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18/03/2023 às 08h00min - Atualizada em 18/03/2023 às 08h00min

Essencialismo

EDMAR PAZ
Foto: REPRODUÇÃO/INTERNET
Muitas vezes somos ensinados sobre uma falsa ideia de que para ser produtivo é necessário fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo. Contudo, visualizamos na prática que não é isso o que ocorre quando aceitamos demandas em excesso. Cansaço, fadiga e estresse acabam sendo, muitas vezes, nossas maiores companhias depois de assumir responsabilidades em excesso.
 
A concepção de que para se dar bem na empresa, de que estar ocupado é ser produtivo ou a de que a quantidade de trabalho que o chefe propõe deve ser aceita, para se passar a impressão de que somos úteis no trabalho, é desmistificada nessa obra de Greg Mckeown.
 
Com uma linguagem simples e de fácil compreensão, o autor apresenta vários insights práticos que nos são úteis na adequação da nossa rotina de trabalho. Indo além, conseguimos aproveitar também em nosso cotidiano particular, o que, a bem da verdade, acaba por ser mais eficaz, pois nos permite uma evolução constante de nossas personalidades.
 
Interessante notar que muitos dos ensinamentos do escritor são relativamente comuns, mas que por conta exatamente do que ele ataca – a “necessidade” que temos de querer fazer tudo e não abrir mão de nada – acabamos por nos perder em meio a enxurrada de informações e atividades.
 
Dividido em quatro partes, Mckeown apresenta qual é a mentalidade básica de um essencialista, na primeira parte; na segunda, ensina como explorar e discernir as muitas trivialidades do que pouco que é vital; na terceira, mostra como excluir e eliminar as coisas triviais identificadas; e na quarta, a executar e fazer com pouco esforço as coisas vitais que sobram após identificarmos o que não é essencial.
 
Ao buscar a definição do que é ser um essencialista, o escritor utiliza uma frase em alemão: Weniger aber besser, cuja tradução é “menos, porém melhor”. Assim, de forma bem resumida, o caminho do essencialista é buscar de forma constante o “menos, porém melhor” no seu dia a dia. A ideia que ele utiliza passa, diretamente, pela forma como desperdiçamos energia ao tentar realizar tudo aquilo que temos vontade.
 
Mário Sérgio Cortella já dizia uma ótima frase: “nem tudo o que quero eu posso; nem tudo o que posso eu devo; e nem tudo o que devo eu quero”. Certamente essa ideia é cabível nesse conceito do livro, exatamente na medida em que temos de aprender a separar o que é essencial e economizar forças para aquilo que realmente nos levará adiante, seja no âmbito profissional ou pessoal.
 
Escrevendo ótimas frases que chamam a atenção, e resumem bem seu intuito, ensina, de forma simples, características distintas do não essencialista e do essencialista, na maneira de pensar, de fazer e de obter seus resultados: enquanto o não essencialista pensa que tudo é importante, o outro sabe que poucas coisas realmente importam; quando o não essencialista busca indisciplinadamente por mais, dizendo sim para tudo e reagindo ao que lhe é mais urgente, o essencialista diz “não” a tudo, menos ao essencial e faz uma pausa para discernir o que realmente importa, sendo urgente ou não; e enquanto o essencialista sente-se exausto e sobrecarregado, sem saber se as coisas certas foram feitas, o essencialista sente-se no controle, que realizou as tarefas certas e se sente alegre em sua jornada.
 
Uma das grandes questões que o autor nos coloca é a de que, “se não estabelecermos prioridades, alguém fará isso por nós”. Deixar de falar sim para todas as situações, não significa necessariamente que somos pessoas ruins, mas apenas que nos dedicaremos melhor para as tarefas que selecionamos. É, no final das contas, um gesto de amor com aqueles que estão à nossa volta e convivem conosco, seja em casa ou no trabalho.
 
Se aceitamos fazer tudo, não conseguiremos fazer bem feito, e isso pode acabar decepcionando quem esperava algo a mais de nós. Assim, quando não fazemos uma tarefa, mas deixamos de forma clara para a pessoa que não faríamos, ela está ciente de que não precisa esperar esse resultado de nós, o que acaba por evitar conflitos também. Por isso ele diz que “eliminar o que não é essencial significa dizer não a alguém, muitas vezes, e também ir contra as expectativas sociais. Para fazer isso direito é preciso coragem e delicadeza. Portanto, o essencialismo não exige apenas disciplina mental, mas a disciplina emocional necessária para não ceder à pressão social”.
 
Mckeown cita um fato interessante da atualidade: o excesso de opiniões. “não foi só o número de escolhas que aumentou exponencialmente, mas também a força e o número de influências externas sobre as decisões”. Embora muito já tenha sido dito e escrito a respeito de como estamos hiperconectados e a distração que essa sobrecarga de informações pode causar, a questão maior é que essa capacidade de conexão aumentou a força da pressão social. A tecnologia nos aproximou muito mais das opiniões alheias sobre o que deveríamos focalizar.
 
“Não é apenas sobrecarga de informações; é sobrecarga de opiniões”. Devemos tomar cuidado com quem nos influencia, e costumo dizer que “quem tem muitas informações, não tem nenhuma”, justamente porque não conseguimos distinguir o que é importante ou não. Na mesma linha vai a questão das opiniões: ninguém consegue agradar a todos, e evitar essa busca por aprovação nos condiciona focalizar melhor no que realmente importa para nós e aqueles que amamos. As redes sociais permitem um acesso muito fácil a qualquer tipo de conteúdo, mas devemos saber que não podemos seguir todos e tudo o que fazem. Cada um tem o seu ritmo, seu tempo e suas demandas.
 
Ninguém pode dizer que, para conseguir alcançar determinada independência, as coisas serão fáceis, e aqueles que dizem, certamente estarão faltando com a verdade. Mas existe um caminho a seguir, uma direção que pode sim permitir que consigamos nos desenvolver melhor, e é isso que a obra nos ajuda um pouco: atitudes práticas que nos incentivam no desenvolvimento profissional e pessoal.
 
“Criar um objetivo essencial é difícil. Exige coragem e percepção para saber quais atividades e iniciativas se somarão para levar aquele que executá-las ao ponto máximo de contribuição. É preciso fazer perguntas delicadas, abrir mão de coisas importantes e exercer uma disciplina rígida para excluir prioridades concorrentes que nos distraem da verdadeira intenção. Mas o esforço vale a pena, porque somente com clareza de propósito as pessoas, equipes e organizações se mobilizam totalmente e conseguem alcançar a verdadeira excelência.”
 
Essencialismo, Greg Mckeown



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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