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05/01/2023 às 08h00min - Atualizada em 05/01/2023 às 08h00min

Sempre avante

IVONE ASSIS
O 2023 chegou cheio de acontecimentos. Como escreveu Drummond, em seu poema “Ano passado”: “O ano passado não passou, / continua incessantemente”; antes, Fernando Pessoa escrevera, em “Ano Novo”: “Nada começa: tudo continua”, e completa: “Começar só começa em pensamento”. Ambos trazem certo ceticismo quanto ao renovo que se prega sobre o ano novo, referindo-se às infindas promessas de no ano que vem farei assim e assado; no ano que vem farei isto ou aquilo; no ano que vem será tal e qual, e assim se seguem, infinitamente, as promessas sobre o que está por vir, ao mesmo tempo em que padece o agora.

Enquanto esses dois poetas expõem um pessimismo em versos, por meio da Arte, a História traz uma possibilidade de razão, por meio dos fatos. Também a Filosofia contribui com a análise da experimentação do ser humano consciente de si, a fim de ultrapassar o senso comum. Para tanto, pensemos na história do calendário gregoriano, o mais utilizado no mundo hodierno. Foram muitas as alterações aplicadas ao calendário, e marcar a passagem do tempo e suas ferramentas é mais história ainda. O calendário ocidental (ou gregoriano) surgiu no século XVI, ano de 1582, quando o papa Gregório “ajustou os ponteiros do tempo”, baseado no movimento solar, retirando o descompasso que havia no calendário juliano, e que vinha desde antes. No império do romano Júlio César, um ano contava com 355 dias e 12 meses, provocando um saldo de dias no resumo do ciclo ao se equacionar as estações, haja vista o calendário ter sua origem nas estações. Isso causava grande desajuste ao longo dos anos. Em 45 a.C. Caio Júlio César criou um ano com 15 meses, totalizando 455 dias, a título de adequação do tempo, para que nascesse, em 46 a.C., um ano de 365 dias e 6 horas inexatos, originando o bissexto. Isso não poderia dar em outra coisa senão em confusão, daí a criação do “ano da confusão”.

Somente 1500 anos depois, foi que o papa Gregório XIII, em 1545 d.C., no Concílio de Trento, instituiu o calendário que seguimos. O cálculo matemático aplicado por Gregório XIII foi em torno da Páscoa em alinhamento com o equinócio de Primavera no Hemisfério Norte e outros detalhes, de modo que a exatidão do resultado não permitisse atraso no tempo. Afinal, como diz a máxima: “relógio que atrasa não adianta”. Assim nasceu o calendário cristão, tal qual o conhecemos, com suas datas comemorativas que se ampliam dia após dia.

Mas, como era de se esperar, nem todos os países compraram a ideia, por isso o calendário cristão não é único. Não se sabe se o repúdio foi religioso ou político, o que se sabe é que Europa e Grécia só adotaram o calendário gregoriano em 1923 e a Turquia o fez em 1926. Porém, ainda há países que não utilizam esse calendário, como Nepal, Irã, Etiópia..., e também há países que usam calendários “compartilhados”, ou seja, o deles e o nosso, por exemplo: Coreia do Norte, Taiwan, Israel...

Independentemente de calendários ou ajustes, a vida se mescla de sonhos e realizações, como se fosse um encontro de acontecimento e luta em constante renovo entre a Arte (viver) e a História (vivido), em busca da Esperança (futuro).

Destarte, retomo a literatura com Ferreira Gullar, que diz em seu poema “Ano Novo”: “[...] E não começa / nem no céu nem no chão / do planeta: / começa no coração. / Começa como a esperança / de vida melhor / que entre os astros / não se escuta / nem se vê / nem pode haver: / que isso é coisa de homem / esse bicho / estelar / que sonha / (e luta)”. Porque toda mudança começa dentro do ser, no que chamarei de equinócio da razão, quando este se alinha com o equinócio da emoção, pois é o equilíbrio entre as partes que promove a mudança, nesse “bicho estelar que sonha (e luta)”.

Sabemos que, tecnicamente, ao nosso alcance só existe o presente, por isso devemos cuidar dele como sendo único, e precioso. Nada de pessimismo, nada de descrença, mas, sim, sempre lutando e acreditando nas possibilidades. Sempre avante.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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