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22/09/2022 às 08h00min - Atualizada em 22/09/2022 às 08h00min

As respostas

IVONE ASSIS
Ver nosso Brasil chegar a seu bicentenário de independência é algo, no mínimo, emocionante. Uma pátria soberana é uma riqueza. Lembro-me de mim, ainda criança, comemorando as festividades da Independência, em Goiás. Aquele era um dia ímpar. O desfile era cuidadosamente preparado e, para as crianças mais pobres como eu, aquela era uma das poucas oportunidades de pertencimento social. O Hino da Independência era executado e discutido poeticamente. Analisada, aquela letra agora era conhecimento. Foi nessas aulas que aprendi que esse hino era uma linda poesia do jornalista e livreiro Evaristo Ferreira da Veiga e Barros, patrono da cadeira de nr. 10, da ABL (Academia Brasileira de Letras). Como poesia, os versos ficavam na ponta da língua. Às vezes, ainda me pego cantando-o, em meu momento estrela, quando desafio os ouvidos da casa.

O poema nasceu sob o título "Hino Constitucional Brasiliense" e foi musicado pelo maestro Marcos Antônio da Fonseca Portugal; Dom Pedro I, ex-aluno do maestro e exímio compositor (afinal era um príncipe), recriou a melodia do poema de Evaristo, batizando-o como “Hino da Independência”, e assim esses amantes da música e da poesia foram eternizados em sua criação. Tanto Dom Pedro I como Marcos Portugal têm partitura oficial reconhecida, do Hino, mas prevaleceu a versão do Imperador, conforme decisão um século depois. Afinal, entre as notas Dó e Si existem o Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, ou seja, os créditos tiveram suas demandas entre senhores e “vassalos”. Foi só na década de 1930, que Gustavo Capanema, do primeiro governo Vargas, assinando a pasta do Ministério da Educação e da Saúde, e fazendo uso do poder a ele conferido, criou uma comissão, da qual fazia parte o maestro Heitor Villa-Lobos, a qual determinou a oficialização dos hinos brasileiros, conforme sua originalidade. Desse modo, todos executaram as notas musicais, conforme a orquestra. A nossa deslumbrante Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, é a guardiã de todos os comprobatórios.

O poema/Hino da Independência diz: “Já podeis, da Pátria filhos, / Ver contente a mãe gentil; / Já raiou a liberdade / No horizonte do Brasil. // Brava gente brasileira! / Longe vá... temor servil: / Ou ficar a pátria livre / Ou morrer pelo Brasil. [...]”, aqui o poeta faz referência ao Grito do Ipiranga, elogia a nação por sua bravura e assegura-lhe do quão preciosa é a liberdade. Depois o poeta continua: “Os grilhões que nos forjava / Da perfídia astuto ardil... / Houve mão mais poderosa: / Zombou deles o Brasil”. Concluídos esses versos, repete-se o refrão, a fim de intensificar o nacionalismo e evidenciar que a pátria agora é soberana. E continua: “Não temais ímpias falanges, / Que apresentam face hostil; / Vossos peitos, vossos braços / São muralhas do Brasil”. Então o poeta abre o peito para acordar seu povo, para que este também se dê conta de que a colonização já é Passado, urgindo que se olhe para si como nação livre: “Parabéns, ó brasileiro, / Já, com garbo juvenil, / Do universo entre as nações / Resplandece a do Brasil”. E assim o poema é finalizado como Hino da Independência, com o refrão, que, na minha teoria, enfatiza o valor da liberdade de uma nação, e a importância de se manter consciente de tal valor.

Para Jonathan Culler (1999, p. 13), teoria são efeitos práticos, “que vão além de seu campo original”, capazes de mudar “os pontos de vistas”. Seu ponto principal é a discussão do senso comum, à procura do sentido. Cecília Meireles, em seu poema “Canção mínima” (1983, p. 163), diz: “No mistério do Sem-Fim, equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim, e, no jardim, um canteiro; no canteiro, uma violeta, e, sobre ela, o dia inteiro, Entre o planeta e o Sem-Fim, a asa de uma borboleta”. A poetisa revela a beleza e a fragilidade do mundo, sustentada em uma força invisível. Como ensina Sócrates: “Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida” (Sócrates), afinal, é no conhecimento e na ponderação que moram as respostas.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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