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13/10/2022 às 08h00min - Atualizada em 13/10/2022 às 08h00min

Gotinha do amor

IVONE ASSIS
Por melhor que seja a plantação de trigo, o joio sempre estará inserido em seu meio, geralmente, eles crescem juntos, para que o trigo não seja penalizado, mas, na hora da colheita, é que são separados. Essa parábola tem múltiplas interpretações. Podemos pensá-la como analogia às discrepâncias sociais, aos desatinos políticos, às disparidades humanas, à paciência e justiça de Deus... e tantas outras possibilidades, contudo, hoje, quero fazer uma analogia dessa frase com a Poliomielite.

Pode até soar estranho, mas logo ficará compreensível. De acordo com o Wordometer, um gerador de estatística mundial em tempo real, só neste ano já se somam cerca de 110 milhões de crianças nascidas em todo o mundo contra 46 milhões de mortes humanas. Isso representa um significativo crescimento mundial da população. E quanto maior a população, maior a necessidade de conhecimento, alimentação, cuidado com a saúde e sabedoria para se conviver em comunidade. Afinal, o mundo é um pequeno espaço que vai sendo preenchido a passos largos por viventes da terra, da água e do ar. Dentre estes encontra-se o ser humano.

As enfermidades fazem parte da vida, assim como vida e morte andam de mãos dadas. É como se fosse o joio e o trigo crescendo juntos, e dependendo do ceifeiro para que a colheita seja proveitosa. Mas não viemos nesta terra para servirmos de objeto. Deus nos fez à sua imagem e semelhança, porque somos importantes. Toda criança nasce com seu encantamento próprio. Quando o livre arbítrio assume a direção, aí passa a ser escolha do próprio ser, mas até chegar lá, existe uma fase experimental da vida na qual dependemos da orientação e zelo de alguém mais experiente. Esta é fase em que somos alicerçados. Faz parte desse processo a saúde, e uma das paradas obrigatórias se chama vacinação.

Nesta semana, o país está em campanha de vacinação contra a Poliomielite. Essa doença devastadora é provocada por um vírus terrível, que consome as células nervosas da medula espinhal da criança atacada e absorve toda a sua massa muscular, levando-a ao terrível e irreversível quadro de paralisia infantil. A cruel poliomielite ataca, em especial, crianças até cinco anos de idade, talvez seja pela facilidade de entrada, haja vista que o vírus navega nos alimentos, na água e por contato com pessoas contaminadas, e criança, bem sabemos, não têm capacidade de se cuidar com esses detalhes. Além do agravante maior que consiste no fato de que muitos adultos contaminados são assintomáticos, e não apresentando sintomas, pegam as crianças miúdas em seus braços, e isso pode levá-la à ruína, exceto nos casos em que a criança se encontre devidamente protegida pela vacina.

Uma vez infectada, se tratada de imediato (o que é raro), os danos podem ser menores, mas o que, em geral, acontece, é a criança se tornar um paralítico. Entendo que a responsabilidade desse infortúnio é promovida pela irresponsabilidade (ou desconhecimento) do adulto que não aplicou a devida proteção a que chamamos de ‘Zé Gotinha”. São inúmeras literaturas orientando, mas, quem as lê?

O jornal “Revista da Semana”, de 1956, em matéria de W. Guarnieri, traz em destaque “PARALISIA INFANTIL: VACINAR OU NÃO VACINAR EIS A QUESTÃO”. À época, os médicos apresentaram opiniões divergentes sobre a eficácia da vacina. 150 cientistas se reuniram e não acordaram entre si. A população não deu muito crédito e o resultado foi catastrófico e epidêmico. De lá para cá, a vacina salvou milhões de crianças da paralisia infantil. Não fosse ela, haveria um número sem igual de paralíticos.

Ironicamente, a matéria dizia que “pobres eram menos atacados”, em um jogo de oportunidade quanto à imunização preferencial aos ricos. Os esforços e o conhecimento do Dr. Jonas Edward Salk demoraram a ser reconhecidos, mas sempre foram eficientes.

O medo e o desconhecimento ainda perduram entre muitos, mas entre a dúvida e a poliomielite, optemos pela criança cresça saudável, basta lhe dar a vacina, uma Gotinha do amor.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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