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31/03/2022 às 08h00min - Atualizada em 31/03/2022 às 08h00min

Para voltar a sorrir

IVONE ASSIS
O contador de histórias sempre existiu, mas, no final do século XX, ele ressurgiu com nova roupagem e, desta vez, veio sob o título de ofício. Profissional, este, que foi muitíssimo bem aceito nas escolas, nas mídias e na sociedade em geral. A partir daí, novas profissões também vieram acompanhando o Contador, como cursos de capacitação, especialmente para professores e bibliotecários escolares. Imagino que o surgimento desta categoria se deve ao novo comportamento familiar, em que os pais (ou os mais velhos) já não se assentam junto aos filhos (ou aos mais novos) para desfiar histórias. Ferramenta, esta, imprescindível para a formação humana.

De acordo com Edvânia Rodrigues, autora de “Cultura, arte e contação de histórias”, 2005: “A contação de histórias é atividade própria de incentivo à imaginação e o trânsito entre o fictício e o real. Ao preparar uma história para ser contada, tomamos a experiência do narrador e de cada personagem como nossa e ampliamos nossa experiência vivencial por meio da narrativa do autor. Os fatos, as cenas e os contextos são do plano do imaginário, mas os sentimentos e as emoções transcendem à ficção e se materializam na vida real (RODRIGUES, 2005, p.4)”.

Qual criança não se encanta diante de uma boa história? Os adultos também. Afinal, o ato de contar histórias é um modo de se repassar valores. Por meio das histórias, a vida ganha novos sentidos. Isso não só agrega valor social, como abre as portas para o profissional da contação e, sem dúvida, faz a alegria de quem ouve. Contar histórias é um processo de ensino-aprendizagem banhado no ludismo.

Afinal, é ouvindo histórias que se constrói o próprio acervo memorial, para se retransmitir os saberes no amanhã, com as emoções desenvolvidas, como alegria, raiva, medo, tristeza e outras tantas.

Para Gladis Barcellos e Iara Neves, autoras de “Hora do conto: da fantasia ao prazer de ler” (1995), contar histórias “educa sua atenção, desenvolve a linguagem oral e escrita, amplia seu vocabulário e, principalmente, aprende a procurar, nos livros, novas histórias para o seu entretenimento”.

Com base nesses ensinamentos sobre a contação de histórias, pego-me a refletir no trabalho de contação e teatro de Lenora Accioly, de Araguari-MG, que é apresentado em escolas, saraus, congressos, academias, rádios... Aliás, neste último, tive a alegria de participar, amadoramente, de um teatro interativo, em que foi repassada a “História do Imperador”, cuja mensagem é a germinação da boa semente, a importância da sinceridade.

Lenora Accioly, em seu texto “Inseparáveis contadores catadores” (2022, p. 33), escreve: “Acordem! Vamos agora procurar histórias quando todos estão dormindo [...]. Uma brincadeira, uma poesia, uma história encantada / Encantadora história. Realidade e fantasia vão se misturar. Vão transformar vidas / Ficção e ação / Transformação... / Contadores acordem! [...] Somos todas as vozes do mundo”. A autora convida o leitor a acordar, a vestir seu imaginário, empunhar a varinha mágica das histórias encantadas, e cumprir o seu papel de contador de histórias, pois somos, todos, pontes para transportar alegria e esperança.

Quando o contador faz uso de sua voz, ele também institui “um ato de comunicação que se distingue de outros atos da fala, principalmente, por sua função expressiva ou poética” (BUSATTO, 2005, p. 26). Trata-se de uma comunicação livre, cuja única regra é levar amor, respeito e alegria. A história é resistência. Esse “passatempo” pode ser esperança. Desse modo, seja profissional, seja amador, não se detenha no comodismo, em algum lugar há alguém aguardando a sua história, para voltar a sorrir.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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