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29/04/2023 às 08h00min - Atualizada em 29/04/2023 às 08h00min

A Consciência de Imortalidade – Parte I

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
É impossível perscrutar a mente de uma pessoa alheia; primeiro pela impossibilidade física e, segundo, porque mal conseguimos conhecer a nossa própria. Santo Agostinho fala de maneira magistral sobre isso em sua obra Confissões, quando toca no assunto referente à memória: “É grande essa faculdade da memória, sobremaneira grande, meu Deus, aposento amplo e infinito. Quem poderia alcançar seu fundo? E essa faculdade é da minha alma, pertence à minha natureza, mas nem eu posso abarcar tudo que sou. Logo a alma é estreita demais para conhecer a si mesma.” 

Seria como se olhássemos para dentro de nós e conseguíssemos ver apenas uma fresta do nosso tamanho. Somos infinitamente pequenos diante da monstruosidade que é a consciência humana. O potencial do homem é imenso; as habilidades que podemos desenvolver, os raciocínios e a capacidade de imaginar cenários são fascinantes, quando visto como um Dom Divino. Por conviver e nos habituarmos a isso, tratamos com normalidade algo que por si só é inexplicável. De onde tiramos tantas soluções e ideias evolutivas? 

Gosto de pensar que somos imensos receptáculos, tanto para o mundo material, quanto para o espiritual. Quando me refiro ao mundo material, falo de tudo o que está à nossa volta, as conversas, as músicas, os livros, os ensinamentos que aprendemos, tanto direta, quanto indiretamente, haja vista a imensa capacidade da nossa mente de absorver o que sequer conseguimos notar. Já em relação ao mundo espiritual, tenho a percepção de que não temos um domínio completo do que podemos receber, mas talvez apenas do que podemos ser influenciados. Recebemos aquilo que Deus quer que recebamos. 

Minha ideia, no entanto, é a de que somos vasos para Ele. Devemos estar sempre atentos ao que podemos receber. Da mesma forma como uma imensa tempestade que se forma sobre o oceano e, vez ou outra, uma tromba d’água toca ao mar, penso que funciona nossa mente em relação ao conhecimento de Deus. A Sabedoria, a Verdade, existe apenas com Ele. Somente Ele tem o poder de fazer com que vejamos qualquer coisa e que as realizemos. Somos o oceano a espera do toque do Céu e, vez ou outra, Deus aponta em nossa mente o projeto que Ele tem para nós. Que saibamos “ouvir” e entender esses toques Divinos.

Qual seria a importância, então, de se ter a consciência de que tudo o que vivemos aqui é uma fração ínfima do que realmente somos? A resposta, que definitivamente, não é a única, vai no sentido de que “tomar” certa dose de consciência sobre isso, é um fator que, indiscutivelmente, nos coloca num possível caminho de uma existência um pouco “menos pior”, justamente porque faz com que saibamos, mesmo que de forma precária, que tudo o que fazemos agora impacta no que acontece após a nossa morte. 

Existe uma expressão antiga em latim, memento mori, que remete à duas ideias: tanto a de que nossa vida material é finita, quanto a de que nossa alma é imortal. Quando lemos outras expressões, como por exemplo o carpe diem (aproveite o dia), muitas pessoas a entendem como fazer “tudo o que der na telha”; a questão é que, quando passamos a conhecer um pouco mais sobre a questão da imortalidade, ressignificamos esse “aproveitar o dia”, em não apenas como fazer o que “queremos”, mas sim, e muito mais, fazer o que “devemos”. 

O Professor Olavo de Carvalho é um dos, se não o maior, pensador brasileiro, e que também figura entre os maiores filósofos mundiais. A sua arte, o seu modo de condensar ensinamentos e direcioná-los aos caminhos próprios – o vejo como um verdadeiro ponto inicial de inúmeras disciplinas, como se ele promovesse insights em quem deseja escrever ou deixar algum legado – faz com que seus livros e cursos proporcionem um impacto significativo naqueles que o buscam de ouvidos e mente “abertos”: buscar a verdade de modo sincero, o reto caminho da razão, e estar disposto a confrontar muitas de nossas crenças, é pressuposto incondicional para conhecê-lo; porém, absolutamente recompensado por esse ônus. 

São obras riquíssimas, que versam muito mais sobre crescimento e desenvolvimento pessoal, do que conteúdo político, como a maioria de seus críticos querem fazer acreditar. 

Nesta obra, quando explica, por exemplo, a diferença entre Eterno e Imortal, mesmo que isso seja “simples”, fica desde já demonstrado a profundidade com que uma ideia pode se destrinchar e desenvolver. Eterno é o que sempre existiu e sempre existirá, Deus; imortal é aquilo que teve um início, porém sem um ponto final, sem a morte como fim; ou seja, nós.

A partir desse conceito, o Professor Olavo ensina como enxergar e observar o que se apresenta como nossa realidade. Claro que o que vamos fazer com esse conhecimento diz respeito a cada um; a questão é que agora você tem essa informação acessível. Gosto do ensinamento de outro professor, José Monir Nasser, dizendo que quando passamos a conhecer aquilo que move o mundo, não quer dizer que conseguiremos mudar o seu movimento, a sua trajetória, mas sim que podemos entender melhor nosso papel nessa imensa engrenagem que é a humanidade.

Consequentemente, entender que começamos, mas não acabamos aqui, faz com que observemos melhor nossas ações. Como ensina o Professor Olavo, “mas não podemos ‘tornar-nos imortais’ depois da morte se não somos imortais desde já. E, se o somos, a imortalidade não é somente ‘outra vida’: é a escala verdadeira dentro da qual transcorre a nossa vida presente.” E isso muda tudo.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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