nos proporcionar uma vida menos “atribulada”, quando seguimos esses ensinamentos basilares. É sobre isso que quero falar no próximo texto, sobre como que um padre, em 1921, alicerçado em conselhos de São Tomás de Aquino, no século XIII, consegue nos ensinar tanto.

A Vida Intelectual, A.-D. Sertillanges. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.








 
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