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10/12/2022 às 08h00min - Atualizada em 10/12/2022 às 08h00min

Hábitos Atômicos

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Muitos de nós já devem ter ouvido falar acerca técnicas e regras sobre como melhorar nosso desempenho em várias áreas de nossas vidas. Vendem-se cursos, imersões, retiros, congressos e livros – muitos livros. Não existe segredo para se conquistar um novo patamar; não há ingrediente secreto na receita; é preciso aprender a fazer, literalmente.

James Clear nos dá dicas práticas de como implementar hábitos. Veja, não se fala aqui apenas de ser mais produtivo, ou de uma fórmula mágica para começar a realizar grandes feitos imediatamente. A ideia que o autor expõe no livro, é, a contrário senso, a de quase não fazer nada, ou melhor, a de realizar pequenas coisas repetidas vezes.

“É muito fácil superestimar a importância de um momento decisivo e subestimar o valor das pequenas melhorias diárias.” Isso nos mostra que é preciso entender que assim como a nossa vida, os hábitos bons são uma espécie de processo. “Seus resultados são uma mensuração tardia dos seus hábitos.”

Quando o escritor nos fala sobre como a ideia dos hábitos deve estar ligada diretamente com quem nós somos, significa que necessariamente devemos fazer um conjunto de mudanças, como se fôssemos um bloco inteiro de realizações, em que cada ação é voltada para um propósito e no final acabam se completando.

“Seus hábitos moldam sua identidade, sua identidade molda seus hábitos. É uma via de mão dupla. A formação de todo hábito é um ciclo de feedback, mas é importante deixar que seus valores, princípios e identidade, e não seus resultados, orientem o ciclo. O foco deve ser sempre se tornar um tipo de pessoa e não obter um resultado em particular.”

O autor discorre no livro sobre basicamente 4 itens para se criar um bom hábito, que os nomeia de “Quatro leis da mudança de comportamento”. São elas: 1ª Lei, torne-o claro; 2ª Lei, torne-o atraente; 3ª Lei, torne-o fácil; e 4ª Lei, torne-o satisfatório.

O livro possui ótimos insights sobre maneiras de formar bons hábitos. A questão é que nem sempre existe uma “dica de ouro”, mas quase sempre envolve um conjunto de pequenos passos que no fim, por se tornarem um processo, geralmente começam a produzir resultados posteriormente. Cada ato gera uma consequência, pois mesmo que os hábitos possam ser concluídos em poucos segundos, eles continuam afetando nosso comportamento por minutos ou muitas horas depois.

Bons hábitos têm custos imediatos e recompensas tardias; maus hábitos tem recompensas imediatas e custos tardios. Comer um fast food é prazeroso no momento, mas seu exagero nos causará um grande problema de saúde no futuro; praticar atividade física é desgastante na hora do exercício, mas certamente nos trará uma excelente saúde na idade mais avançada.

Por isso o escritor diz que “uma mentalidade focada no sistema oferece o antídoto. Quando você se apaixona pelo processo, e não pelo produto, não precisa esperar para se dar ao luxo de ser feliz. Pode ficar satisfeito a todo momento que seu sistema esteja em execução. E um sistema pode ser bem-sucedido de muitas formas diferentes, não apenas da primeira que você imagina.”

Para mudar um hábito, ou melhor, para melhorar nossos resultados continuamente, é preciso olhar para uma espécie de sistema de hábitos, e entender que pequenos bons hábitos produzem grandes resultados. “Um resultado idêntico o persegue porque você nunca mudou o sistema por trás dele”

Um ponto interessante, que vai muito além apenas dos hábitos, é sobre como nosso ambiente nos influencia. O autor conta que na maioria das vezes não precisamos estar cientes de um gatilho para iniciar um hábito, porque fazemos isso inconscientemente. “Você pode perceber uma oportunidade e agir sem se conscientizar dela”. Por isso a necessidade de sempre estar cercado de coisas boas, pois como ele explica bem no livro, nossa mente capta o que não percebemos. Se o ambiente à minha volta é caótico, minha mente também será. E se minha mente vive em caos, produzo caos externamente, o que acaba se tornando um ciclo vicioso, que precisa ser quebrado em alguma parte. A que é de mais fácil alcance, acredito, na maioria das vezes é a disposição do ambiente em que vivemos. O nosso ambiente influencia, nos incentivando ou nos delimitando.

Pessoas de sucesso geralmente não são acima da média das outras pessoas, não pelo menos em questão de inteligência, mas sim em termos de organização. A questão é que essas pessoas conseguem fazer o que tem de ser feito – principalmente ações de rotina – em menos tempo do que os demais, justamente porque transformam a maioria de suas ações em hábitos, conseguindo realizá-los meio que de modo automático, o que necessariamente os deixa com mais tempo para refletir sobre decisões mais importantes.

Gosto de bater na tecla do propósito, pois é uma parte essencial do nosso processo de melhora. Quando temos uma meta bem definida, com objetivos claros, conseguimos perder menos tempo com coisas que não nos agregam nesse caminho, ou até mesmo, como diz Ortega Y Gasset, que a “reabsorção das circunstâncias torna concreto o destino do homem”, podemos aproveitar o que nos acontece e utilizar na busca do nosso propósito. Como reflete Clear, “uma vez que nossos hábitos se tornam automáticos, deixamos de prestar atenção ao que estamos fazendo”, e isso se torna um trunfo poderoso, desde que esses hábitos sejam bons. É bem melhor você tomar um copo de água sem sentir sede, do que acender um cigarro sem pensar.

Muitas pessoas pensam que não têm motivação quando o que realmente lhes falta é clareza. Nem sempre é óbvio quando e onde agir e algumas pessoas passam a vida inteira esperando o tempo certo para se aprimorar. Se temos hábitos bem sedimentados, automatizamos o maior número de ações possíveis, fazendo com que nos sobre tempo para o que é essencial no processo de aperfeiçoamento.

O autor ensina que combater um mau vício não é essencial, mas aprender um bom hábito, sim. Dessa forma, é melhor e mais fácil tentar eliminar uma etapa de um hábito ruim do que necessariamente combatê-lo, e se concentrar mais no processo de um bom hábito. Quem atinge altos níveis de sucesso, geralmente tem um auto controle muito elevado, e tendem a gastar menos tempo em situações que nada lhes acrescenta.

Nossos hábitos são soluções modernas para desejos antigos, uma vez que a natureza humana não muda. Temos os mesmos sentimentos e necessidades que haviam nos tempos primórdios. Veja um quadro poderoso dessa questão: há muitas maneiras de se abordar o mesmo motivo subjacente que enseja o estabelecimento de um hábito: Uma pessoa pode aprender a reduzir o estresse fumando; outra praticando corrida ou frequentando a academia.

Com capítulos contendo várias ideias de como continuar realizando bons hábitos e aprimorando-os, James Clear demonstra que passos pequenos, mas práticos, e sem cair no lugar comum de “regras únicas”, nos possibilitam as mais diversas formas de crescimento, não apenas como profissional, mas principalmente como pessoa.
 
Hábitos Atômicos, James Clear.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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