Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
07/04/2022 às 08h00min - Atualizada em 07/04/2022 às 08h00min

Bom Jardineiro

IVONE ASSIS
“Você é o resultado do que pensa” [As a man thinketh], esta frase do escritor e filósofo Britânico James Allen (1864–1912) nos leva a profundas reflexões. O autor não está a falar desse pensamento rápido que entra sem ser convidado e sai sem ser autorizado, não; o pensamento aqui é este que chamamos de planejamento. Ou seja, é o pensamento que fica martelando no juízo, e que nos leva a decisões.
 
Para James Allen “a mente do ser humano pode ser comparada com um jardim, que pode ser inteligentemente cultivada ou ser deixada sem cuidados; mas seja ela cultivada ou negligenciada, deve, e irá gerar resultados. Se nenhuma semente útil for cultivada, então sementes de ervas daninhas serão depositadas e irá produzir apenas mato. Somente um jardineiro cultiva seu destino, mantendo livre de mato, cultivando flores e frutos que ele necessita, então nós devemos cuidar do jardim de nossa mente, arrancando tudo o que é ruim, sem valor, e [eliminando] pensamentos impuros”, para que a vida seja direcionada para o melhor caminho. Não se trata de ter sorte ou azar, mas, sim, trata-se de escolhas.
 
Cada vez mais, pessoas, sobretudo, jovens, se “perdem”, todavia, ao colher seus depoimentos, notamos que buscam justificar seus erros, por meio de transferência de culpabilidade. Ora, cada qual têm suas angústias, independentemente do lugar onde vivem, portanto, primeiro é preciso fazer uma autoanálise, para, somente aí, chegar a uma resposta. Como escreve Allen, é preciso “cultivar na direção de aperfeiçoar as flores e os frutos corretos, [...] Buscando este processo, o ser humano, mais cedo ou mais tarde, descobrirá que ele é o mestre jardineiro de sua alma, o diretor de sua vida. Ele também revelará, dentro de si mesmo, as leis do pensamento, e compreenderá, com crescente clareza, como os pensamentos-força e elementos mentais operam na constituição de seu caráter, circunstâncias e destino”. Para se obter sucesso em qualquer seguimento social, basta investir na estrutura familiar. Nenhuma família quer ver seus filhos fracassarem.
 
Outro dia, uma mãe, ao ver seu filho ser preso, por algumas barbáries que ele desconhecia, aquela mãe acompanhou o filho até à delegacia, enquanto perguntava ao jovem: “Por que me fez passar por isso, filho? Veja como estou destruída”. E ajoelhando-se diante das vítimas, disse-lhe: “Perdão. Me perdoem”, como se a culpa fosse dela, e continuou: “Ele não foi criado assim. Essa não foi a educação que eu lhe dei”.
 
A pergunta que não se cala é: em que momento ele se perdeu? O Estado tem enorme responsabilidade sobre a maior parte das perdições, e esta responsabilidade surge quando a Educação, a Cultura, o Serviço Social e outros tantos falham. Cada vez mais cedo as crianças se perdem. Enquanto a família se desdobra para colocar comida na mesa, os filhos ficam à mercê dos pensamentos, que são facilmente influenciados. A vida é feita de trabalho e disciplina. A vida fantástica que a propaganda oferece só existe na ficção. A lei punitiva é para os pais, mas quem é que tem auxiliado essas famílias, que mal conseguem ver seus filhos, graças a carga horária de trabalho e de transporte público? Esse desmoronamento humano vem do desajuste psicológico e social, desassistido pelo Estado. Depois, esses filhos crescem, e ao constituírem suas famílias, a situação fica mais delicada porque não se dá o que não se tem.
 
Como escreveu o poeta alemão Friedrich Rückert: “Nossos dias são preciosos”, mas, melhor é quando, neles, encontramos o “deleite de um coração jardineiro, uma criança que estamos ensinando”. Alguns questionamentos podem se acender, especialmente, quando se tratar das possibilidades, da condição humana e psicológica, dos obstáculos... Enquanto uma solução mais plausível seja alcançada, o melhor a se fazer é administrar seus pensamentos, questionar-se, tomar chá de autoconsciência, e ser um bom jardineiro.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90