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26/05/2022 às 08h00min - Atualizada em 26/05/2022 às 08h00min

Renascer para a vida

IVONE ASSIS
Lendo “Soneto Inglês nr. 2”, do clássico “Manuel Bandeira” (1886- 1968), fiquei a pensar nas virtudes, na capacidade de se sacrificar em prol do bem viver de cada um, na determinação em vencer a idiotice e encontrar formas de experimentar o chamado “boa convivência”. Mesmo com tanta tecnologia, tantas leis, tantas oportunidades, a todo instante uma tragédia toma conta do noticiário. E a resposta para essa sandice não é outra senão intolerância e estupidez.

O poema de Bandeira, no qual concordo em parte, diz: “Aceitar o castigo imerecido, / Não por fraqueza, mas por altivez. / No tormento mais fundo o teu gemido / Trocar num grito de ódio a quem o fez. / As delícias da carne e pensamento / Com que o instinto da espécie nos engana / Sobpor ao generoso sentimento / De uma afeição mais simplesmente humana. / Não tremer de esperança nem de espanto. [...].

Quando contemplamos, estarrecidos, um jovem de 18 anos comete uma chacina da escola, alegando que sofria bullying, só me vem um pensamento: falta de diálogo entre todos. O que os pais andam fazendo que não ensinam aos filhos, diariamente, desde que nascem, que o respeito e a tolerância devem andar de mãos dadas, contudo, faltando a tolerância, o respeito deve mostrar sua superioridade, e falar por si? Viver é estar na companhia da sociedade, cabe a cada um fazer um autoexame de consciência. É maravilhoso quando tudo vai bem, mas quando a casa está sendo atacada... destruída, a reação não deve ser “contra-ataca enquanto tiver fôlego”, porque isso leva à insanidade da guerra, portanto, a reação deve ser “farei o possível para evitar uma tragédia”. Não estou a insinuar que a parte ofendida deva se calar. Jamais. Mas chamo a atenção para a conduta de superioridade. Ser superior não é revidar com a mesma pedra, ser superior é usar a palavra certa, a atitude correta, para que o ofensor se envergonhe, repense sua tolice, peça desculpas e se torne um “cabra” melhor. Uma palavra acertada evita milhões de infortúnios.

É dessa resiliência que trata o poema em seus quatro primeiros versos: “Aceitar o castigo imerecido, / Não por fraqueza, mas por altivez. / No tormento mais fundo o teu gemido / Trocar num grito de ódio a quem o fez”. Todos nós temos nosso espaço nesta vida. Não somos filhos do acaso. Ser respeitado não se confunde com valentia, mas, sim, com ética. Ter princípios é o primeiro degrau para o sucesso. Errar é humano, permanecer no erro é burrice. A valentia maior não está no revide, mas, sim, na grandeza de pedir perdão.

O poeta chama a atenção para o sacrifício pessoal em prol da boa convivência, e esta começa em casa, porque a rua é apenas um espelho. A sublimação (ou catarse, como queira) está em vencer as seduções do ego, a fim “de uma afeição mais simplesmente humana”, a sabedoria está em “Não tremer de esperança nem de espanto”. Sem dúvida, se tivéssemos mais poesia e interpretação de textos em nosso cotidiano, os sucessos humano e educacional seriam bem maiores.

Sacrifício pessoal começa com o respeito à família, sobretudo àqueles do convívio mais próximo, aqueles que ocupam a mesma casa... As opiniões podem divergir, desde que se mantenha o respeito. Acatar críticas e bons conselhos é essencial para o crescimento ético.

Outro livro necessário é o das virtudes, de William J. Bennert, uma antologia de seletos textos, de grandes autores, que convidam o leitor para uma viagem dentro de sua própria conduta, analisando desde a perseverança, passando pela responsabilidade (trabalho e disciplina), compaixão e fé, até alcançar a honestidade e a lealdade, por meio de textos simples como “Tente mais uma vez”; “Por favor”; “A lenda da concha”; “O lenhador honesto”... Esse último, tão indispensável aos nossos dias, quando um celular ou um PIX valem mais que a própria vida. São textos que remetem à gratidão, à autoconsciência e outros valores essenciais, todos eles têm como linha de chegada o renascer para a vida.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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