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09/03/2023 às 08h00min - Atualizada em 09/03/2023 às 08h00min

Elas mesmas

IVONE ASSIS
A história existe porque homens e mulheres existem, cada qual no seu valor. Ontem, dia 8 de março, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Fiquei a pensar em como a história é construída e o quão importante é o papel da mulher. É a mulher quem carrega a vida em seu ventre. Ventres que carregaram presidentes, reis, faraós, médicos, escritores, pilotos, mecânicos, algozes... enfim, todos os homens, sem discriminação: Mandela, Gandhi, Einstein, Marx, Shakespeare, Salomão... Até mesmo o filho de Deus – Jesus Cristo – foi carregado em um ventre feminino. Não entendo como um ser tão importante como a mulher pode não se dar conta de seu valor. Não se trata de levantar bandeiras e fazer alvoroço, mas, sim, de se respeitar, de acreditar em si, de se dar o devido valor.

Dia após dia a violência contra a mulher só aumenta, e de repente a mulher deixa de ver, e se perde na violência também, como revide. Ora, a maior vingança é se tornar superior, e não produto do meio. Se a violência chegou aonde chegou, é porque algo está errado e é necessário mudar. O ser humano sempre quis extirpar da história a sua fonte criadora, é como se quisesse zerar o cronômetro e refazer a história. Que insanidade, a história se faz é com história. Deus fez o mundo, querem eliminar a existência de Deus; indígenas foram os primeiros habitantes, houve uma batalha de extermínio; mulheres genitoras são guardiãs da vida, subjugam-nas como seres inferiores... Quanta ignorância. É preciso repensar os valores e, principalmente, investir no amor, no respeito, na valorização da vida... 

De acordo com o jurista e escritor Dalmo de Abreu Dallari, autor de “Direitos humanos e cidadania” (2008, p. 54): “A violência, em seus mais variados contornos, é um fenômeno histórico na constituição da sociedade brasileira. Desde a escravidão, primeiro com os índios e depois, e especialmente, a mão de obra africana, a colonização mercantilista, o coronelismo, as oligarquias antes e depois da independência, tudo isso somado a um [...] autoritarismo burocrático” contribui “para o aumento da violência” no país.

Mulheres como Maria Quitéria, Irmã Dulce, Marie Curie, Maria da Penha, Valentina Tereshkova e tantas outras mudaram a história para melhor. A violência contra o ventre que gera a vida precisa ser cessada, e isso se faz com a autoconsciência, porque o poder sobre as atitudes de cada um também está nas mãos de cada um, e isso se chama decisão.

Cito o poema “Entre o cansaço da vida e a aspereza das mãos”, de minha autoria, em homenagem às mulheres, como forma de parabenizá-las. “Entre o cansaço da vida e a aspereza das mãos, a doçura da voz. / Há as que lutam pelos filhos e as que lutam pela comunidade. / Ambas traçam um círculo para proteger seu clã. / Algumas são mães, outras são tias. / Algumas não quiseram ter filhos, outras não puderam tê-los. / Algumas renunciaram a sua própria vida, para dedicar-se ao próximo; / Outras são “o próximo” que estende a mão, pedindo ajuda. // Entre o cansaço da vida e a aspereza das mãos, a candura dos sonhos. / Mulheres da poética, mulheres da estética; / Mulheres pesquisadoras, mulheres genitoras; / Mulheres avós, mulheres sós; / Mulheres professoras, mulheres doutoras; / Mulheres cozinheiras, mulheres festeiras; / Mulheres que cantam, mulheres que encantam; / Mulheres de todos os corpos: gorda, magra, alta, baixa – compridas e curtas. / Mulheres de todas as cores: verde, amarela, vermelha, azul, nude... / Mulheres de muitas línguas: cautelosas, faladeiras, poliglotas, poetisas. / Mulheres de muitas raças: batalhadoras, “preguiçosas”, ligeiras, humanas. // Entre o cansaço da vida e a aspereza das mãos, a mulher, simplesmente. / Algumas proferem mil palavras, mas não dizem nada; / Outras, no mais absoluto silêncio, narram o mundo. / Cada mulher, com seus feitos e defeitos / Cada mulher, com seus sonhos. / Algumas são livres, outras nem tanto. / Mas, em uma coisa, são iguais: /Todas querem ser elas mesmas”.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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