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20/08/2022 às 08h00min - Atualizada em 20/08/2022 às 08h00min

Manual do Covarde

EDMAR PAZ JUNIOR
Dentre os grandes nomes do jornalismo brasileiro, não podemos deixar de citar Guilherme Fiuza. No cenário atual, em que existe um grande complexo de enlaçamentos, dos mais variados – que de certo modo “aprisionam” a liberdade da maioria dos jornalistas – ter a independência de se falar o que deseja, e mais, buscar a verdade, se torna evidentemente um grande trunfo. 

Seu jeito irreverente, com muitas pitadas de ironia, mas sempre com a intenção “abrir os olhos” de quem o ouve, capacita o autor, escritor e jornalista, a figurar nessa “listinha” de bons nomes para se prestar atenção. Existem muitas verdades que nos passam despercebidas, simplesmente porque não temos acesso àqueles que a desejam propagar. É, em certa medida, uma empreitada arriscada tentar taxar algo de verdadeiro ou não, tampouco gosto também, contudo, de afirmar que a verdade é relativa – esse tema deixo para um texto futuro, já que não se trata de algo nem um pouco simples. 

Apesar de no Brasil, em muitas situações, ser preciso desenhar o que se quer dizer, mesmo mergulhado em frases bem humoradas, Fiuza consegue expressar de forma sensacional a “brincadeira” de mau gosto que fizeram com nosso país durante tantos anos, principalmente nos governos petistas. Quando trago aquela ideia de que muitas verdades nos são deliberadamente ocultadas, não falo necessariamente em formas de censura ou expressamente proibidas, mas sim na concordância e, principalmente, na condescendência de grande parte dos canais de comunicação para com a manipulação de muitas dessas mentiras que nos são contadas. 

Com histórias absurdas – não pela imaginação ou semelhança com ficções dignas de filmes hollywoodianos, já que o escritor fala sobre fatos reais, mas sim pela imensa desonestidade que reinava nos bastidores do poder – sabemos através dessas linhas, de histórias pouco, ou quase nunca, citadas pelas mídias tradicionais. 

Desde um terrorista islâmico que Dilma escondeu dentro da URFJ (não como refugiado político ou aluno, mas como professor mesmo), passando pelas denúncias teatrais dos irmãos Batista (nos escândalos bem ensaiados do caso Friboi usados apenas para desviar o foco do povo – sempre), e até um “Esse é o cara” que Obama soltou para um ex-presidente e ex-condenado (pequeno detalhe que não pode passar em branco: elogio esse solto durante um dos maiores esquemas de corrupção da história da humanidade, ao estilo do “nunca antes na história desse país”, mas que pode ser bem mais extenso e se tornar um “nunca antes na história do universo”), são apresentados casos para refrescar nossas memórias e mostrar as faces dos impostores que açoitaram, escorraçaram e saquearam o nosso país por tantos anos.

Acredito que um dos grandes problemas do brasileiro é a tal da “memória curta”, principalmente para a política. Talvez se lembrássemos com mais frequência de frases como “(...) mas a posição mais honesta é a do político, sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto”, que um certo candidato à presidência proferiu por palanques afora, daríamos menos espaços para esses tipos de pessoas que não pensam em momento algum no bem estar do povo.

“Meio século após a explosão da contracultura – os loucos anos 60 –, o mundo vive um novo despertar político”. Ele é especialmente forte no Brasil – e contém um elemento sem precedentes: sua força está na sua falsidade. É a primeira revolução fake da história.
Em 1968, escolher um lado do Muro de Berlim podia custar a vida. Passados 50 anos, seus problemas acabaram: você pode ser um herói de esquerda sem sair do Facebook. 
O Manual do Covarde é uma crônica desse falso despertar – espécie de feira politicamente correta – e sua escalada febril do impeachment de Dilma à prisão de Lula.  Se cada vez mais gente finge ter uma causa (a chamada minoria esmagadora), este livro também finge ser um manual – que vai te ensinar a ciência deles: como ficar bem na foto sem precisar tirar a máscara. De Lula a Bono Vox, de Maduro ao papa, do STF à MPB, do PT a Hollywood, biografamos para você as melhores farsas do século 21.

“Aprenda com quem faz”. A nota do jornalista, que abre a obra, dá um vislumbre do que virá no restante do livro. Apesar de ter sido escrito em 2018 e já estar bem desatualizado – não porque foram reparados os erros ou porque alguém foi preso, mas sim porque surgiram tantos outros casos e encenações dignas de muitas estatuetas de Oscar, que seriam necessários vários volumes – é importante não deixar cair no esquecimento essas pérolas e causos quase mitológicos, de tão surreais. O livro é irônico, mas real, inteligente e surpreende pela quantidade de histórias que por pouco não seriam nunca descobertas e contadas.

Manual do covarde, Guilherme Fiuza. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





   
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