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12/02/2022 às 08h00min - Atualizada em 12/02/2022 às 08h00min

O Poder do Hábito

EDMAR PAZ JUNIOR
Recentemente publiquei um texto na coluna dissertando sobre o livro Originais, de Adam Grant. Somado à bagagem que carregamos em determinado momento, as leituras podem ser verdadeiras impulsionadoras de nossos objetivos ou até mesmo grandes auxiliares no clareamento de metas e propósitos que, muitas vezes, não sabemos ainda como definir ou que sequer saibamos que existam. Junto com Originais, o livro Foco, de Daniel Goleman, e O Poder do Hábito, de Charles Duhigg, formaram para mim uma ótima trinca de ensinamentos, que fez com que eu começasse a olhar os acontecimentos cotidianos de uma forma um pouco diferente. Não necessariamente somos determinados ou limitados pelas nossas escolhas e hábitos, mas somos em grande parte resultado deles. 

O autor explica como ocorre o processo de formação e efeito dos hábitos nos indivíduos, nas empresas e organizações bem sucedidas e nas sociedades em que vivemos. É bom entender como líderes podem moldar as sociedades e como, principalmente as empresas, formam e mantêm os hábitos das pessoas e dos seus clientes, inclusive para que possamos algumas vezes conseguir evitar cair em determinadas armadilhas publicitárias. Duhigg se expressa de maneira simples, porém de forma bem fundamentada, o que faz com que possamos visualizar e comparar situações que vivenciamos no nosso dia a dia.

É interessante e essencial aprender como os hábitos se instalam em nossas mentes e como funcionam. Na grande maioria das vezes só conseguimos mudar efetivamente aquilo que conhecemos e por mais que alguém consiga promover alguma mudança em um hábito, se não compreender a maneira como aconteceu, corre o sério risco de ver o que mudou voltar a ser o que era antes. Isso não significa que a pessoa não queira “melhorar”, mas sim que pelo fato de não possuir as ferramentas corretas para trabalhar e entender essa transformação, acaba-se por “perder” o que conquistou.

Uma das grandes vantagens de compreender como se dá esse processo, é a amplitude com que ele pode ser utilizado e, na verdade, tenho a pretensão de colocá-lo como primordial e elementar para qualquer processo de crescimento individual. Esse conjunto de ferramentas de mudança comportamental é a base para quem deseja buscar uma vida um pouco melhor. Explico: a grande mudança que todos esperamos que aconteça a qualquer momento começa primeiro em nós, com um passo de cada vez. Não existe uma mudança repentina, que vá mudar completamente tudo. Aliás, essa mudança pode até ocorrer, mas sem um caminho calcificado, sem uma preparação de “terreno”, logo cairá por terra. É semelhante a uma construção de uma casa, em que se o solo, a base, não está bem fundada, não sustentará a edificação.

Duhigg demonstra através de estudos, que o hábito segue uma sistemática relativamente simples, em forma de looping. Dividido em três fases, é composto pelo gatilho, pela rotina e pela recompensa. Sempre que um hábito entra em cena, é precedido de algo que o desperta, seja um movimento físico, uma música, um determinado horário ou até mesmo algum tipo de alimento, e logo depois pela recompensa que nosso cérebro recebe por ter realizado aquela rotina. Um dos exemplos que o autor apresenta pode se dar no trabalho: em algum momento do dia, nossa cabeça se sente “pesada”, gerando a deixa para o consumo de um doce, que se torna a rotina, tendo como recompensa ter comido algo gostoso e com isso a sensação de menos stress.

Com histórias de como Michael Phelps treinava e se preparava para as competições e como Martin Luther King Jr organizou os protestos da sociedade aos ônibus de Montgomery, Duhigg é bem assertivo no que quer transmitir. 

Outro exemplo muito bom foi sobre um time de futebol americano, o Tampa Bay Buccaneers. A franquia ia de mal a pior por vários anos seguidos, sem sequer conseguir chegar aos playoffs da liga. A contratação de um técnico experiente, Tony Dungy, foi de grande importância para o sucesso alcançado depois, mas o ponto principal foi o método utilizado por ele. O técnico era contrário aos esquemas de jogos em que o time apresentava uma variação de jogadas muito grande, ou seja, o repertório de possibilidades era extenso, de forma que os jogadores demoravam muito para tomar as decisões durante as jogadas. A cada lance, o jogador dos Buccanears esperava o movimento do adversário para pensar na melhor jogada, o que, com a grande lista de jogadas, o tornava lento, dando oportunidade para que o adversário se antecipasse ao movimento. O treinador acreditou durante anos que com os hábitos certos poderia fazer um time vencedor, e elaborou um esquema com poucas jogadas, o que fez com que os jogadores pudessem tomar decisões mais rápidas, aumentando a velocidade das jogadas e diminuindo as interceptações adversárias. Dungy explicava que “os campeões não fazem coisas extraordinárias. Fazem coisas ordinárias, mas fazem sem pensar, rápido demais para o outro time reagir. Seguem os hábitos que aprenderam”. O técnico utilizou o que Duhigg chama de a regra de ouro da mudança de hábito: mantém-se o velho gatilho e a velha recompensa, porém substitui-se a rotina. A consequência foi uma década de finais consecutivas e  um título de Super Bowl.

O intuito do livro é justamente apresentar os mecanismos de instalação dos hábitos, para que possamos moldá-los da forma que acharmos melhor. Se consigo identificar os gatilhos que despertam meus hábitos, é sinal de que posso “gerenciar” meu hábito. Assim, ao perceber quando se dá o gatilho, posso fazer com que meu cérebro reconheça e mude a rotina que eu quiser, sem necessariamente alterar a recompensa. Basicamente, funciona da seguinte maneira: como nosso “sistema” trabalha quase que de uma forma pré-determinada, ou melhor, como carregamos hábitos durante muitos anos, a ideia não consiste em tentar reprogramar absolutamente tudo, mas sim usar o que já estamos acostumados a fazer em nosso favor. Tentaremos uma mudança simples, a substituição de uma rotina por outra. Não é um processo fácil e que se consegue num estalar de dedos, mas garanto, funciona. 

Tenha sempre em mente que pequenos bons hábitos geram grandes conquistas.

O Poder do Hábito, Charles Duhigg. 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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