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05/05/2022 às 08h00min - Atualizada em 05/05/2022 às 08h00min

Sobreviventes

IVONE ASSIS
Algumas coisas são tão importantes, que recebem um dia em sua homenagem, e o dia 5 de maio é uma data repleta de comemorações dessas coisas muito relevantes. Dentre elas estão o “Dia da Língua Portuguesa”, que é comemorado no Brasil, em Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste; o “Dia Nacional do Líder Comunitário”; “Dia Nacional das Comunicações” ou “Dia do Marechal Rondon”, devido Rondon ter sido membro da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas no Brasil; “Dia nacional sobre o uso racional de medicamentos”, por um uso consciente de medicamentos, evitando a automedicação; “Dia mundial de higienização das mãos”, devido à importância da higienização das mãos no processo desinfecção, e, por fim, “Dia Nacional do Expedicionário”, em homenagem aos combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), formada por um contingente de 25.374 homens.

Sobre o expedicionário, Guilherme de Andrade de Almeida, ou apenas Guilherme de Almeida (1890-1969), que além de advogado, jornalista, ensaísta, tradutor brasileiro, crítico de cinema, era também poeta e se fez letrista, compositor da “Canção do Expedicionário”, que diz: “Você sabe de onde eu venho? / Venho do morro, do engenho, / das selvas, dos cafezais, / da choupana onde um é pouco, / dois é bom, três é demais. // Venho das praias sedosas, / das montanhas alterosas, / do pampa, do seringal, / das margens crespas dos rios, / dos verdes mares bravios, / de minha terra natal. // Por mais terras que eu percorra, / não permita Deus que eu morra / sem que eu volte para lá / sem que leve por divisa / esse "V" que simboliza / a vitória que virá: // [...] Eu venho da minha terra, / da casa branca da serra / e do luar do sertão; / venho da minha Maria / cujo nome principia /na palma da minha mão. // [...] Você sabe de onde eu venho? / É de uma pátria que eu tenho / no bojo do meu violão; / que de viver em meu peito / foi até tomando um jeito / de um enorme coração. // Deixei lá atrás meu terreiro / meu limão meu limoeiro, / meu pé de jacarandá, / minha casa pequenina / lá no alto da colina / onde canta o sabiá. / [...]”. Essa canção ganhou seu espaço na história, tornando-se um marco. Foi exaustivamente divulgada e acatada pelo povo. Seu primeiro verso indaga: “Você sabe de onde eu venho?”, apresentando, assim, um vasto sentido, especialmente, dizendo ao outro que ele vem de todos os lugares de seu país, pois eram oriundos de 20 Estados brasileiros, e por mais que ele se distancie, ou que seu lar seja simples, o seu desejo é o de retornar para seu lugar, e ficar ao lado dos seus. Pois, por onde quer que ele passe, ele leva consigo a saudade. Em sua nostalgia, o poeta vai relatando as lembranças que ele carrega dentro de si, a saber: o quintal, as plantas, o lugar, a casa... O poeta, implicitamente, traz, em sua poesia, diversas questões sociais, econômicas, culturais... A canção do expedicionário bebeu nas fontes de José de Alencar, Gonçalves Dias, Hino Nacional e outros tantos. O texto nasceu para um concurso cultural, promovido pelo Diário da Noite, durante a Segunda Guerra Mundial, como forma  de prestar seu respeito e gratidão aos pracinhas.

Em entrevista, Guilherme de Almeida relatou que escrevera a última sextilha da canção na madrugada de 8 de março de 1944. De lá para cá, muitas guerras e novas tecnologias surgiram do mundo, no entanto, a canção do expedicionário se mantém mais viva do que nunca, não apenas pela beleza da canção, mas, especialmente, pelo reconhecimento da coragem dos soldados que foram à luta, sobretudo aqueles que perderam suas vidas em prol da nação. As guerras não criam heróis, tão somente há sobreviventes.


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