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19/11/2022 às 08h00min - Atualizada em 19/11/2022 às 08h00min

Thomas Sowell

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
Me dobrarei à corrente, mas apenas para poder contrariá-la. Dia 20 de novembro é “comemorado” o Dia da Consciência Negra, mas gosto muito de uma frase que vai meio que na contramão, atribuída à Morgan Freeman, que diz: “O dia em que pararmos de nos preocupar com a consciência negra, amarela ou branca e nos preocuparmos com a Consciência Humana, o racismo desaparece”. Disse que me dobraria à corrente justamente para falar hoje sobre um escritor negro. Contudo, não se trata de um simples autor ou mesmo alguém que se entrega facilmente ao politicamente correto, em busca de louros e aplausos. Pelo contrário, Thomas Sowell é justamente o “terror” de progressistas utópicos, principalmente por desmontar com fatos uma a uma de suas teorias fictícias e falácias sedutoras.

Antes que alguém possa questionar – apesar de também ser contra esse tipo de argumentação que, antes de inclusiva, apenas delimita cada vez mais o alcance do debate sério sobre ideias – estou no meu lugar de fala: sou negro.

O compilado de artigos de vários estudiosos sobre o pensamento de Sowell, sob a organização do professor Dennys Garcia Xavier, não chega a ser uma biografia do economista americano, mas retrata diversas passagens e experiências do escritor, desde a sua infância até os dias atuais, e destaca também alguns pontos importantes de seus livros. Já comentei aqui sobre uma obra sua, Discriminação e Disparidades, e pretendo fazê-lo ainda sobre outras, já que as considero importantíssimas para o aprimoramento e expansão do entendimento acerca de várias matérias, como economia e aplicação de políticas públicas. A clareza, maestria e inteligência de Sowell é, notadamente, acima da média.

O filósofo e economista é fundamentadamente contra cotas raciais, mas não toma tal posição apenas por mero capricho ou sem motivos. Em seu livro “Ação Afirmativa ao Redor do Mundo”, por exemplo, discorre como em praticamente todos os lugares em que foram implementadas, as políticas públicas afirmativas, que visam a “inclusão” de minorias, não obtiveram os resultados que era esperado que tivessem. Na mesma linha do que afirma Scruton, Sowell demonstra que esse tipo de iniciativa proporciona um aumento gradual e significativo do ressentimento entre as classes, o que, longe de sanar o problema, contribui cada vez mais para o seu agravamento, e privilegia apenas um pequeno grupo dentro das minorias.

É interessante mencionar, que o autor não teve uma infância fácil, não apenas por conta da desestruturação familiar e pela pobreza, mas também por conta do racismo que sofreu, já que nasceu no Sul dos EUA, numa época em que as questões raciais eram de fato um problema, com situações absurdas como por exemplo bebedouros distintos ou lugares separados em ônibus para brancos e negros – diferente do que acredito que ocorra no Brasil, onde tentam impingir a imagem de um “país racista”, o que definitivamente não somos; existe sim racismo no Brasil, porém se trata de um racismo circunstancial e não estrutural como os vendedores de tragédias propagam. 

Apesar de na época Sowell não se posicionar publicamente acerca dessas questões, pois dedicava maior parte do seu tempo aos seus trabalhos acadêmicos, em cartas particulares expressa suas preocupações sobre os “objetivos equivocados” que os movimentos negros visavam que, segundo ele, se preocupavam mais em conseguir igualdade em relação a acomodação no transporte público do que melhorar a qualidade de ensino nas escolas que atendiam as comunidade negras – podemos, inclusive, traçar um paralelo com os dias atuais, em que esses movimentos negros querem que a qualquer custo os empregadores empreguem negros, mesmo que para isso aqueles tenham que suprimir alguns requisitos de habilidade técnica, ao passo que a luta deveria ser, na verdade, para uma educação melhor, o que os alocariam sem a necessidade de uma interferência direta no mercado. Disse: “quanto mais eu acompanho as lutas de integração no Sul, mais eu estou inclinado a ser cético quanto ao fruto real disso tudo. É estranho ficar ‘em cima do muro’ e criticar pessoas que estão sofrendo por seus ideais, e ainda assim a pergunta deve ser feita: ‘O que isso irá fazer?’ Parece haver tantas outras coisas com maior prioridade do que a igualdade de acomodação pública, que a preocupação cega com essa coisa parece quase patológica. Quando se considera a apatia na comunidade negra em relação a coisas como a incompetência e irresponsabilidade sem esperança de suas próprias faculdades e outras instituições, o fervor gerado na luta pela ‘integração’ em todas as coisas, a todo custo, parece mais uma liberação emocional do que um movimento sensível em direção a algo que promete um benefício ao longo do tempo”.

É nítido que o autor não aceita falácias desde os tempos de juventude, e faz uma análise racional dos fatos que o cercam; análises, diga-se de passagem, dignas de uma mente brilhante. Eis um ponto elementar: ele poderia muito bem se entregar à massa, aceitar sua “condição” e simplesmente ser mais um em meio a uma turba de zumbis que repetem argumentos sem saber de onde vêm; contudo, Sowell não aceitou o que lhe “empurravam” goela a baixo. Mais importante ainda, utilizou um Dom que possui, sua inteligência, em favor da Verdade. 

Com os já citados, “Ações Afirmativas ao Redor do Mundo” e “Discriminação e Disparidades”, e também “Os Intelectuais e a Sociedade”, “Economia Básica”, “Fatos e Falácias da Economia” e “Conflito de Visões”, possui mais de 40 livros publicados que o tornam um grande expoente do pensamento conservador na atualidade. 

Existem autores que nos fazem olhar para os fatos e “perceber” a realidade. Sowell é definitivamente um intelectual que proporciona essa desmistificação e necessário para aqueles que desejam fugir de jargões e falácias sem sentido. E Sowell o faz com excelência.

Thomas Sowell, Coleção Breves Lições.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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