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17/03/2022 às 08h00min - Atualizada em 17/03/2022 às 08h00min

Nada é para sempre

IVONE ASSIS
Nos últimos dias, o que mais se vê e se ouve falar são conflitos e narrativas de guerra. Estamos vivendo dias sombrios, mas isso vem desde que a humanidade surgiu. De algum modo, o “sujeito gente” tem necessidade de viver em constante disputa, e isso gera conflitos, e os conflitos promovem as narrativas. A literatura procura representar as vivências por meio de contos, poesias e outros escritos, também apresenta as especulações, os mistérios e o desvendar (ou não) dessas “aventuras”.

O escritor Arthur Conan Doyle, no século dezenove criou uma figura emblemática, em seus contos policiais, conhecida pela maioria, e mencionada até por quem nunca o leu, estou a falar do detetive Sherlock Holmes, tão difundido na literatura e no cinema. O gênero policial surgiu com o clássico escritor Edgar Alan Poe, cuja obra “Os assassinatos da rua Morgue”, 1841, é classificada como sendo o primeiro conto policial moderno. A partir daí são milhares de narrativas sobre crimes, mistérios e assassinatos, que passam a compor a literatura. Dentre esses Doyle se insere na temática com o objetivo de mostrar o processo utilizado para desvendar o caso, haja vista que, para ele, esta era uma parte enigmática, que deixava o leitor sempre no ar.

Para tanto, anos mais tarde, Doyle criou Sherlock Holmes e seu amigo John Watson, apresentado, inicialmente, na obra “Um estudo em vermelho”. Ao criar essa personagem, Doyle a dedicou a um professor seu, como forma de gratidão pela minúcia do ensino oferecido em suas aulas, e perspicácia observacional que ele tinha, cuja acuidade Doyle impregnou em Sherlock Holmes. Sherlock é um homem inteligente, e de raciocínio dedutivo eficiente. Watson é a personificação literária do próprio Doyle, cuja personagem é um médico que escreve similar ao seu autor. Desse modo, podemos entender Sherlock Holmes como sendo o Professor, e John Watson, o aluno, que se tornou autor. Esse último, ao ganhar o campo literário, se fundiu ao seu criador em uma emocionante trama de realidade e ficção.

De lá para cá, já se passou muito mais de um século e o detetive Sherlock continua na ativa, esclarecendo casos e mostrando as evidências. As obras vêm, de certo modo, apresentando as fontes em que o autor bebia durante seu processo de criação, o que serve de referência para aqueles que gostariam de se inserir no mundo da escrita ficcional. É como se Doyle dissesse que, para criar boas histórias literárias, basta olhar em seu entorno, detalhadamente.

Sherlock Holmes, esse personagem digno, ético e profissional, desvestido da figura de um herói, uma vez que ele carrega em si, praticamente, todas os atributos humanos, que abrangem fraquezas e desejos do ser, tais como a inquietação, a preguiça, o individualismo, o desejo de “chutar o balde” de vez em quando, mas, também impregna em si o desejo de realizar seus sonhos, e resolver as questões... enfim, tudo isso torna-o uma personagem mais interessante ainda. É como se a personagem dissesse, eu existo.

Na obra “As Aventuras de Sherlock Holmes”, no conto “O nobre solteiro”, Sherlock Holmes diz: “[...] sou uma pessoa que acredita que a loucura de um monarca e a idiotice de um Ministro em anos passados não evitará que nossos filhos sejam algum dia cidadãos do mesmo país debaixo de uma [mesma] bandeira”. Esta frase é perfeita, quando paramos para pensar, sobretudo, nas guerras e conflitos. A curta trajetória de um homem não permite que ele se eternize para usufruir de suas ambições, por isso, viver o presente em paz é a melhor opção, porque o presente é o único estágio que de fato existe, nesta etapa. Quem não aproveita o presente está jogando fora a oportunidade. É loucura pensar em imortalizar-se na história, cada governante que se levanta está interessado em construir o seu legado, para tanto, interessa-lhe apagar o legado anterior. Melhor é focar no bem viver do agora, pois nada é para sempre.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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