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29/09/2022 às 08h00min - Atualizada em 29/09/2022 às 08h00min

Literatura e Psicanálise

IVONE ASSIS
Neste dia, eu gostaria de falar sobre muitas obras literárias, mas vou falar sobre a escrita em si, talvez a relação entre a literatura e a psicanálise, uma vez que o consciente está presente a todo momento.

Desde antes do livro, a literatura sempre exerceu um papel importante no comportamento humano. Freud, em sua obra “O interesse científico da psicanálise” (1913), escreve: “A arte é uma realidade convencionalmente aceita, na qual, graças à ilusão artística, os símbolos e os substitutos são capazes de provocar emoções reais”. Que frase mais acertada, especialmente se estivermos olhando para uma literatura infantil, em que a criança se insere por completo na história, nas ilustrações... Mas não só. Vejamos um romance bem escrito, uma biografia bem contada, um conto, uma poesia... Quantas não são as literaturas que mexem com a estrutura humana, fazendo o leitor chorar, motivando, dando ideias, criando possibilidades, confortando a alma... Diariamente, um autor anuncia: “Fui curado por meio da escrita”. Escrever é enfrentar seus medos, e anseios, e dores... A escrita, sempre que necessário, torna-se um apoio psicológico a autores e leitores. A literatura está para a psicanálise, o direito, a comunicação... e tantas outras áreas. A literatura é capaz de estabelecer uma afinidade entre o sujeito e sua vivência, despontando para um olhar psicanalítico.

Ainda na mesma obra, Freud afirma: “É verdade que a psicanálise tomou como tema a mente individual, mas, ao fazer investigações sobre o indivíduo, não podia deixar de tratar da base emocional da relação dele com a sociedade”. E parafraseando o mestre, digo, é verdade que a literatura tomou como caminho a ficção, mas ao investigar suas ações, não posso deixar de notá-la como ferramenta de cura, na sociedade.

A sensibilidade estética, seja da palavra ou do sujeito (para com a palavra, ou objeto, ou situação), poderá gerar absoluta afinidade ou repulsa entre leitor-texto-ouvinte, por exemplo, a forma com que lemos um texto, sobretudo poemas. Há 20 anos promovendo eventos literários, foram muitos os momentos em que vi o texto arrebatar o espectador. E muitas vezes, eu mesma vivi o abismar-se por meio da palavra. O mesmo acontece com outras artes. A beleza está na emoção envolvida no processo de transmissão e recepção.

Como escreveu o filósofo Ludwig Wittgenstein (1931): “Há quem considere a música uma arte primitiva porque ela tem poucas notas e poucos ritmos. Mas só é simples à superfície; a sua essência, que torna possível interpretar o seu conteúdo manifesto, tem, contudo, toda a complexidade infinita que é sugerida pelas formas externas de outras artes e que a música oculta (...)”. Igualmente, a literatura traz muitos saberes além do visível.

Afinal, o que é o belo? Arte e ciência andam lado a lado. Ambas promovem sintomas de cura, por meio de sua fruição. Assim sendo, podemos dizer que Literatura e Psicanálise se unem para promover respostas, de possíveis e impossíveis, mas sendo o impossível o inesgotável, por certo, sempre teremos novas descobertas dentro do mesmo campo de observação. De um lado a interpretação se esbarra na verossimilhança de vivências, de outro, voa livre no imaginário. Mas, por fim, o que é verdade ou imaginário? E que diferença faz se é chá ou remédio, desde que o resultado seja a cura, ou, quando pouco, o bem viver.

Sabemos que a psicanálise não se limita às fronteiras do consultório, ela avança em vários campos, sempre em busca de contribuir para que o sujeito veja a resposta, que, geralmente, está à sua frente, mas sua dor o impede de enxergar. Para Freud (1907, p. 91): “[...] ao serem identificadas as suas origens, a perturbação desaparece; da mesma forma, a análise produz simultaneamente a cura”. Mas loucura seria imaginar que este é um caminho fácil de se trilhar. Entre o ponto de partida e a linha de chegada existem os obstáculos, os quais podem ser descobertos por meio das Literatura e Psicanálise.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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