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17/12/2022 às 08h00min - Atualizada em 17/12/2022 às 08h00min

Pare de Acreditar no Governo

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Há algum tempo venho me questionando acerca de um famoso ditado popular: “Política, futebol e religião não se discutem”. Com as pouquíssimas coisas que aprendi de alguns anos para cá, posso dizer, e quase afirmar, que isso poderia se tratar apenas de mais uma artimanha de políticos, para manter o status quo e permanecer no poder. Uma das respostas quase unânimes, se não a única que detenha essa façanha, é sobre como a educação tem um papel importantíssimo no caminho da melhora do país. Mas como vamos melhorar se não podemos discutir o que evidentemente faz parte da vida de todos? Decorar fórmulas e esquemas é importante, mas não é o suprassumo da educação. A ideia que os progressistas tanto falam, de que é preciso formar cidadãos nas escolas, não pode apenas se tratar de ensinar as crianças e os jovens a questionar e relativizar absolutamente tudo. Formar cidadãos, e não militantes doutrinados, passa por aguçar os sentidos e as percepções acerca da realidade à nossa volta.

Me recordo de uma passagem durante o curso de Direito, em que uma colega, durante uma discussão sobre política no grupo de Whatsapp da sala, disse que política não tinha nada a ver com o nosso curso. Ora, em qual curso deveríamos estar matriculados para discutir sobre política, medicina veterinária? Arquitetura?

Esse tipo de pensamento, infelizmente, traduz o que a maioria da população pensa, pois de certa forma, alguns ditos comuns se enraízam no subconsciente das pessoas, e faz com que não reflitam sobre o que de fato acontece à sua volta. Dizer que no curso de Direito não se pode discutir política é a mesma coisa que dizer que não pode fazer exercícios numa academia; são coisas indissociáveis. Talvez a colega tenha esquecido que estudávamos leis, e que quem as fazem são os políticos. Essa falta de percepção da realidade que nos cerca é, e foi, em certa medida, produzida por vários meios, durante muitos anos, e atinge seu ápice nos dias atuais.

A grande questão que se apresenta no livro é, como o brasileiro odeia os políticos – e consequentemente, a política – mas sempre espera uma solução advinda desse imenso ente abstrato e sem forma, que é o Estado, mas que é gerido por aqueles que ele odeia.

“Pare de Acreditar no Governo – Porque os brasileiros não confiam nos políticos e amam o estado”, em que o professor e cientista político, Bruno Garschagen,  tenta, através de um apanhado histórico, desde os anos do descobrimento do nosso país, até o apagar das luzes dos governos do PT, demonstrar esse grande paradoxo que envolve a sociedade brasileira; e talvez até mesmo ensaiar uma solução.

Com um compilado de fatos que remontam ao início da nossa nação, o escritor reúne histórias reais que mostram como fomos nos tornando cada vez mais dependentes do poder estatal. Conta a passagem, por exemplo, em que na primeira carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei de Portugal, contando sobre o descobrimento das terras tupiniquins, pediu um “favorzinho” ao monarca: que mandasse buscar seu genro exilado nas ilhas de São Tomé. Olha aí a gênese do tal “jeitinho brasileiro”.

Apresenta também alguns causos já da era republicana, como por exemplo o da ditadura de Getúlio Vargas, em que foram criados vários mecanismos que, embora se parecessem com direitos dos cidadãos, funcionava – e funciona até hoje – como uma espécie de filiação incondicionada da população. Foram criadas leis trabalhistas, e que se consolidaram através da famosa CLT, com direitos como aposentadoria, FGTS, salário mínimo, entre outros. A questão é que todas essas criações, nada mais são que meios de se permitir a interferência estatal na vida das pessoas. O FGTS é um bom exemplo de como o Estado lucra em cima de um direito: pela imposição dos encargos, obriga o trabalhador a ceder uma parte de seu salário, para lhe garantir uma quantia em dinheiro caso seu patrão resolva dispensá-lo. Nada mais justo, afinal, o trabalhador médio não sabe poupar dinheiro para alguma eventual situação de desemprego. Será?

Imagine que o estado, ao final de um ano recolhendo seu Fundo de Garantia, quando lhe devolver, o fará com a correção monetária com juros de 1% ao ano, ou seja, esse dinheiro lhe rendeu um por cento nas mãos do estado. Acontece que esse mesmo estado, emprestou/trabalhou com seu dinheiro, o que lhe permitiu acrescentar 3% sobre o valor que foi arrecadado (coloquei de forma bem grosseira e simplista), fazendo com que obtivesse um lucro de 2% sobre um dinheiro que não era dele. Aliás, nenhum estado possui fonte de renda, logo, ele apenas gere seu dinheiro. Como dizia Margareth Thatcher, primeira ministra britânica, “não existe dinheiro público; existe apenas dinheiro do pagador de imposto”. Assim, o que acontece é um verdadeiro empréstimo compulsório sem a possibilidade do cidadão exercer sua vontade de não aceitar. 

O estado roga para si alguns deveres, sob o pretexto de fornecer direitos às pessoas, mas o que acontece na realidade é que para cada direito proclamado, existe um dever de alguém realizá-lo. Quando o estado se coloca nessa função de garantidor de direitos, exige para isso que a população se abstenha de parte de seus ganhos, para que outros possam usufruir seus direitos. O problema é que isso se torna um ciclo sem fim, porque quanto mais obrigações relegamos ao estado, mais ele interfere em nossas vidas privadas, e mais dinheiro necessita para saciá-las. Essa intervenção do estado, é nos vendida sob um bonito embrulho de presente, um sofista “é para o seu bem”, que na verdade se demonstra um grande engodo: um estado imenso e fraco, que no fim das contas não atinge quase nenhum dos seus objetivos, com exceção de ser eficiente em sua arrecadação de tributos.

Uma das situações que permite esse grande paradoxo de se odiar os políticos, mas esperar as soluções do estado, como se fossem coisas separadas e distintas, é em grande parte relacionado aos níveis de escolaridade e de renda. Quanto menos escolarizados, mais baixa a renda das famílias; quanto menor a renda, maior a dependência do estado, principalmente via programas assistencialistas. Eis a pergunta que se formula agora: compensa para os políticos acabar com a pobreza? Nesse estado atual das coisas, é óbvio que não. 

Não há como fugir de um caminho de propagação de conhecimentos para que possamos algum dia viver em um país próspero. A mudança de mentalidade da população, dissertada pelo autor, não é algo que ocorre do dia para noite, e é preciso ensinar aos jovens que quanto menos o estado interfere nas relações privadas, mais liberdade possuímos.

Pare de Acreditar no Governo, Bruno Garschagen. 
 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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