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27/04/2023 às 08h00min - Atualizada em 27/04/2023 às 08h00min

Consciência

IVONE ASSIS
A síndrome do vazio é uma recorrência nos lares, mas vale lembrar que suas formas são variadas: há os filhos que saem em despedida anunciada e festejada, há os que saem em despedida anunciada, porém não compreendida; há aqueles que saem sem despedidas... Seja qual for, o vazio é sempre um vazio, o que, geralmente, se modifica é a forma, a intensidade e a aceitação, de quem vai e de quem fica.

É sabido que, um dia, os filhos saem de casa para trilharem seus próprios caminhos, pelo menos é o que deveria acontecer. E quando isso acontece, às vezes, causa muito sofrimento para seus pais, que gostariam de continuar tendo suas crias debaixo de suas asas. Outras vezes, com medo de não conseguir, mas na certeza de que quer tentar, os filhos (em sua insegurança) formam um rebuliço em sua quebra de vínculos, em uma verdadeira quebra de protocolos.

Toda mudança faz parte do processo de vida, independentemente de idade, sexo, raça, cor, formação, fé... E tudo bem. O ideal seria que os filhos, desde os primeiros anos de vida, fossem preparados para sua partida em busca de suas conquistas, mas, em razão do medo de ambas as partes, a zona de conforto fala mais alto. Desse modo, quando chega a hora, as crises emocionais são inevitáveis. Há aqueles que superam mais rápido, há aqueles que demoram um pouco mais a compreender, e há aqueles que não superam. Isso varia de acordo com o equilíbrio emocional de cada um.

Uma coisa é certa, todos nós temos necessidades de voar. Temos nossos questionamentos próprios. Queremos nossas respostas. Vivemos nossas teimosias e expectativas... e a maturidade vem com o tempo, lavrada no caminho percorrido, porque as propostas são como placas de sinalização e escolhas funcionam como faróis, logo, o resultado vai depender da travessia. Afinal, como escreveu o poeta Drummond, “no meio do caminho há uma pedra” e cada pedra tem sua própria medida, e razão de ser, e de estar. Portanto, seu processo de remanejamento também é variável em tempo, impacto e resultado.

A lógica é que todos nós chegamos independentes, todavia, criamos dependências e queremos ficar imersos nela. Pura consequência da ambição do “ter”. Na soma dos fatores, o que de regra acontece é um distúrbio emocional, que, se não tratado e superado, se transforma em patologia, que pode afetar tanto quem fica como quem vai. O vazio não superado é o mesmo. Razão disso, muitos filhos não se encontram, não se resolvem, não alcançam suas respostas. Outros o fazem demoradamente. Há os que criam um rebuliço, mas acertam. E há aqueles que já saem prontos. A cada manhã, seu Sol. O equilíbrio cabe a todos.

Para os que alcançam o envelhecer, a oportunidade é maior, porque é dado tempo ao tempo. Mas, quando se trata de responsabilidade e amor, o envelhecer não é sinônimo de maturidade, pois, se o fosse, nem precisaríamos de Estatuto do Idoso, uma vez que não haveria injustiças por parte dos familiares já “maduros” para com seus velhos.

As Escrituras Sagradas trazem a rica parábola do filho pródigo, que, a meu ver, traz vários ensinamentos, dentre eles, o fato de que o coração de uma família amorosa está sempre aberto para receber, perdoar e amar o filho arrependido; e também mostra que muitos filhos querem viver suas aventuras, mas se esquecem de suas responsabilidades, além de achar que, mesmo sendo adultos o suficiente para se aventurarem, seus pais têm obrigações financeiras para consigo, tanto que, antes de partir, o filho pródigo pede sua parte da herança, dinheiro pelo qual não trabalhou para construir.

Assim sendo, diante do embaraço e ansiedade da vida, o homem, em busca de sentidos, muitas vezes, enche o baú de perguntas, mas fecha a razão para as respostas, deixando seus ouvidos à mercê do canto das sereias. Com isso, não observa se o que quer é desprezível ou relevante, se é alcançável ou não. E se for, como fazê-lo. Passado e presente caminham lado a lado, sinalizando para o futuro, mas o ponto decisório chama-se consciência.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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